Pesquisas científicas e estudos sobre a Gripe Espanhola nos EUA derrubam bandeiras do presidente
O aumento de intensidade da dinâmica da crise reforça traços negativos da personalidade do presidente, como uma convicção extrema mesmo que os fatos estejam contra ela. Se Bolsonaro conseguisse absorver novas informações a partir da observação e da constatação de que cometeu equívocos, e se corrigisse, como a maioria das pessoas, seria um ganho enorme para todos. A fixação, por exemplo, que ultrapassa a teimosia e se aproxima da obsessão, no suposto efeito benéfico da substância hidroxicloroquina para o enfrentamento da Covid-19, já teria sido deixada para trás caso o presidente desse atenção aos diversos estudos científicos já divulgados que afastam esta possibilidade.
Outro assunto que oblitera a capacidade de Bolsonaro de absorver opiniões em contrário é o isolamento social. Desde março, quando começaram a ser registradas oficialmente no Brasil as primeiras vítimas do vírus Sars-CoV-2, Bolsonaro teria tido tempo de não apenas se informar sobre os efeitos do “isolamento social horizontal” — para todos, exceto trabalhadores de setores essenciais — e do “vertical” — apenas para os grupos de risco, como ele deseja. Saberia, por experiência concreta de outros países, que em epidemias o isolamento ao extremo das pessoas é vital para conter a disseminação do vírus. Por um motivo fácil de entender: para que os sistemas de saúde tenham condições de se preparar para atender os contaminados.
Mesmo que o número de infectados venha a ser o mesmo no final da epidemia, todos poderão ser atendidos, o que significará um número menor de mortos. Ao passar ontem pelo cercadinho da claque bolsonarista na saída do Alvorada, Bolsonaro repetiu o mantra: defendeu a cloroquina e desfiou um aterrorizante discurso contra o isolamento social adotado por governadores, a serem provavelmente seguidos por lockdowns (bloqueios). O presidente previu mortes pela fome, devido à suposta liquefação do sistema produtivo, provocada por este combate à epidemia. Em uma live com empresários, o presidente adotou o mesmo tom, chegando a falar em “guerra”.
Também aqui, Bolsonaro se recusa a aprender com cientistas e a História. Estudo bastante citado de economistas do Banco Central americano, Fed, do BC de Nova York e do Massachusetts Institute of Technology (MIT), Sergio Correa, Stephan Luck e Emil Verner, prova que, entre 43 cidades americanas, as que adotaram o isolamento social amplo na Gripe Espanhola (1917/18) recuperaram suas atividades de maneira mais rápida e consistente.
Outra fantasia bolsonarista é a forma com que a Suécia enfrentou o coronavírus. Bolsonaro elogia o país. Não se informou dos efeitos do isolamento frouxo da Suécia: morrem bem mais suecos do que vizinhos nórdicos. O índice de mortes por Covid por milhão de habitantes da Dinamarca está entre 50 e 100; e os da Finlândia e Noruega, abaixo de 50. Os três países praticam lockdowns. Na Suécia, acima de 300, o que tem prejudicado os negócios, ao contrário do que acha Bolsonaro. Só a ideologia pode explicar tanta desinformação.
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