segunda-feira, abril 27, 2020

Loucos do futebol - MAURO CEZAR PEREIRA

ESTADÃO - 27/04

Gestão financeira dos times no Brasil parece reunir pessoas insanas


Estão por ser publicados nesta semana os balanços de 2020 dos clubes de futebol do país. O prazo termina na quinta-feira, 30 de abril, mas até sexta passada, entre os 20 da Série A, apenas Bahia, Flamengo, Fortaleza e Grêmio haviam publicado os seus.

São relatórios detalhados que mostram o “raio X”, ou a “ressonância magnética” das finanças dessas agremiações em 31 de dezembro do ano passado. E quatro meses depois, o cenário é pior.

Claro, a pandemia do novo coronavírus paralisou o futebol e os empurrou para um abismo econômico, com estagnação absoluta em alguns casos, devido à falta de jogos e, consequentemente, receitas. Direitos de transmissão de TV tiveram pagamentos adiados, patrocinadores recuaram, suspenderam ou pediram prazos para quitar o que devem pagar, sócios-torcedores pedem cancelamento e as despesas continuam, não cessam, de jeito algum.

O balanço do Corinthians é um dos mais aguardados. Isso porque desde a volta do time à primeira divisão, em 2009, o endividamento alvinegro cresceu 627,5%. E na atual gestão, do presidente Andrés Sanchez, eleito em fevereiro de 2018, tais cifras dispararam, saindo de R$ 435,8 milhões em dezembro de 2017, no final do mandato do antecessor, Roberto de Andrade, para R$ 626,2 milhões em junho do ano passado. Um salto incrível.

Importante frisar que as finanças do Corinthians no que se refere aos demonstrativos financeiros não incluem a Arena de Itaquera, que é gerida por um fundo e não integra o balanço do clube. E nesse período, na atual gestão, nenhum grande craque foi contratado. Título? Dois Estaduais. Os investimentos mais pesados em valores, jogadores caros, caíram depois de 2015, embora em alguns momentos muitas contratações tenham sido feitas.

A dívida do Corinthians aumentou R$ 190,4 milhões em um ano e meio, ou seja, depois de todo 2018 e metade de 2019, ela foi ampliada em cifras beirando duas centenas de milhões de reais. Onde terá parado no final de 2019? Como o estádio tem um custo que ninguém consegue precisar, mas que já há algum tempo estima-se em mais de R$ 1,5 bilhão, não será surpreendente se chegarmos à conclusão que o clube deve perto de R$ 2 bilhões.

A Arena não aparece no balanço, mas drena receitas do Corinthians, que não pode destinar parte da receita gerada pelas rendas de seus jogos para pagamento de salários e outras despesas regulares. O que entra ali, vai para o fundo, mas sequer consegue cobrir todo o custo da obra na zona leste de São Paulo, que saltou para valores estratosféricos quando transformada em palco da abertura da Copa do Mundo de 2014.

Em Minas Gerais, o Atlético passou um domingo de medo. O time treinado pelo argentino Jorge Sampaoli corre o risco de perder três pontos no Campeonato Brasileiro por causa de uma dívida na Fifa, devido ao não pagamento do meia-atacante Maicosuel, adquirido em maio de 2014 junto à Udinese. Foi a centésima contratação do presidente da época, Alexandre Kalil, atual prefeito de Belo Horizonte.

Sérgio Sette Câmara, atual mandatário, separou o dinheiro para quitar a pendência. Para isso, atrasou salários do elenco. Mas a moeda europeia disparou nos últimos dias e os reais reservados deixaram se ser suficientes para cobrir os 2,177 milhões de euros. Estão faltando cerca de R$ 3,4 milhões. Vale lembrar que na última década Corinthians e Atlético ganharam Libertadores, Brasileiros, Copa do Brasil, mas a que custo? Roteiro que tem semelhanças com o do Cruzeiro, encalacrado e na Série B.

A gestão financeira no Brasil parece reunir os loucos do futebol.

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