
domingo, janeiro 24, 2010
NAOMAR DE ALMEIDA FILHO
Becas, borlas e jabôs
FOLHA DE SÃO PAULO - 24/01/10
Becas, borlas e jabôs não garantem a excelência que justifica nossa existência. É preciso talento e produção acadêmica competente
NO INTRIGANTE ensaio "A Invenção das Tradições", Eric Hobsbawm mostra como se inventam tradições a partir de raízes históricas fictícias. Irônico, analisa rituais, brasões, corporações e até o saiote escocês. Curiosamente, esquece a mais legitimada matriz contemporânea de símbolos e signos culturais: a universidade.
Tradições universitárias têm sido inventadas e cultivadas no correr de quase dez séculos. Em se tratando de vestes rituais, são quatro linhagens.
A universidade escolástica mantém-se viva nas tradições clericais das universidades italianas e ibéricas. As vestes solenes das universidades ibéricas são ainda hoje negras e soturnas, recriando trajes das cortes mediterrâneas do século 17. Acompanham adornos indicadores de segmentos, nunca da universidade como um todo. Assim são as samarras, capuzes estilizados que não mais recobrem cabeças, que ostentam cores definidas para cada uma das faculdades.
A universidade britânica surgiu para a formação teológica da Igreja Anglicana. Chapéus ornamentados, capuchos, túnicas e capas coloridas são elementos identificadores de cada casa de ensino, mas não de escolas ou faculdades. Uma procissão acadêmica numa universidade anglo-saxã revela profusão de cores e formas, pois os docentes terão feito seu doutorado em diferentes instituições.
A universidade humboldtiana nasceu sob forte influência protestante, com raízes luteranas ou metodistas, sub-rogada pelo disciplinarismo prussiano. Nos seus trajes rituais, variados por universidades, e não por faculdades, predomina a cor cinza ou marrom. Agregam-se signos remanescentes do barroco alemão, introduzindo elementos como o arminho em semicapas que evocam uniformes militares.
A tradição francesa pouco valoriza a instituição universitária. A reforma bonapartista da educação concedeu às "grandes écoles" hierarquia mais elevada que à universidade. Por isso, na França, vestes talares levam ao extremo o domínio simbólico das faculdades, sob a forma de faixas, sobrepelizes, pelerines e adornos sobre uma beca negra, lisa ou plissada. O "jabeau", peitilho com rendas e brocados, encimado por gravatinha borboleta branca, moda entre os gentis-homens da "belle époque", completa o vestuário de gala acadêmica.
No Brasil, quando faculdades e escolas politécnicas foram fundadas no século 19, a influência francesa predominou como horizonte intelectual e estético. As primeiras instituições promovidas ao regime de universidade foram formadas pela unificação de faculdades.
Hoje, nas instituições universitárias brasileiras, a beca negra e lisa, com um tipo padrão de casquete quadrado com borla e jabô de renda bordada, predomina como veste talar para graduações, simulacro da tradição francesa.
Diferenciando os docentes, faixas, sobrepelizes e capinhas, estilizadas dos capuzes doutorais lusitanos, seguem a gramática de cores do contexto francês. Para distinguir o reitor, universidades brasileiras adotam uma cópia exata da samarra das faculdades conimbricenses, reinventada na cor branca. Com o branco, síntese de todas as cores, talvez se pretenda simbolizar o poder maior da reitoria sobre as faculdades e suas cores.
Recentemente, no Salão de Atos de Coimbra, os reitores das universidades brasileiras reuniram-se para fundar o Grupo Coimbra Brasil. Quase todos em suas becas pretas e samarras brancas, muitos com sobrepeliz de arminho, jabô, faixa, capelo ou borla. Aí descobriram que os reitores da Universidade de Coimbra, fonte de nossa tradição universitária, usam somente um conjunto de calças e jaqueta, negras e justas, pois despojam-se dos signos de suas faculdades ao assumir o cargo maior da instituição.
Temos aqui uma questão de duplo sentido: político e antropológico. A universidade brasileira continuará a se reconstruir como instituição de conhecimento. Para tanto, reforçaremos vínculos com universidades de outras linhagens que conosco compartilham os valores da civilização.
Mas isso não nos obriga a imitar suas tradições nem a criar, a partir delas, simulacros. Os que escolhem fazê-lo precisam saber a que remontam e o significado de rituais e vestes, sobretudo por seu impacto no imaginário social.
Becas, borlas e jabôs são apenas roupas que, em eventos solenes, representam pompa e tradição. Sozinhos, não garantem a excelência que justifica, à sociedade, nossa existência. Isso se conquista com talento, trabalho cotidiano e produção acadêmica competente.
NAOMAR DE ALMEIDA FILHO, 57, doutor em epidemiologia, pesquisador 1-A do CNPq, é reitor da UFBA (Universidade Federal da Bahia) e autor, com Boaventura de Sousa Santos, de "A Universidade do Século XXI: Para uma Universidade Nova" (Almedina, 2009).
PAINEL DA FOLHA
A convenção antecipada do PMDB de 6 de fevereiro servirá para reconduzir Michel Temer (SP) à presidência da sigla, mas, segundo seus próprios aliados, não será indicativo de alinhamento automático do partido à candidatura petista de Dilma Rousseff.
Embora ele saia fortalecido, a avaliação é que setores que concordaram em não criar problemas agora à sua aclamação vão insistir, na convenção de junho, na tese da chapa própria ou da "independência".
Os diretórios de Mato Grosso do Sul, Paraná, Santa Catarina, São Paulo, Acre, Pernambuco e Rio Grande do Sul têm resistências ao nome de Dilma. Além disso, todos eles têm dificuldades com arranjos regionais, outro fator que atrapalha o abraço com o PT.
Meteorologia. De um aliado de Temer sobre a decisão de antecipar a convenção: "É melhor resolver tudo enquanto ainda continuamos fortes".
Memória. O histórico, entretanto, é favorável ao grupo pró-aliança. Em 2002, a briga do PMDB chegou ao Supremo, quando o partido fez a convenção antes das prévias para impedir a candidatura de Roberto Requião (PR). Quatro anos depois, a direção da sigla repetiu a manobra com Anthony Garotinho (RJ).
Cenários. Uma ala do PT crê que a indicação de Antonio Palocci para coordenar a campanha de Dilma não anula o papel de Fernando Pimentel. O mineiro já dá sinais a aliados de que pode abandonar o embate com Patrus Ananias pela vaga ao governo.
Pano. Depois de uma semana de troca de ataques com o PT, a cúpula tucana estuda um recuo. O comando do partido avalia que é preciso baixar a poeira antes do retorno do Congresso, quando alguns dos seus parlamentares mais inflamados poderiam exagerar na dose. O tema será levado à reunião da Executiva.
Combinado 1. Na conversa de Lula com o ministro Carlos Lupi (Trabalho) não se avançou apenas na articulação para Ronaldo Lessa (PDT) concorrer ao governo de Alagoas. O presidente também pediu que Lupi convença Osmar Dias a oficializar logo sua candidatura no Paraná.
