ESTADÃO -27/07
Em meio às expectativas, o Banco Central avisa que, antes de baixar os juros, é preciso tempo
O Banco Central (BC), presidido por Ilan Goldfajn, não faz questão de posar como superpoder nacional. Reconhece suas limitações e condiciona a baixa de juros a alguns fatores que, em última análise, determinam o ritmo da queda da inflação.
As duas condicionantes mais importantes são o sucesso do governo no controle das contas públicas e o sucesso do próprio Banco Central em conduzir as expectativas.
É o que se pode deduzir da leitura da nova Ata do Copom, mais enxuta, mais clara e mais despida de “coponês” do que as até agora redigidas. É mais um avanço da proposta de dar prioridade à transparência e à comunicação com o mercado e com os fazedores de preços.
Na administração do Banco Central do período Dilma, as questões fiscais (que dizem respeito à administração das contas públicas) eram enorme tabu. Nesse particular, o BC de então pouco se interessava em passar seu recado ao público. Limitava-se a não constranger o ministro da Fazenda, Guido Mantega, que refugava qualquer crítica ao pedaço da administração sob sua responsabilidade, especialmente se viesse da instituição. E saíam as coisas mais estapafúrdias, como se nada houvesse de errado com as finanças públicas, a ponto de acabarem elas por não produzir inflação – diziam os documentos oficiais da autoridade monetária –, como se houvesse público disposto a engolir esquisitices dessa ordem.
Agora, o Banco Central adverte que a trajetória da inflação e dos juros depende de que o governo arranque deste Congresso gastador a aprovação para o Projeto de Emenda da Constituição (PEC) que proíbe reajustes das despesas acima da inflação: “A continuidade dos esforços para aprovação e implementação dos ajuste na economia, notadamente no que diz respeito a reformas fiscais, é fundamental para facilitar e reduzir o custo do processo de desinflação”, diz o parágrafo 16.
A outra condicionante tem a ver com a eficácia da capacidade (e obrigação) do Banco Central de administrar as expectativas daqueles que formam os preços da economia. Pelos levantamentos semanais realizados pela Pesquisa Focus, também do BC, ficou claro até agora que o mercado espera mais inflação do que está nos radares do Banco Central. E essa particularidade mostra duas coisas: que o mercado ainda não vem confiando inteiramente na autoridade monetária e que o Banco Central teme que essa adesão insatisfatória se torne, por si só, fator de inflação, na medida em que acione os mecanismos de reajuste automáticos de preços (indexação).
Isto posto, o Banco Central avisa que, antes de baixar os juros, tem de dar um tempo, tanto para avaliar melhor a capacidade do governo Temer de impor sua política fiscal aos políticos quanto para que o mercado aumente seu grau de confiança no próprio BC.
Quanto a este último ponto é preciso ter em conta que a atual administração não tem mais do que sete semanas de atuação. Apenas iniciou seu processo de conquista de corações e mentes. É normal que o mercado, ainda ressabiado com as lambanças da administração anterior, precise de tempo para confiar.
CONFIRA
Foto: Infográficos Estadão
Aí está a evolução do rombo das contas externas (déficit em conta corrente) medido pelo tamanho do PIB.
Contrapeso
O saldo negativo em conta corrente em junho foi maior do que o esperado em cerca de US$ 1 bilhão. Isso mostra que a nova valorização do real (baixa do dólar) começa a trabalhar pelo aumento (ou pela não redução) do déficit. Outra observação: a entrada de dólares pela conta financeira (aplicações em renda fixa) continua negativa. Ou seja, os juros altos continuam tendo pouca influência relativa na entrada de capital especulativo.
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