A luta contra o doping nos esportes, a exemplo da guerra contra as drogas, já está perdida. A cada Olimpíada, vemos mais e mais histórias de uso de substâncias proscritas, apesar dos crescentes esforços das agências de controle. Se antes as suspeitas de uso generalizado recaíam apenas sobre categorias específicas como o ciclismo, agora já atingem países inteiros.
Como explica John Hoberman em seu "Testosterone Dreams" (sonhos de testosterona), a contradição entre a necessidade de sempre quebrar novos recordes e o veto à ajuda farmacológica para fazê-lo é inafastável. Os argumentos por trás da ideologia antidoping —drogas fazem mal à saúde e dão ao competidor que as utiliza uma vantagem indevida sobre os demais— não vão muito longe.
Para manter-se fiel a essa lógica, drogas que melhoram a performance, mas não causam efeitos adversos importantes deveriam ser liberadas. Só que há várias dezenas delas nas listas de substâncias proibidas no esporte. De modo análogo, se todos os atletas de uma competição decidissem tomar a mesma droga, seu uso seria justo. Até onde se sabe, competidores não têm autonomia para fazer isso sem sofrer sanções. No fundo, o movimento antidoping se assenta mais num sentimento moralista, que busca uma suposta pureza no esporte, do que em bases racionais.
Para Hoberman, a questão do doping suscita uma discussão mais ampla sobre o papel da medicina e seu arsenal farmacológico. No modelo mais tradicional, médicos devem limitar-se a preservar ou restaurar funções normais do organismo que foram perdidas. No paradigma mais libertário, é o paciente que determina o que é problema para ele e, orientado pelo médico, define a que tipo de intervenção vai se submeter.
Pessoalmente, defendo o modelo mais centrado na autonomia. É o que vem avançando nas sociedades ocidentais, embora o pessoal do esporte ainda se agarre ao primeiro.
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