REVISTA ISTO É DINHEIRO
Objeto das pedaladas fiscais, o BB foi um instrumento do PT para expandir artificialmente o crédito e serviu para desviar recursos
O Banco do Brasil é uma potência. Suas 17.462 agências e postos atendem todos os municípios do País. É líder em empréstimos, com R$ 592 bilhões. Também é o maior em depósitos. Segundo os dados do dia 31 de março, o BB guardava R$ 482,5 bilhões em poupanças e investimentos de seus clientes. No entanto, nos últimos 15 anos, essa máquina foi vítima do populismo. Em vez de servir seus 63 milhões de correntistas e clientes, ele prestou-se a desviar dinheiro e a executar políticas públicas equivocadas. O aparelhamento do banco o tornou menos rentável que os seus concorrentes privados de varejo.
O BB tem um corpo técnico de qualidade. No entanto, o aparelhamento e o uso político da institução vêm comprometendo seus resultados. Os números mostram isso. Segundo a consultoria Roland Berger, entre 2011 e 2015, a rentabilidade patrimonial do BB foi de 17,1% ao ano, ante 21,9% do Itaú Unibanco e de 19,8% do Bradesco. Apesar de maior e de poder desfrutar ganhos de escala, o BB rende menos que seus concorrentes. O resultado pode ser medido na Bolsa. Entre o fim de 2010 e a quarta-feira 13, as ações dos três maiores bancos privados, Itaú, Bradesco e Santander, haviam acumulado uma alta média de 37,2%. Já os papéis do BB haviam recuado 11,5%.
O caso mais emblemático de aparelhamento foi o de Henrique Pizzolato. Sindicalista e político ligado ao PT paranaense, ele foi indicado para a diretoria de marketing do BB em 2003. Aproveitou-se do cargo para desviar dinheiro de um contrato da agência DNA Propaganda, do publicitário Marcos Valério, a quem favoreceu, nesse ano, na renovação de um contrato de R$ 152,8 milhões. Envolvido no Mensalão, ele foi condenado a 12 anos e sete meses de prisão por formação de quadrilha, peculato e lavagem de dinheiro. Pizzolato fugiu para a Itália, mas foi capturado e extraditado para o Brasil.
A Procuradoria Geral da República afirma, textualmente, que o esquema destinou-se a desviar dinheiro para financiar a compra de apoio de parlamentares ao governo do PT. O BB também foi usado como um instrumento para reaquecer a economia após a crise internacional de 2008 e para, artificialmente, baixar os juros e expandir o crédito nos governos de Luiz Inácio Lula da Silva e de Dilma Rousseff. A primeira intervenção ocorreu no fim de 2008. Naquela ocasião, dez milhões dos 30 milhões de correntistas tiveram seus limites de crédito elevados.
Em 2009, segundo o Banco Central (BC), o crédito concedido pelos 50 maiores bancos cresceu 14,9%. Nada mau, só que o avanço dos bancos privados foi de modestos 3,9%. Liderados por BB e Caixa, os estatais elevaram seus créditos em 42%. Além de arriscada, essa prática distorce o mercado. “A participação do cheque especial é muito alta no crédito”, diz Roberto Troster, que comandou o departamento de economia da Federação Brasileira de Bancos. “Esse tipo de crédito é mais adequado em um cenário de hiperinflação.” Troster não analisa especificamente o BB, mas avalia que o mercado de crédito poderia ter sido beneficiado pela mudança do perfil de endividamento das pessoas físicas.
O governo fez mais. O BB, como outros bancos federais, teve de usar recursos próprios para honrar programas sociais. O Tesouro atrasou pagamentos aos bancos para disfarçar o rombo nas contas públicas, as pedaladas fiscais. “O governo Dilma Rousseff praticou fraude fiscal e contabilidade destrutiva”, disse Júlio Marcelo Oliveira, representante do Ministério Público Federal no Tribunal de Contas da União em seu depoimento à comissão de impeachment no Senado. Só para o BB, a conta das pedaladas entre 2010 e 2015 ficou em R$ 14,8 bilhões. As dívidas só foram quitadas no fim de 2015. Mau negócio para o banco. E para o Brasil.
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