terça-feira, junho 09, 2015

A lógica da vergonha - CARLOS ALEXANDRE

CORREIO BRAZILIENSE - 09/06

Em 16 de junho de 2005, José Dirceu pediu demissão do cargo de ministro-chefe da Casa Civil do governo de Luiz Inácio Lula da Silva. A permanência do homem forte da Esplanada tornou-se insustentável ante as acusações do deputado Roberto Jefferson, que 10 dias antes havia detonado, em entrevista, o esquema que seria conhecido como mensalão. Dez anos depois, condenado a sete anos de prisão pelo Supremo Tribunal Federal em consequência do mensalão, José Dirceu volta a figurar como personagem de escândalo, desta vez vinculado à Petrobras. Assim como ocorreu em 2005, quando saiu do Palácio do Planalto para descer à planície e preparar sua defesa, Dirceu continua às voltas com advogados para evitar novas condenações e impedir o retorno ao regime fechado na penitenciária da Papuda.

Não causa espanto a participação de Dirceu neste novo capítulo da corrupção brasileira. Até as carpas do Itamaraty sabem que o ex-czar de Brasília ainda é voz influente nos desígnios do PT e mantém, como consultor, uma relação proveitosa com diversas empresas interessadas em fazer negócios no país. Parece natural, portanto, que a Justiça queira esclarecimentos sobre contratos e pagamentos a fim de dirimir quaisquer suspeitas sobre a conduta do renomado petista ante esquema tão amplo, complexo e profundamente arraigado na maior empresa do Brasil.

O que realmente impressiona é observar que o mensalão e o petrolão, apesar da década que os separa, obedecem à mesma lógica. Nos dois escândalos, percebe-se claramente a atuação de um grupo político disposto a toda manobra para financiar um projeto de poder, seja pela compra de apoio no Congresso, seja por meio de propinas em contratos bilionários. O julgamento da Ação nº 470, como foi bem mencionado por um ministro do Supremo, foi ponto fora da curva na crônica nacional. Aplicou um castigo poucas vezes visto no Brasil a réus por crime de colarinho-branco, mas não impediu que a nação assistisse pouco tempo depois a uma quadra ainda mais vergonhosa da nossa história, com a derrocada de uma empresa considerada patrimônio nacional, vilipendiada por interesses partidários e fonte de negociata entre corruptos. Dez anos ainda não foram suficientes para se concluir que esse modo de fazer política não pode mais perdurar.

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