Combinado 2. O senador Álvaro Dias (PSDB) não esconde a irritação com a movimentação do prefeito de Curitiba, Beto Richa, para concorrer ao governo paranaense. A depender do desfecho, há quem enxergue uma janela para Álvaro se dedicar à campanha do irmão, Osmar.
Cifrado 1. Trecho do relatório final da Operação Castelo de Areia da Polícia Federal afirma que executivos da Camargo Corrêa -investigada por suspeita de evasão de divisas- tinham uma "forma peculiar" de códigos, todos com três letras, para identificar políticos, obras e partidos.
Cifrado 2. A tabela foi apreendida num dos computadores de Pietro Bianchi, diretor da construtora. "PPT", por exemplo, significava "PT Político". E "MIC" se referia a Miguel Colasuonno, atual diretor administrativo da Eletrobrás e presidente do conselho da Eletronuclear.
Latitudes. A PF também afirma ter recolhido documentos suspeitos sobre obras da empreiteira no exterior, como Peru, Panamá e Equador. Mas argumenta que os papéis não foram analisados "porque a Justiça brasileira carece de competência para investigar fatos ocorridos fora do território nacional".
Rédea. Balanço do Conselho Nacional do Ministério Público aponta aumento de 23% no número de processos da corregedoria. A maioria se refere a reclamações disciplinares.
Caixa. O deputado Aldo Rebelo (PC do B) vai lançar um livro no qual relata que a bilheteria de um jogo entre Palmeiras e Corinthians financiou a campanha do antigo PCB na eleição de 1945.
com LETÍCIA SANDER e MALU DELGADO
Tiroteio
"Lula já disputou cinco eleições e, de tão acostumado, ainda não entendeu que desta vez ele está fora."
Do deputado GUSTAVO FRUET (PSDB-PR), sobre a entrada de Lula no fogo cruzado entre petistas e tucanos, chamando o presidente do PSDB, Sérgio Guerra (PE), de "babaca".
CONTRAPONTO
Pré-pago
Ao final de uma visita a áreas inundadas pelas enchentes em Pindamonhangaba (SP), na semana passada, o senador Aloizio Mercadante (PT) pediu socorro ao prefeito da cidade, João Antônio Salgado Ribeiro (PPS), ao notar que o seu celular estava sem bateria e não havia telefone público disponível nas redondezas:
- Prefeito, preciso fazer uma ligação urgente para Brasília e estou sem bateria. Poderia me emprestar seu celular por alguns minutos?-, perguntou, sem jeito, o petista.
Ao que o prefeito devolveu sem nenhuma cerimônia:
- Perfeitamente, senador. Mas só uma coisinha: o aparelho está sem crédito...
RENATO JANINE RIBEIRO
Para quem não conhece o 'Estado'
O ESTADO DE SÃO PAULO - 24/01/10
Tenho lido, nas cartas de leitores a O Estado de S. Paulo e sobretudo nos comentários de internautas em sua página na web, observações de pessoas sem muita noção do que é este jornal. Usam expressões preconceituosas, carregadas de ódio pela esquerda (que chegam de chamar de "subversiva") e até de simpatia pela ditadura militar.
É preciso lembrar, a esses leitores e a todos os mais jovens, o papel do Estado durante a ditadura. Não é segredo que o jornal apoiou a deposição do presidente João Goulart. Não é segredo que, na sua oposição ao getulismo, projeto político que comandou a política brasileira de 1930 a 1964, o Estado acreditou na necessidade de um regime de exceção breve e eficaz.
Contudo, mesmo quem discorda dessa opção deve reconhecer que o Estado acreditava nela. Foi uma escolha de valores. Não foi uma adesão oportunista, como, por exemplo, a do governador de São Paulo em 1964. Por isso mesmo, tão logo o regime militar começou a adotar medidas das quais o jornal discordava, ele criticou-o. A história do Estado é a de um jornal que viveu na oposição mais tempo do que na situação.
Mais que isso. No fatídico 13 de dezembro de 1968 - quando já se esperava o anúncio da medida mais liberticida da História do Brasil, o Ato Institucional número 5 -, a edição do Estado foi apreendida por ordem do governo. Dela constava um editorial que ficaria célebre, Instituições em frangalhos, hoje disponível no site, que responsabilizava o marechal Costa e Silva, ditador da época, pela crise em que vivíamos. Tratava-o com respeito - "sua excelência" do começo ao fim -, mas não hesitava em chamar o regime de ditadura militar.
Esse confisco de uma edição não foi apenas simbólico. Nos anos que se seguiram, o Estado foi o diário brasileiro a amargar o mais longo período de censura prévia de nossa História. É digno de nota que se recusou a se autocensurar. Deixou bem separadas as posições do reprimido e do repressor. Nem café, diz a legenda, dava aos censores.
Também se recusou a substituir as matérias proibidas por outras, palatáveis. Como a censura não deixasse saírem em branco as colunas cortadas, publicou em seu lugar trechos de Os Lusíadas. Seu jornal irmão, o Jornal da Tarde, tratado com igual rudeza, colocava receitas de cozinha nas páginas censuradas. O engraçado, dizia-se, é que leitores distraídos do Jornal da Tarde teriam reclamado que as receitas não davam certo... Mas a grande maioria entendeu o que acontecia.
Com os ventos dos anos 70, o jornal mudou várias de suas opções antigas. Publicou uma histórica entrevista com Celso Furtado, o que talvez não fizesse 20 anos antes.
Tudo isso mostra uma honra que ninguém pode negar ao Estado: é um jornal que teve e tem convicções. Podemos discordar - ou não - de suas posições, mas ele jamais compactuou com a repressão, com a tortura, com a censura.
Hoje, se o jornal não apoia a Comissão da Verdade proposta no 3º Programa Nacional de Direitos Humanos, terá suas razões para isso. Eu, pessoalmente, defendo a apuração da verdade, para que todos os brasileiros saibamos o que aconteceu e para que a (má) História não se repita - só para isso.
Mas de uma coisa tenho certeza: as razões do Estado nada têm em comum com as daqueles que aplaudem a tortura, que ainda usam a palavra "comunista" como insulto contra todos os de quem discordam, que gostariam até mesmo de expulsá-los do País que é de todos nós.
Aqui está o recorte entre a democracia e a não-democracia. Aprendemos com a ditadura. Sabemos que ela é uma caixa de Pandora: quando se solta o demônio do autoritarismo, ele devasta. Isso ensina que é essencial termos liberdade para divergir. Nos anos 50 e 60, muitos achavam que a democracia era mero meio para valores mais importantes - para uns, a sociedade ocidental e cristã, para outros, a sociedade sem classes. Creio que o longo período de trevas ensinou, a quem o viveu, que a democracia não pode ser rifada em função de outros valores. A democracia não é meio. Ela é um fim em si, um valor fundamental.
O curioso é que, em que pese a absurda censura judicial que afeta esse jornal há meio ano, hoje não há mais nenhuma instância estatal que possa punir a expressão de opiniões. Isso é muito bom - e por isso mesmo soa tão chocante a ilegalidade que é a censura ao Estado.
