Há uma originalidade suicida no governo de Jair Bolsonaro. A ação do presidente é desconstrutiva. Ele já não se preocupa em maneirar. Executa com afinco a missão inconsciente de desnudar-se. Transforma o Ministério da Justiça e a Polícia Federal em puxadinhos da família Bolsonaro. É como se desejasse desvendar os crimes denunciados por Sergio Moro, cometendo-os.
Para a pasta da Justiça, Bolsonaro escolheu o atual secretário-geral da Presidência, Jorge Oliveira. Trata-se de um grande amigo. É major aposentado da Polícia Militar de Brasília. Convive com a família desde garoto, pois seu pai, o capitão do Exército Jorge Francisco, trabalhou por duas décadas com o então deputado Bolsonaro.
Jorge Oliveira foi, ele próprio, assessor parlamentar de Bolsonaro. Trabalhou também como chefe de gabinete do deputado Eduardo Bolsonaro, o Zero Três, de quem se tornou padrinho de casamento. É formado em Direito. Mas não vai à pasta da Justiça por ser grande advogado. Ascende ao cargo por ser um advogado genial aos olhos do inquilino da Presidência. Pode não ser um ás em jurisprudência. Mas entende de conveniência.
Para a função de diretor-geral da Polícia Federal, Bolsonaro escolheu o chefe da Agência Brasileira de Inteligência, delegado Alexandre Ramagem. Na campanha de 2018, coordenou a equipe de segurança do então candidato Bolsonaro. A despeito da facada, caiu nas graças de Bolsonaro e de sua dinastia.
Ramagem achegou-se aos três membros do clã Bolsonaro que exercem mandatos eletivos: o deputado Eduardo, o senador Flávio e, sobretudo, o vereador "federal" Carlos. Todos são fustigados por investigações da PF. Flávio, por causa da rachadinha. Eduardo e Carlos, por conta da suposta industrialização de notícias falsas e de ataques a rivais nas redes sociais.
Neste domingo, Bolsonaro foi questionado por um internauta nas redes sociais sobre a escolha de um amigo dos filhos para comandar a PF. Respondeu: "E daí?" É como se o presidente, de passagem pelo Planalto, criasse uma monarquia particular, coroando-se. Está no comando Dom Bolsonaro 1º, o Absoluto.
Como se sabe, há dois tipos de monarquia: as absolutas e as constitucionais. Bolsonaro optou pela monarquia absoluta. O absolutismo lhe pareceu mais conveniente porque, nesse modelo, o soberano não deve nada a ninguém. Muito menos explicações.
O desprezo pelos métodos clássicos de acobertamento faz de Bolsonaro um político atípico. Ele expõe seu desatino pelo excesso. De erro em erro, Bolsonaro vai se convertendo num avanço institucional. Ele deixa pelo caminho as pistas para que os investigadores concluam que, na monarquia de Bolsonaro 1º, reina a desfaçatez.
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