O banco de fomento ajudou pessoas próximas a Lula e tinha um diretor apadrinhado por Dilma Rousseff para cobrar propinas ao PT. entenda como isso sugou bilhões de reais de seus cofres
"Vale alegria: o pecuarista José Carlos Bumlai, preso pela PF, conseguiu quase R$ 500 milhões do BNDES e não pagou pelo empréstimos"
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) é o mais recente elo de fraude, corrupção e desvios de recursos públicos descoberto pela Operação Lava Jato. Até aqui, o envolvimento do banco de fomento aparecia de forma indireta em todo o esquema que envolveu as empresas estatais. A ligação era com os empréstimos concedidos a pessoas próximas ao ex-presidente Lula, como o pecuarista José Carlos Bumlai. Entre dezembro de 2008 e março de 2009, ele conseguiu a liberação de quase R$ 500 milhões para suas usinas de cana-de-açúcar, que estavam à beira da falência.
O pecuarista deveria ter pago o financiamento no final de 2010, mas não honrou o compromisso. O BNDES, que estava absorvendo o prejuízo, só começou a cobrar as garantias de Bumlai após a divulgação do trabalho da Polícia Federal (PF) e do Ministério Público, há dois anos. Na semana passada, um extenso documento mostrou que os privilégios não estavam restritos apenas aos amigos de Lula. O BNDES também fez parte do esquema montado pelo Partido dos Trabalhadores (PT) para aparelhar as empresas estatais.
O ex-diretor Guilherme Narciso de Lacerda, indicado pela presidente afastada Dilma Rousseff, é acusado de ser o responsável pela cobrança de propinas dentro do banco de fomento. Um relatório de 375 páginas da PF mostrou como Lacerda agia em favor do PT. Filiado à legenda e ligado a Luiz Gushiken (falecido em 2013) e José Dirceu, Lacerda fez parte da equipe de economistas que escreveu o plano de governo de Lula nas eleições presidenciais de 1989 e 1994. Quando Lula foi eleito, em 2002, ele foi colocado na presidência do Funcef, o fundo de pensão dos funcionários da Caixa, onde acumula uma extensa lista de serviços prestados.
Como diretor de infraestrutura social, meio ambiente, agropecuária e inclusão social do BNDES, Lacerda fazia cobranças diretas aos executivos, principalmente de repasses não realizados para o PT. Em mensagens trocadas, em 2012, com Otávio Azevedo, então presidente da construtora Andrade Gutierrez, ele pede explicações sobre o atraso nos depósitos, que não foram identificados pelo tesoureiro da legenda, João Vaccari Neto. “Foi uma surpresa e já criei expectativa em vários lugares. Por favor, veja isso com urgência”, escreveu ele.
Para fazer com que esse esquema desse certo, o Tesouro Nacional passou a liberar recursos. Até o final de 2015, mais de R$ 520 bilhões foram repassados para o banco de fomento. Na estrutura de capital do BNDES, quase 60% dos recursos vêm desses repasses. O tamanho exagerado do BNDES, que aumentou 3,7 vezes o volume de desembolsos entre 2006 e 2014, tinha uma explicação: ser o braço ativo do governo para atuar na economia e eleger seus campeões nacionais. O comando dessa operação ficou a cargo do presidente Luciano Coutinho, um esquerdista pragmático e cérebro da tentativa de formação de grandes empresas nacionais com relevância internacional.
Esse desenvolvimentismo buscado por Coutinho, que atendia aos interesses dos presidentes Lula e Dilma, ajudou na fusão entre Oi e Brasil Telecom, um projeto mal sucedido. A Oi pediu recuperação judicial em junho deste ano ao acumular dívidas de R$ 65,4 bilhões. A Sete Brasil, empresa criada para gerir as sondas do pré-sal, tinha no BNDES seu porto-seguro financeiro. Mas, as investigações da Lava Jato atrapalharam o plano desenhado pelo governo do PT e o banco teve de cancelar o financiamento de R$ 8 bilhões.
Os investimentos bilionários em obras fora do País também são controversos. Entre 2007 e 2015, o banco brasileiro finaciou US$ 11,9 bilhões em obras em Cuba, Venezuela, Equador, Angola, Moçambique entre outros países. “O BNDES precisava de uma mudança de orientação, após 13 anos de uma ideologia equivocada de campeões nacionais com subsídios excessivos”, diz a economista Elena Landau. Os que defendem essa política expansionista do BNDES argumentam que o banco não acumulou prejuízo nos últimos anos.
Mas, no ano passado, o lucro líquido de R$ 6,2 bilhões foi quase 40% menor do que em 2010, quando Lula entregou a faixa presidencial à Dilma. E, como os outros bancos estatais, o BNDES também não escapou das pedaladas fiscais. Nos últimos três anos, o atraso proposital para a melhoria das contas públicas chegou a R$ 24,5 bilhões. Essa conta vai ser paga. O mais difícil será consertar os erros de filosofia acumulados nos últimos anos.
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