Mas, voltando ao fim da repressão política pelo Estado brasileiro, isso não quer dizer que nossa sociedade tenha reconhecido o direito à divergência. Um espírito maniqueísta, opondo bem e mal, domina muitos cidadãos que falam sobre política, costumes e o que seja em nosso país.
Por incrível que pareça, nesse ponto o Estado brasileiro e suas instituições parecem mais adiantados que a sociedade. Comecei este artigo criticando opiniões de leitores e internautas, justamente porque eles condenam seus desafetos com mais rapidez do que faria qualquer tribunal, hoje, em nosso país.
Em outras palavras, a democracia por vezes está mais forte nas leis e nas instituições do que no povo do qual - segundo o artigo 1º de nossa Constituição - ela emana. Ela ainda é um texto, mais que uma prática. Mas palavras, com a força da lei ou a da imprensa, não são pouca coisa. Pode demorar, mas elas acabam surtindo efeito.
Disse Stendhal em 1817, ao saber da Revolução de Pernambuco (no seu único texto em que menciona o Brasil), que a liberdade é contagiosa. É como a peste e o único meio de acabar com ela, ironiza ele, é "lançar os pestíferos ao mar". Já sofremos essa tentativa de extermínio. Hoje, graças a quem se opôs à ditadura, vivemos a boa contaminação pela liberdade.
Renato Janine Ribeiro é professor titular de Ética e Filosofia Política da Universidade de São Paulo
E-mail: rjanine@usp.br
DORA KRAMER
Comitê central
O ESTADO DE SÃO PAULO - 24/01/10
Se a realização de uma reunião entre o presidente da República e seu ministério em uma das residências oficiais da Presidência, a Granja do Torto, em que dos 14 pontos abordados 12 são de caráter político-eleitoral, não é uso da máquina pública, difícil definir o que seja abuso de poder.
Decisões de governo propriamente ditas foram anunciadas duas: a alteração da previsão de crescimento do PIB de 5% para 5,2% e o anúncio lançamento do PAC 2 para fim de março. Nada que precisasse da moldura de uma reunião ministerial para ser dito.
Mas o cenário imponente foi usado ao molde da necessidade do presidente Luiz Inácio da Silva em exibir todo o seu peso como cabo eleitoral da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. Deu o recado: é o governo em ação.
E explicitou tarefas, uma a uma, à vontade como se estivesse no comitê central da campanha à própria sucessão.
No centro da mesa, rodeado de ministros, Lula avisou que quer mesmo uma eleição plebiscitária. Ponto um.
Ponto dois: afirmou que o lema será "quem sou eu contra quem és tu". Por "eu e tu" entenda-se Lula e Fernando Henrique Cardoso. Uma maneira de o presidente não apenas se aproveitar da situação desfavorável a FH nas pesquisas, mas principalmente de conferir ao governador José Serra o status de pupilo, procurando igualá-lo a Dilma.
Ponto três: insultou o presidente do PSDB, Sérgio Guerra, porque ele teve a ousadia de dizer que se seu partido ganhar a eleição vai acabar com essa história de chamar cronograma de obras de governo de PAC.
Ponto quatro: pediu a Dilma que faça uma campanha de alto nível.
Ponto cinco: orientou os ministros para que fiquem longe do tiroteio eleitoral.
Ponto seis: determinou a todos que tenham na ponta da língua dados para rebater os ataques da oposição.
Ponto sete: informou que Dilma fica no governo até 3 de abril e determinou aos demais ministros candidatos que façam o mesmo.
Ponto oito: informou que em breve vai conversar com Ciro Gomes sobre a candidatura dele a presidente.
Ponto nove: lembrou que o governo perdeu a eleição no Chile porque se dividiu.
Ponto 10: ordenou ao ministro da Fazenda e ao presidente do Banco Central que falem sobre dados que afetam a vida das pessoas e evitem a macroeconomia, tema de difícil entendimento para o eleitor médio.
Ponto 11: lançou o vice-presidente José Alencar candidato ao Senado por Minas.
Ponto 12: comunicou que Dilma continua estrela do PAC, mesmo no palanque.
Ponto final: se isso não é uso da máquina pública em prol de interesse particular, Deus nos livre do momento em que a coisa apertar e o abuso começar.
Voto obrigatório
Os males da burocracia e do sistema de voto obrigatório no Brasil se expressam com clareza no relato de um leitor que pede anonimato. Português, casado com brasileira, residente em uma capital nordestina e dependente de decisão judicial para assumir a vaga de professor de filosofia na rede estadual da Paraíba.
Ele passou no concurso público, foi chamado para assumir, mas perdeu a data da posse porque o Ministério da Justiça não emitiu a tempo ? no prazo de três meses ? a concessão de igualdade de direitos políticos, alegando problemas no sistema informatizado de emissão de portarias.
O cidadão deixou de votar em Portugal, e passou a ser eleitor no Brasil. Nem por isso conseguiu assumir a vaga conquistada. Sendo o voto obrigatório, o documento de condição eleitoral é determinante.
O professor recorreu à Justiça, ganhou, mas o Estado recorreu e agora aguarda a decisão em segunda instância.
Atualidade
Em setembro de 2008, o governador da Bahia, Jaques Wagner (PT), deu uma entrevista ao jornal Valor Econômico falando sobre a capacidade de transferência de votos que, na opinião dele, é relativa. Para qualquer político.
O governador partia do princípio de que as pesquisas não são lidas de maneira correta pela maioria. Segundo ele, quando elas dizem que para 60% das pessoas o apoio do presidente Lula é benéfico, isso quer dizer que o candidato dele tem sua vantagem aumentada naquele porcentual e não que seja potencialmente dono dos 60% das intenções de voto.
"Se o cara tem 1%, com o apoio de Lula terá 1,6%. Mas as pessoas querem ler assim: se o presidente Lula botar a mão eu saio de zero para 60%, o que não é verdade."
Segundo Jaques Wagner, o apoio conta, mas não define. Se o eleitor não gostar do candidato ele dirá: "Vai me desculpar, Lula, mas nesse aí eu não voto." Então, concluía o governador, "não funciona aquela ideia do "eu elejo um poste", não existe isso".
Não falava de Dilma nem de ninguém em particular. Era apenas a defesa de uma tese geral.
Férias
Cuidem direito da República. Até março.
JOSÉ SIMÃO
Buemba! Zé Mayer é o Pai Herói!
FOLHA DE SÃO PAULO - 24/01/10
E sabe por que a novela tem intervalo? Pra esfriar o pingolim do Zé Mayer! Rarará!
BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Direto do País da Piada Pronta! "Chão desaba em reunião dos Vigilantes do Peso". Rarará. Na Suécia. "Pensávamos que era terremoto." Tudo agora é terremoto e desabamento. Se você comer uma batata chips e fizer CRECK, sai todo mundo correndo. É o 2012 em ação!
"Forro do Cinemark no shopping Cidade Jardim desaba." Isso que é 3D! E qual o filme que tava passando? "Onde Vivem os Monstros"! A Terra treme! América Central treme, Argentina treme, Taiwan treme.
A Madonna esqueceu o vibrador ligado! E a comissão americana pro Haiti? Bush e Hillary Clinton. O Bush não sabe onde fica o Haiti! E sabe o que a Hilaria sugeriu pro premiê do Haiti? Toque de recolher. O quê? Recolher pra onde, cara pálida!
