Atentado ao futuro
o globo - 23/01/10
O Brasil tem uma economia de números majestosos.
Com assento no festejado grupo de emergentes Bric — em que se incluem Rússia, Índia e China —, considerado em alguns levantamentos já o 8oparque produtivo do mundo, à frente de Espanha e Canadá, o país, porém, ostenta um deplorável quadro social, com destaque para a marginalização da juventude. Vale dizer, o Brasil destroça o futuro no presente.
Não importa que o assunto seja conhecido, pois, pela sua gravidade, precisa ser abordado sempre. Até porque recente estudo do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), divulgado há poucos dias, trouxe novos dados sobre o resultado da histórica leniência do poder público diante da juventude.
Alguns indicadores: de 1987 a 2007, a taxa de desemprego na faixa dos 16 aos 20 anos passou de 7% para mais de 20%; entre 21 e 29 anos, o salto foi de 5% para 11%. Em 2007, havia 4,8 milhões de jovens desempregados, 60,74% do contingente total das pessoas à margem do mercado de trabalho. Entendese por que a criminalidade conta com amplo exército de reserva de mão de obra à disposição. E também por que a taxa de homicídios é tão mais elevada entre jovens. Uma das causas básicas dessa tragédia social é a má qualidade do ensino público básico, incapaz de manter o jovem na sala de aula. O problema é um dos consensos nacionais, mas que precisa ser enfrentado com mais recursos e apoio do poder público como um todo, principalmente na esfera federal.
Do total de jovens em 2007, quase 20% não estudavam nem trabalhavam, uma medida da evasão escolar.
O Ipea identifica na falta de coordenação nas políticas públicas voltadas à juventude uma dificuldade específica.
Assim, o Brasil desperdiça o “bônus demográfico”, denominação dada à vantagem de que conta um país quando sua população jovem começa a se tornar produtiva e passa a impulsionar o desenvolvimento.
Por óbvio, trata-se de uma vantagem que se esvai com o tempo.
O Orçamento da União reflete o grave erro histórico do governo.
Basta alinhar itens desmesuradamente inflados de despesas: folha dos servidores e benefícios previdenciários/ assistencialismo. O futuro não é prioritário para Brasília, mais atenta ao imediatismo do calendário eleitoral.
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