ESTADÃO - 21/09
Petrobrás promete operar mais enxuta, com metas realistas e mais concentradas no seu núcleo de atividade
A Petrobrás divulgou seu Plano Estratégico cujos focos são aumento da segurança e redução do endividamento.
É avanço importante da administração renovada, que começou com Aldemir Bendine e vem sendo aprofundada com Pedro Parente.
A empresa vai operar mais enxuta, com metas realistas e mais concentradas no seu núcleo de atividade (core business), que é exploração e produção de petróleo e gás. É por isso que anunciou a desistência de áreas de interesse secundário, como as dos biocombustíveis, petroquímica, distribuição de gás e produção de fertilizantes.
Os investimentos previstos para o período 2017-21, com cortes de 25% no programa anterior, são agora de US$ 74,1 bilhões. A dívida líquida deverá cair dos atuais 430% de sua capacidade de geração de caixa para 150%, em 2018.
O objetivo é garantir a recuperação da empresa que foi sistematicamente saqueada ao longo de administrações anteriores e dar previsibilidade a seus negócios.
Mas não podem ser ignoradas as incertezas que ainda persistem. A primeira delas, já tratada aqui na Coluna desta terça-feira, tem a ver com a política de preços dos derivados. Nesta terça-feira, o presidente Parente fez uma afirmação um tanto vaga, de que os preços internos têm como referência os vigentes no mercado internacional. E o diretor de Refino e Gás Natural, Jorge Celestino, avisou que qualquer alteração de preços é decisão apenas da Petrobrás, e não do governo. Essa afirmação de Celestino é xerox das que foram feitas em 2013 e 2014 pelo então ministro da Fazenda, Guido Mantega, que, no entanto, não fez outra coisa senão achatar os preços dos derivados no mercado interno. Se o objetivo é obter parcerias e sociedades nas refinarias, então é necessário mais transparência nas regras desse jogo e garantias de que não mudarão. Hoje, por exemplo, a referência não são os preços internacionais, como ficou dito. Os preços internos estão cerca de 20% a 30% mais altos do que os externos. A simples intenção da atual administração de colocar-se a salvo de interferências do acionista majoritário, por si só, não garante que a Petrobrás esteja vacinada contra nova deterioração do caixa por uma política condenável de preços do governo.
O segundo fator de incertezas para as finanças da Petrobrás são os processos contra a empresa que correm nos Estados Unidos e na Europa, em consequência do atropelamento dos direitos dos acionistas minoritários produzido por diretorias anteriores. A indenização a que pode ser condenada a Petrobrás conta-se em dezenas de bilhões de dólares, sem que um centavo sequer tenha sido provisionado para enfrentá-la.
A terceira fonte de incertezas é a Operação Lava Jato que a qualquer momento pode revelar novos lances da sistemática predação do patrimônio e das finanças da Petrobrás. E, se isso acontecer, serão inevitáveis novas baixas contábeis (impairments).
Independentemente dessas incertezas e de eventuais outras aqui não mencionadas, está sendo dado grande passo não apenas para o saneamento financeiro da Petrobrás, mas, também, para o crescimento em bases sustentáveis de todo o setor de petróleo e gás no Brasil.
CONFIRA:
A curva acima dá uma boa noção da velocidade com que se recupera o nível de confiança do empresário industrial do Brasil. Em setembro foi registrado o quinto aumento consecutivo. Não é, ainda, garantia de recuperação da atividade econômica, mas é bom sinal de que está próxima.
Questão de ponto de vista
Para o presidente da Petrobrás, Pedro Parente, o Plano Estratégico apresentado nesta terça-feira contém “boa dose de ousadia”. O diretor da Área Financeira, Ivan Monteiro, preferiu dizer que se trata de um “programa conservador”.
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