E vocês já viram uma pessoa com colesterol fazendo supermercado?
Gosto, mas não posso, gosto, mas não posso e POSSO, MAS NÃO GOSTO!
E a novela do Manoel Carlos devia se chamar "Morrer em Vida". Só desgraça! Ou então muda pra "Pai Herói". Em homenagem ao Zé Mayer, que é pai da novela toda. Já tem quatro filhos e duas grávidas. Eu também sou filho do Zé Mayer! E sabe por que a novela tem intervalo?
Pra esfriar o pingolim do Zé Mayer!
E adoro os depoimentos: "Minha mulher morreu afogada no Natal, mas aprendi com o sofrimento e hoje já superei, casei com outra com 20 a menos". "Nasci corintiano, nunca verei o Timão vencer a Libertadores, mas hoje já superei, virei são-paulino." Rarará.
Piada pronta: parque aquático tomado pela água em São Caetano! São Pedro e São Paulo não se bicam! Briga de santo! Sampa virou um parque aquático: o Aquassab! E o Aquassab disse que as obras contra os alagamentos estão surtindo efeito. EFEITO CASCATA! E a Sabesp cumpriu a promessa: água e esgoto na porta de casa. Abundantemente. E tudo misturado! E o filme do Lula? Já imaginou o filme do Lula em 3D? Aquele dedo cortado voando em nossa direção, vuuum, PÁ, direto no olho! E sabe o que o Lula fez pra bombar a bilheteria? Bolsa Pipoca! Você ganha um saco de pipoca e um santinho da Dilma autografado. Dentro do saco!
E mais um pra minha série "Os Predestinados". Sabe como se chama o biólogo que monitora os ovos da larva da dengue? OVANDO. Isso mesmo, doutor Ovando Provatti! E a boxeadora portuguesa de boxe feminino? Kina MALPARTIDA! E olha essa pichação: "Lucimar, te amo minha gata no cio, saudades dos peidos debaixo do lençol". Isso que é amor. Explosivo. Explosão de afeto! É mole? É mole, mas sobe. Nóis sofre, mas nóis goza. Hoje só amanhã!
ELIANE CANTANHÊDE
Galinho garnisé
FOLHA DE SÃO PAULO - 24/01/10
BRASÍLIA - Lula e Serra riem e discutem Palmeiras e Corinthians em público enquanto o PT e o PSDB se perdem em bate-bocas e bate-notas. É esse tipo de idiossincrasia, tão própria da política, que ocorre agora entre os governos Obama e Lula em torno do Haiti.
As curiosas relações Brasil-EUA também se revelam em dois planos: em Porto Príncipe, generais, coronéis e soldados brasileiros tentam disputar nacos da tragédia com os americanos, mas, em Brasília e em Washington, a conversa é outra.
No cenário de devastação, enfileiram-se bandeiras, tanques e sacolas com sardinha, sal e açúcar brasileiros, numa competição insana com os superaviões e os navios-hospitais da potência. Raia o ridículo.
Mas, no conforto da diplomacia, os dois países tentam articular uma parceria humanitária no Haiti para acertar o passo.
Obama, Hillary e Bill Clinton dão prioridade ao Haiti. Veem ali a chance de suavizar a imagem dos EUA, tão endurecida pelas guerras à revelia da ONU e sob pretextos inacreditavelmente forjados -como na invasão do Iraque.
Já o Brasil assumiu o comando da Minustah (força da ONU no Haiti) para se habilitar a voos altos internacionais e habilitar o seu Exército para voos rasos na violência urbana. Com o terremoto, Lula, Jobim e Amorim -que passou por Porto Príncipe a caminho da reunião dos "amigos do Haiti", amanhã, no Canadá- têm a opção de disputar ou de somar com os EUA; perder contra eles ou ganhar com eles.
A primeira é infantil e suicida, porque bater de frente com os gigantescos recursos norte-americanos é reduzir o Brasil a uma formiguinha a mais na ajuda humanitária. A segunda é adulta e consequente, porque atuar em parceria com os EUA no Haiti significa projeção de liderança regional e alavanca para alianças futuras que sobrevivam a terremotos e marolas.
É pegar ou largar, enquanto seu Obama não vem.
MERVAL PEREIRA
A nova classe
O GLOBO - 24/01/10
A forte participação do PT e de sindicalistas, especialmente os ligados à CUT, na máquina pública federal, analisada no livro “A elite dirigente do governo Lula”, da cientista política Maria Celina D’Araujo, com a colaboração de Camila Lameirão, não está limitada apenas aos cargos de confiança do serviço público, mas se espalha até a direção dos maiores fundos de pensão do país.
A análise da composição da diretoria executiva e do conselho fiscal dos três maiores fundos de pensão — Previ (Banco do Brasil), Petros (Petrobras) e Funcef (Caixa Econômica Federal) no segundo governo de Fernando Henrique Cardoso e nos dois de Lula — mostra uma presença constante e, praticamente na mesma intensidade, de petistas nos cargos de comando desses fundos.
O que confirma que o PT e os sindicatos passaram a lidar com o tema de forma mais profissional a partir dos anos 1990, para ocupar parte significativa desse campo de direção.
A Previ, o maior fundo de pensão do Brasil, tinha, em dezembro de 2008, 175.995 participantes, e seus investimentos eram da ordem de R$ 116,7 bilhões.
A Petros, o segundo maior fundo de pensão brasileiro, em novembro de 2008 tinha 128 mil participantes e patrimônio em torno de R$ 39,2 bilhões.
A Fundação dos Economiários Federais, a Funcef, no fim de 2008 tinha patrimônio ativo superior a R$ 34 bilhões, e o número de participantes chegava a mais de 100 mil.
Entre 1999-2008, o trabalho catalogou 39 dos 51 dirigentes da Previ, 23 de um total de 28 da Petros, e 24 para um conjunto de 34 da Funcef, num total de 86 dirigentes, sendo que apenas dez eram mulheres.
Analisando a presença de filiados a partidos entre os nomeados em cada um dos três governos, o estudo constatou que, no segundo mandato de Fernando Henrique, 20,6% (7 das 34 pessoas) eram filiados a partidos, enquanto nos dois governos de Lula os percentuais são de 24,3% (9 das 37 pessoas) e 20% (3 das 15 pessoas), respectivamente. Todos do PT.
O estudo mostra que a filiação a partidos, embora significativa, não é tão expressiva quanto a vinculação com sindicatos. Durante o segundo mandato de FHC, das 34 pessoas identificadas como ocupantes de cargos na diretoria executiva e no conselho fiscal dos três fundos, 14 eram sindicalizadas, ou seja, 41,2%.
No primeiro governo Lula temos 37 pessoas nomeadas, e o percentual sobe para 51,3%. No segundo há 15 pessoas indicadas e, delas, 66,6% são sindicalizadas. A presença sindical cresce expressivamente com a posse de Lula, e aumenta no seu segundo governo.
