RIO DE JANEIRO - Um de meus personagens favoritos da vida real é o russo Rasputin. Todos o conhecem. Misto de monge e charlatão, seu poder sobre o czar Nicolau 2º o levou a ser assassinado em dezembro de 1916, aos 47 anos, pouco antes de o próprio czarismo ser passado a fio de espada. Os candidatos a matar Rasputin eram muitos, mas os autores da proeza foram um conde, um arquiduque e um extremista de direita, com ciúmes de sua influência sobre a família imperial. E só eles sabem o que isso lhes custou.
Primeiro, atraíram Rasputin para uma adega e lhe serviram bolo e vinho tinto temperados com cianureto. O veneno, suficiente para matar a tripulação inteira do encouraçado Potemkin, não pareceu afetá-lo. O conde sacou a arma e atirou contra ele à queima-roupa. Rasputin caiu. Quando o conde se abaixou para certificar-se de que o matara, foi agarrado pelo pescoço e quase estrangulado. Seus cúmplices o salvaram e dispararam mais três tiros em Rasputin, um deles na cabeça.
Como Rasputin continuasse se debatendo, deram-lhe de porrete até desmaiá-lo e, de vingança, tiraram-lhe as calças e o castraram a golpes de sabre. Amarraram-no com as mãos às costas, enrolaram-no num tapete e o jogaram no rio Neva, então quase congelado. E só então foram embora, dando o dever por cumprido.
Se tivessem ficado mais um pouco na ponte, talvez vissem que Rasputin se livrara das cordas e do tapete e saíra nadando, mas não a tempo de romper a camada de gelo na superfície. Quando ele foi encontrado e autopsiado, concluiu-se que morrera afogado.
Já contei essa história há alguns anos, comparando Rasputin a José Sarney, Fernando Collor e outros com grande poder de sobrevivência política — e com razão, porque estão até hoje entre nós. Mas, diante de Eduardo Cunha, tanto eles quanto Rasputin não passam de natimortos.
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