Maturidade em política independe da idade, mas é requisito fundamental
Na polarização extremada e muitas vezes irracional que tomou conta da política brasileira há várias virtudes em falta no mercado, do bom senso à tolerância, mas talvez uma das mais escassas seja a maturidade. Na mesma velocidade com que se radicalizou, o debate ganhou contornos infantis que tornam constrangedora a tarefa de analisar alguns acontecimentos.
Eleita aos 25 anos com 264 mil votos, a sexta maior votação de São Paulo, a deputada federal Tabata Amaral (PDT) foi execrada nas redes sociais por ter se encontrado com o governador do Estado, João Doria Jr., e aceitado – vejam só que heresia! – tirar uma foto, ainda por cima sorrindo, ao seu lado.
Os ataques vieram tanto da esquerda presa ao mantra do “Lula Livre” como de setores da nova direita incomodados pelo fato de o perfil moderado da deputada encontrar adesão em parte do público que apoiou os movimentos de rua pró-impeachment de Dilma Rousseff.
E eis o grande pecado de Tabata, uma jovem pobre que se formou em Harvard e, mesmo estando em um partido de centro-esquerda, dialoga e recebe apoio de movimentos como RenovaBR e Acredito: ela é difícil de rotular dentro das etiquetas reducionistas em voga no momento atual da política brasileira.
Aos 25, Tabata demonstrou mais maturidade que muitos políticos mais velhos ao encarar a gritaria com naturalidade e, com paciência, explicar o que deveria ser óbvio: como política eleita, ela tem como obrigação dialogar (eita palavrinha maldita nos dias de hoje) com o governador do seu Estado e tentar alocar recursos para a área na qual escolheu focar seu mandato, a Educação.
Busquemos outro caso que dominou o noticiário nas últimas semanas, com maior estridência na última: os pitis de Carlos Bolsonaro contra o vice-presidente da República e os militares, ecoando as diatribes do guru Olavo de Carvalho.
Carlos é político por delegação paterna desde os 17 anos. Há 18 anos, portanto, exerce um mandato como vereador na Câmara Municipal do Rio de Janeiro. Número 2 de uma dinastia de políticos comandada pelo hoje presidente da República, apesar de toda essa bagagem encara política como uma refrega entre turmas rivais da quinta série. Juntando a picardia juvenil com doses cavalares de paranoia e uma sintaxe de difícil compreensão, faz das redes sociais – suas e não raro as do pai-presidente – palco para uma incessante fustigação do general escolhido por Jair Bolsonaro para governar com ele por quatro anos.
Não amadureceu, o número 2, mesmo obrigado pelo pai a entrar na política ainda tão jovem.
Outro que entrou na política muito jovem foi o presidente da Câmara, Rodrigo Maia. Filho do então prefeito Cesar Maia, foi por muito tempo eclipsado pelo estilo fulgurante do pai, contrário a sua patente timidez.
Desde que, ungido pela circunstância da queda de Eduardo Cunha, ascendeu à presidência da Câmara, no entanto, Maia parece ter encontrado um trilho próprio de atuação e discurso: liberal na economia, moderado na política, um contraponto à própria pregação bolsonarista estridente.
Tem sido a voz mais lúcida na defesa da política como único caminho de mediação num País heterogêneo social e economicamente como o Brasil, e vai conseguindo amalgamar em torno de si um centro que levou uma surra nas eleições dos dois lados do extremismo histérico e encontra dificuldade em reencontrar um eixo.
Maturidade independe de idade, como se vê diante de exemplos de diferentes gerações de jovens políticos brasileiros. Mas nunca foi um requisito tão fundamental para evitar que o País continue perdendo tempo que deveria ser destinado a tirá-lo do buraco, mas é gasto em infantilidades diárias praticadas e vomitadas nas redes sociais, do Planalto ao STF.
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