Através de diferentes fontes de informação, os pesquisadores conseguiram apurar dados sobre filiação partidária e sindical do grupo de 86 pessoas entre os 113 nomeados a partir de 1999.
Quanto a partidos, as taxas de filiação são semelhantes às encontradas entre os 505 ocupantes de DAS, cargos de confiança no serviço público. Para estes foi encontrado um índice de 24,7% de filiados, enquanto entre os 86 dirigentes de fundo de pensão chegouse a 22,1%.
O percentual de dirigentes filiados a partidos em cada um desses fundos varia de 17% a 21%, e todos são filiados ao PT. Entre eles, a maior parte (oito) cabe à Previ. Os dados sobre filiação a sindicatos mostram números um pouco superiores aos da amostra de 505 DAS dos dois governos Lula.
Nessa amostra, a filiação era de 40,8%, e entre os dirigentes dos fundos de pensão é maior que 50% nos casos da Previ e da Petros. A Funcef apresenta o menor índice de sindicalizados, ou seja, apenas dez das 24 pessoas ali identificadas, cerca de 40%.
Comparando-se a sindicalização e a filiação a partidos, a superposição não é tão marcante quanto a verificada na amostra de DAS, que é de 39,3%. Embora metade desses dirigentes tenha filiação sindical, apenas 15 pertencem ao mesmo tempo a um sindicato e ao PT, o que significa que, entre os 86 dirigentes em questão, cerca de 17,5% são sindicalizados e filiados ao PT.
O trabalho de Maria Celina D’Araujo, realizado quando ela era pesquisadora do Cpdoc da Fundação Getulio Vargas, no Rio, mostra que o PT e os sindicatos brasileiros, de início arredios em participar dessa atividade, caracterizada como engrenagem do “capitalismo financeiro global”, começaram a pregar a necessidade de uma mudança de postura.
O próprio Lula, no início do primeiro governo, afirmava que o movimento operário precisava compreender o papel dos fundos de pensão.
Segundo a cientista política Maria Aparecida Jardim, já em 1996, a Abrapp (Associação Brasileira das Entidades de Previdência Privada) aproximou-se de importantes lideranças do PT por meio dos sindicatos dos Metalúrgicos e dos Bancários de São Paulo.
O livro não trata disso, mas os sindicalistas que passaram a controlar esses fundos de pensão foram chamados de “a nova classe” pelo sociólogo Chico Oliveira, fundador do PT e hoje um dissidente.
Sob a teorização de que o controle dos fundos de pensão era necessário para criar “uma nova solidariedade” e o “capitalismo popular”, o que se vê é uma briga de foice entre grupos sindicalistas para controlar os grandes negócios em que os fundos estão metidos.
Entre os maiores, se destaca o Previ do Banco do Brasil, que tem participação em 70 empresas e direito a indicar nada menos que 285 conselheiros.
Quem o preside desde o início do governo Lula é o ex-trotskista Sérgio Rosa, oriundo da Confederação Nacional dos Bancários.
Membros do governo Lula oriundos do sindicalismo bancário e do movimento trotskista, como os ex-ministros Luiz Gushiken e Ricardo Berzoini, presidente do PT, têm grande influência.
Um exemplo dos grandes negócios dos fundos de pensão dominados pelos sindicalistas é a fusão das telefônicas Brasil Telecom e Telemar na nova Oi, que colocou em posições contrárias o então todo poderoso chefe da Casa Civil, José Dirceu, contra Luiz Gushiken, com o banqueiro Daniel Dantas no meio da disputa.
ELIO GASPARI
O Big Brother diz que vem para o bem
FOLHA DE SÃO PAULO - 24/01/10
Uma ideia para se rastrear a internet naufragou na Inglaterra, mudou de alma e chegou ao Brasil CHEGOU AO BRASIL a oferta de uma tecnologia de rastreamento de navegações pela internet capaz de mexer simultaneamente com a estrutura do mercado publicitário, com o alcance dos seus serviços e com a privacidade da clientela.
Atualmente, é comum o rastreamento dos endereços por onde navega uma pessoa. O Google rastreia as pesquisas que lhe são pedidas e com isso seleciona os anúncios que coloca em suas barras laterais. No ano passado, faturou mais de US$ 20 bilhões vendendo publicidade.
A publicidade direcionada é o sonho de receita de todas as empresas do universo da internet. Alguém quer anunciar uma pousada na Paraíba para casais com crianças pequenas, hábitos caros e gosto por windsurf? O rastreador coloca seus anúncios nas páginas de pessoas que navegam no mundo do luxo, dos esportes radicais e no comércio de brinquedos ou videogames. O anunciante, por sua vez, paga de acordo com o número de cliques que sua propaganda atraiu.
O novo Big Brother chega com quatro notícias. Uma ruim, três boas. Primeiro a ruim: a iniciativa é oferecida pela empresa Phorm, que em 2007 meteu-se numa tenebrosa transação na Inglaterra. Fez uma sociedade com a British Telecom e, sem aviso, rastreou o movimento dos internautas da operadora. Apanhados, desmancharam o negócio.
Agora, as boas notícias. As empresas de telefonia envolvidas na negociação garantem que a conversa parte de três clausulas pétreas. A saber:
1)O rastreador não guardará no seu banco os sítios frequentados pelo freguês, muito menos sua identidade pessoal. Ele traçará o perfil do cliente seguindo seu rastro, mas jogará fora as pegadas.
2)As operadoras de celulares que vendem serviços de internet não misturarão seus cadastros eletrônicos com os dados telefônicos da freguesia. Eles refinariam o perfil dos usuários, mas xeretariam a vida alheia.
3) Só será rastreado quem quiser, enquanto quiser. A Phorm e a BT tentaram enganar a clientela e ganharam um formidável adversário, Tim Barners-Lee, o cientista que, em 1989, teve a ideia de criar um troço chamado "world wide web", o popular www.
Berners-Lee sustenta que o rastreamento deve ser uma escolha exclusiva do consumidor. Como o negócio é muito bom, as empresas podem oferecer incentivos para quem quiser ser rastreado. Criou-se no mercado a mistificação segundo a qual é dada ao freguês a opção de sair do serviço, obrigando-o a cumprir um breve calvário. Essa postura é arrogante. Não se oferece uma coisa a uma pessoa exigindo que ela se manifeste caso não a deseje. É justo o contrário, quem quer leva, quem não quer passa.
TEMPORÃO VIVE ENTRE PINDORAMA E PANDORA
A repórter Fabiane Leite descobriu que o doutor José Gomes Temporão opera em duas bandas, uma no Brasil, outra em Pandora, a terra dos Na'vi do filme "Avatar".
Em junho, o ministro da Saúde anunciou o lançamento de um glorioso "Sistema Eletrônico de Ressarcimento ao SUS" para cobrar das operadoras dos planos de saúde aquilo que a rede pública gasta no atendimento de seus clientes. O Ministério da Saúde informou que o mecanismo de cobrança "foi totalmente informatizado, permitindo maior agilidade do processo de cobrança e pagamento". "Foi" nada. Oito meses depois, é apenas uma encrenca de papel que promete funcionar em abril.
Poderia ser apenas um efeito especial, oferecendo a Pindorama a poesia de Pandora. Era coisa pior. O antigo sistema de cobrança, bichado desde 2006, está fora do ar desde janeiro de 2009.
Ganha seis ingressos para "Avatar" quem decifrar o mistério: Temporão vive com os Na'vi e às vezes vem ao Brasil, ou vive em Pindorama com os óculos que o mantêm nas matas de Pandora?
ELETROSURINAME
A AES Eletropaulo está em busca de algum prêmio internacional de descaso. Em menos de um mês, interrompeu três vezes o fornecimento de energia numa região situada a um quarteirão da avenida Paulista. Dois apagões, um dos quais com seis horas de duração, sem aviso prévio. As operadoras de telefonia compensam esse tipo de falha descontando os dias parados. Como a Aneel é uma mãe para as concessionárias, não ocorre a ninguém obrigá-las a ressarcir o prejuízo que provocam.
NATASHA & EREMILDO
Madame Natasha e Eremildo, o Idiota, juntaram-se para preservar a memória da peripatética visita do ministro da Defesa, Nelson Jobim, ao Haiti. Quando o marechal Montgomery, com uma boina na cabeça, comandava sua tropa na batalha de El Alamein, seu sonho era ficar parecido com Jobim. Ao desembarcar em Brasília, menos de 60 horas depois do terremoto, Jobim trazia sua nova: "Desaparecido é o termo técnico para corpos não encontrados" (...) "Evidente que nesse momento a palavra "desaparecido" funciona como um eufemismo". Madame Natasha acredita que ele quis dizer o seguinte: "Quem não apareceu está morto". Diante disso, Eremildo contou à senhora que, depois da revelação de Jobim, cerca de cem mortos ressuscitaram em Porto Príncipe.
Eremildo tuitou sua galera convocando-a para uma passeata que irá da porta do Ministério da Defesa à Embaixada dos Estados Unidos, protestando contra o que Jobim chamou de "assistencialismo unilateral" dos americanos. Eremildo exige a imediata retirada das tropas americanas do Haiti, substituindo-as pelo multilaterismo laringológico de Jobim, Hugo Chávez e Evo Morales.
NEGÓCIO NA TORRE
Pelo andar da carruagem, o projeto da torre que a Eletrobrás pretende construir na Lapa será entregue a um arquiteto amigo de alguém ou de uma empreiteira amiga de todo$.
Resta pedir ao governador Gomes Freire de Andrade (1685-1763), em cuja administração foram construídos os arcos, que vele pela cidade. Ele era mau, mandava torturar quem fazia moeda falsa, e está por perto, no convento de Santa Teresa.
HARVARD NA FAVELA
Treze estudantes de arquitetura e urbanismo da Universidade Harvard produziram uma joia para o estudo das favelas nas grandes cidades brasileiras. Eles baixaram na comunidade de Cantinho do Céu (30 mil habitantes), localizada à beira da represa Billings, fornecedora de água para São Paulo.
Ajudados pela Secretaria Municipal de Habitação, trabalharam 14 semanas no estudo da Cantinho, visitando-a por quatro dias. Livre de demofobia, a equipe projetou dez iniciativas que resultaram no livro "Operações Táticas na Cidade Informal". Cantinho do Céu se espalha por seis quilômetros de orla e é cortada por linhas de transmissão de que ocupam uma área desabitada de 40 hectares.
As propostas dos jovens parecem sonhadoras mas, quando dão certo, mudam a cultura de uma cidade. Propõem a criação de áreas sociais, como um calçadão na orla, e o enterramento das linhas de alta tensão, com a abertura de um novo espaço urbano. Percebe-se a inteligência da garotada quando se vê que eles não escreveram a palavra "polícia".
LUIS FERNANDO VERISSIMO
É um trabalho à prova de contradições.
Cameron confia tanto no poder embasbacador do seu filme que não se dá o trabalho de entrar em detalhes. Nunca se fica sabendo o que os habitantes de Pandora e os avatares respiram através daqueles narizes achatados, já que oxigênio não é. E nunca fica claro por que o tal mineral “unobtainium” é tão importante para os invasores terrenos, a ponto de justificar o massacre dos nativos. Como o mineral não é identificado, fica-se autorizado a substituir “unobtainium” por “petróleo” para reforçar a analogia anti-imperialista. E para não haver dúvidas, no filme há uma rápida referência a outra invasão americana quando alguém compara a tática que será usada contra a resistência nativa ao choque e espanto, “shock and awe”, nome dado às primeiras operações no Iraque. Os vilões do filme não são exatamente as forças armadas
americanas, são mercenários pagos por empresários predadores para fazer seu trabalho sujo. Os vilões são a estupidez de uns e a ganância dos outros. Vilões conhecidos. Fora a tecnologia sofisticada, diz o filme, o século 23 repete o século 20. Pensando bem, repete todos os séculos de conquistas imperiais desde o 16º.
Jake Sully, o avatar que adere à resistência nativa e acaba liderando-a, é um herói também à antiga. Não falta, na sua exortação ao seu novo povo, o punho levantado e a frase dessa fiadora “Esta terra é nossa”. Só faltou, mesmo, dizer “O unobtainium é nosso!”.
O que eu achei do filme? Achei sensacional.
CLÁUDIO HUMBERTO
PRESIDENTE LULA, CORINTIANO, GOZANDO COM O GOVERNADOR JOSÉ SERRA (SP), PALMEIRENSE
DILMA CHAMARÁ DUDA PARA NOVA REUNIÃO
A pré-candidata do PT à Presidência da República, ministra Dilma Rousseff, decidiu convidar o marqueteiro Duda Mendonça, que fez a campanha presidencial de Lula em 2002, para uma nova reunião, nos próximos dias, a fim de definir a eventual participação dele em sua campanha. Os dois já conversaram, e ela ficou impressionada e muito confiante no próprio desempenho, na campanha eleitoral deste ano.
VELHO CONHECIDO
Dilma conhece Duda desde os tempos de ministra de Minas e Energia: ele criou e campanha e a denominação do programa “Luz para todos”.
CRISE NO PT
A aproximação entre Dilma e Duda Mendonça gerou uma crise na campanha dela. O marqueteiro do PT, João Santana, ameaça cair fora.
EXPECTATIVA
Dilma deverá decidir logo quem será seu marqueteiro: Duda e João Santana são muito requisitados e já têm inúmeros outros convites.
ACERTADO
Os tucanos não gostam dele, mas Luiz Gonzáles, que fez a campanha de Geraldo Alckmin, deverá ser o marqueteiro de José Serra.
SENADO SUBSTITUI POLICIAIS EM SINDICÂNCIA
O Senado recuou da decisão de designar cinco policiais legislativos para a Comissão de Sindicância criada para investigar servidores da Casa que passariam informações a jornalistas. A lista agora só tem três servidores: um analista, um técnico legislativo e o advogado Asael Souza, o que conduziu processo administrativo contra o ex-diretor João Carlos Zoghbi, afastado do Senado.
PENA É DEMISSÃO
Os “infratores” no Senado poderão até ser demitidos, segundo a Lei 8.112/90: “revelar segredo do qual se apropriou em razão do cargo”.
DELATORES NA BERLINDA
O Senado informou que alterou os investigadores porque o objetivo não é dar um caráter “policialesco” à sindicância. Quer apurar os fatos.
MALETAS DE ESCUTA
A Polícia do Senado teria autorização para gravar telefonemas e rastrear e-mails sem autorização judicial. O Senado nega.
SUPERSTIÇÃO
Fontes do governo atribuem à primeira-dama a ausência de Lula em tragédias como enchentes em Angra a Santa Catarina, acidente do Airbus da TAM etc. “Ela acha que dá azar”, revela um ministro.
AJOELHOU...
O DF tem 123 igrejas católicas e 4.700 templos evangélicos com sua montanha de eleitores. Daí o “fervor” da reza dos deputados do mensalão do DEM, exibida na TV pela Durval Barbosa Productions.
THE BOOK IS ON THE TABLE
Com sua ambição de, após o mandato, correr o mundo representando o Brasil, Lula já pode ir treinando a tradução do palavreado. Mèrde, na língua de seu amigo Sarkozy e asshole, ou babaca, na de Obama.
OUVIDO SAUDÁVEL
Entre as 6,3 milhões de ligações recebidas pela Ouvidoria do Ministério da Saúde em 2009, os temas mais recorrente são doenças e orientações em saúde (27,5%). O segundo tema mais frequente é o fumo (22,6%) e em terceiro a gripe suína, com 8,8% das ligações.
SEM CHANCES...
O ex-governador de Alagoas Ronaldo Lessa (PDT) quer voltar ao cargo e tenta o amparo de políticos como Renan Calheiros (PMDB). Lessa teria dificuldades de registrar a candidatura se vigorasse a lei da “ficha limpa”.
...E COM FICHA
Ronaldo Lessa foi condenado por abuso de poder no TSE, teve bens bloqueados e, só em uma ação a que responde, o Ministério Público pede de volta R$ 52 milhões para educação que teriam sido desviados.
OS DESAFINADOS
Amanhã (25) é o Dia Nacional da Bossa Nova, produto da prodigiosa imaginação e fértil labuta de nossos parlamentares. Quem vai levar o banquinho e o violão para o Congresso?
MÃOS À OBRA
A senadora petista Ideli Salvatti deu uma forcinha ao deputado federal Cláudio Vignati (PT-SC): R$ 5,1 milhões da Caixa para construção de uma ponte em Gaspar. Vignatti é candidato ao Senado.
PENSANDO BEM...
depois de “merda” e “babaca”, o presidente Lula é candidato imbatível ao próximo BBB.
PODER SEM PUDOR
O SANTO NOME EM VÃO
Certa vez, a campanha para prefeito de Pirassununga (SP) pegou fogo. No programa eleitoral, o prefeito Fausto Vitorelli (PTB) comparou o sofrimento do seu candidato ao da mãe de Jesus. No dia seguinte, o deputado Nelson Marquezzeli (PTB), que apoiava outro, apareceu com uma bíblia nas mãos:
– Li e reli a Bíblia. Não encontrei nenhuma passagem que tenha qualquer relação com o sofrimento do candidato do prefeito...?
Fez uma pausa e concluiu:
– ...só se for onde está escrito que Cristo foi crucificado entre dois ladrões.
DOMINGO NOS JORNAIS
- Globo: Asfalto é ruim ou péssimo em 98% das ruas do Rio
- Folha: SP investiga 800 delegados
- Estadão: Haiti encerra buscas e reconstrução é incerta
- JB: Muitos cartões, uma só máquina
- Correio: Nomes de nossos heróis para haitianos
sábado, janeiro 23, 2010
CELSO MING
A república dos coroas
O Estado de S. Paulo - 23/01/2010 |
O rápido envelhecimento da população mundial não se limitará a provocar o deslocamento da curva etária. Produzirá enormes consequências, algumas delas, imprevisíveis. (A propósito do assunto, veja o Confira.) Em 1959, o geneticista russo Dimitri Belyaev tratou de domesticar raposas selvagens. Do seu plantel, apenas as mais mansas eram destinadas à reprodução. Depois de 30 gerações, elas não só estavam domesticadas, como também apresentaram impressionantes mudanças secundárias: a pelagem cinzenta foi trocada pela malhada em preto e branco, as orelhas antes pontudas caíram como as de um cão labrador, a cauda deixou de ter a ponta virada para cima e as fêmeas passaram a entrar no cio duas vezes por ano, em vez de apenas uma. Mudanças de proporções semelhantes devem ocorrer com o forte envelhecimento da população. Nos anos 50, um cinquentão já era considerado idoso. Hoje, espera-se de um septuagenário que continue forte, cada vez mais moço e fora do clube da bengala. Uma sociedade de coroas tende a empurrar o jogo político para o conservadorismo. E isso tem tudo para não se limitar à ideologia. Pode trabalhar para empurrar as brasas da sociedade para a sardinha dos mais velhos. A enorme resistência a reformas na Previdência Social do Brasil, por exemplo, pode estar refletindo um movimento em direção à adoção de um perfil gerontocrático de governo. Numa sociedade em que os mais velhos resistirão a largar o osso, os jovens talvez tenham de se preparar melhor para competir pelos melhores postos no mercado de trabalho e da política. Mudanças significativas podem acontecer no mercado financeiro e, especialmente, na administração do patrimônio. Os fundos de pensão, que passaram os últimos 40 anos comprando (em termos líquidos) títulos, ações e imóveis e, assim, inflando os preços dos ativos, passarão a desfazer-se de suas posições para financiar aposentadorias. Isso pode provocar efeito oposto, pode derrubar os preços dos ativos. O impacto dessa desova sobre as aposentadorias complementares pode ter consequências mais sérias do que hoje vem sendo admitido pelos técnicos. O perfil da saúde pública também deverá refletir essas transformações. A sociedade estará mais sujeita a doenças degenerativas do que a doenças infecciosas e contará com mais geriatras do que pediatras. Os planos de saúde do Brasil não parecem preparados para essa nova realidade, mas vão puxando rapidamente as contribuições dos associados acima de 60 anos. A mensalidade de um plano top classe A hoje já oscila em torno de R$ 7 mil, porque tem de prever mais internações, mais uso de UTI, mais tecnologia e mais assistência em casa (home care). Cresce o número de maiores de 60 anos que moram sozinhos. Hoje eles são 14% (estimativa da ONU). Essa é uma tendência que poderá acelerar projetos mais adequados de imóveis e serviços para pessoas da terceira idade. E o governo deverá cuidar de construir mais casas de repouso do que creches e escolas. Mas isso pode não ser tudo. Assim como mudaram a pelagem, as orelhas, a cauda e a vida sexual das raposas de Belyaev, uma sociedade de coroas pode provocar transformações secundárias inesperadas. |
CESAR BENJAMIN
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"O BANCO Central Independente (BCI) é um mau sistema para os que acreditam na liberdade, pois dá imenso poder a poucos homens, sem que o corpo político exerça sobre eles nenhum controle efetivo. | ||
CESAR BENJAMIN, 55, editor da Editora Contraponto e doutor honoris causa da Universidade Bicentenária de Aragua (Venezuela), é autor de "Bom Combate" (Contraponto, 2006). Escreve aos sábados, a cada 15 dias, nesta coluna. cesarben@uol.com.br |
EDITORIAL - O GLOBO
Atentado ao futuro
o globo - 23/01/10
O Brasil tem uma economia de números majestosos.
Com assento no festejado grupo de emergentes Bric — em que se incluem Rússia, Índia e China —, considerado em alguns levantamentos já o 8oparque produtivo do mundo, à frente de Espanha e Canadá, o país, porém, ostenta um deplorável quadro social, com destaque para a marginalização da juventude. Vale dizer, o Brasil destroça o futuro no presente.
Não importa que o assunto seja conhecido, pois, pela sua gravidade, precisa ser abordado sempre. Até porque recente estudo do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), divulgado há poucos dias, trouxe novos dados sobre o resultado da histórica leniência do poder público diante da juventude.
Alguns indicadores: de 1987 a 2007, a taxa de desemprego na faixa dos 16 aos 20 anos passou de 7% para mais de 20%; entre 21 e 29 anos, o salto foi de 5% para 11%. Em 2007, havia 4,8 milhões de jovens desempregados, 60,74% do contingente total das pessoas à margem do mercado de trabalho. Entendese por que a criminalidade conta com amplo exército de reserva de mão de obra à disposição. E também por que a taxa de homicídios é tão mais elevada entre jovens. Uma das causas básicas dessa tragédia social é a má qualidade do ensino público básico, incapaz de manter o jovem na sala de aula. O problema é um dos consensos nacionais, mas que precisa ser enfrentado com mais recursos e apoio do poder público como um todo, principalmente na esfera federal.
Do total de jovens em 2007, quase 20% não estudavam nem trabalhavam, uma medida da evasão escolar.
O Ipea identifica na falta de coordenação nas políticas públicas voltadas à juventude uma dificuldade específica.
Assim, o Brasil desperdiça o “bônus demográfico”, denominação dada à vantagem de que conta um país quando sua população jovem começa a se tornar produtiva e passa a impulsionar o desenvolvimento.
Por óbvio, trata-se de uma vantagem que se esvai com o tempo.
O Orçamento da União reflete o grave erro histórico do governo.
Basta alinhar itens desmesuradamente inflados de despesas: folha dos servidores e benefícios previdenciários/ assistencialismo. O futuro não é prioritário para Brasília, mais atenta ao imediatismo do calendário eleitoral.
J. R. GUZZO
REVISTA VEJA
J. R. Guzzo
Trem fantasma
"O lado escuro dessa maneira de governar é o incentivo
permanente à oferta de propostas que batem de frente
com a democracia. É o que há de melhor, como receita
para promover a incerteza"
Os governos brasileiros, como se pode comprovar facilmente pela comparação entre o que dizem e o que fazem, acumularam ao longo dos anos uma vasta experiência em não cumprir compromissos. É triste, claro, mas, quando se olha com um pouco mais de frieza para a questão, não é tão triste como parece, e frequentemente chega até a ser bom. O motivo é simples: boa parte do que se promete é tão ruim, mas tão ruim, que acaba sendo uma alegria, no fundo, quando se descobre que o vendedor não vai entregar a mercadoria que vendeu. O atual governo é um excelente exemplo disso. Se tivesse feito tudo, ou a maior parte, do que já anunciou que queria fazer nestes últimos sete anos, o país estaria hoje navegando em pleno nevoeiro, com mar bravo e fazendo água na proa, na popa e a meia-nau. Ainda bem que não fez; por uma combinação de incompetência, preguiça e ruindade na hora de executar, pouco saiu do papel. É o que se espera que aconteça mais uma vez, agora com esse incomparável "Programa Nacional de Direitos Humanos", ou PNDH-3, na linguagem de bula de remédio com o qual foi batizado, que o governo criou por decreto no fim de dezembro e do qual já começou a correr.
Começou a correr, é lógico, onde costuma se assustar mais depressa – ao ver que as Forças Armadas não gostaram da parte reservada a elas no PNDH-3, onde se previa a criação de uma "Comissão Nacional da Verdade" para apurar crimes cometidos por servidores dos órgãos de repressão durante a ditadura militar. Não houve nenhuma grande surpresa nisso, pois para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que assinou o decreto, tanto faz se vai ou não vai haver apuração; a única coisa que lhe importa, na vida real, é saber se a decisão final é ou não é do seu interesse. Pode até errar de cálculo e acabar optando por algo que em vez de ajudar o prejudica, mas a ideia-chave é se dar bem em tudo. No caso, achou que se daria melhor anulando o que havia acabado de assinar sobre a comissão; ela reencarnou, conforme amplamente divulgado, com a nova e prodigiosa missão de examinar violações de direitos humanos ocorridas no Brasil desde 1946 até 1988, de qualquer natureza e de qualquer autoria. Como o presidente da República pode esperar que alguém leve a sério uma coisa dessas? Não pode, mas também não está preocupado com isso. O que ele queria era se livrar do incômodo que estava causando aos militares. Aparentemente, conseguiu. (Quem sabe agora, finalmente, se consiga descobrir quem matou Dana de Teffé. É um caso claro de violação de direitos humanos; além disso, conforme sustenta há anos o cronista Carlos Heitor Cony, é fato bem sabido que enquanto não se descobrir quem matou Dana de Teffé, ou pelo menos onde estão os seus ossos, o Brasil não vai tomar jeito.)
O mais interessante, no episódio todo, é a tranquilidade com que o presidente vai levando adiante a sua balada. O decreto que assinou é coisa de sanatório? Sua desculpa é que assinou sem ler; são previstas nesse trem fantasma mais de 500 decisões, que para ser executadas exigiriam uma nova Constituição ou um golpe de estado, mas ele diz que não leu nada. Isso ou aquilo deu problema? É só mudar o que foi escrito e anunciar que o caso está "superado"; agir assim, no entender do presidente, é uma forma superior de esperteza política. Na verdade, há um método nisso tudo. Lula é indiferente ao projeto de revolução ao qual se dedicam tantos de seus subordinados – que sonham em desenhar para o Brasil um regime "popular" baseado em "mecanismos de democracia direta", no qual ficam dispensados de inconvenientes como eleições, votações no Congresso ou decisões contrárias da Justiça. O presidente deixa que se entretenham com isso; sabe quanto é bom, para todos eles, poderem viver o papel de revolucionários com risco zero, sem ter de fugir da polícia e no conforto de cargos em comissão, com carro oficial e cartão de crédito corporativo. Em compensação, sempre que manda para o lixo alguma de suas ideias, espera que lhe digam "sim, senhor". É o que acaba de ouvir, mais uma vez.
O lado escuro dessa maneira de governar é o incentivo permanente à oferta de propostas que batem de frente com a democracia. Elas podem não ir adiante, mas estão sendo escritas por funcionários do governo, recebem apoio oficial e acabam, como no caso desse PNDH-3, incluídas num decreto que o presidente assina e que, agora, terá de ser combatido ponto por ponto para não se transformar em realidade. É o que há de melhor, como receita para promover a incerteza.