O Estado de S. Paulo - 08/03
Está convocada para o dia 13 manifestação dos chamados movimentos sociais contra o ajuste fiscal e as restrições ao acesso a direitos dos trabalhadores.
Por mais que seus líderes queiram direcioná-la contra as elites e os inimigos do povo, é ato contra a política da presidente Dilma, promovido por setores que fazem parte da sustentação política do governo - uma dessas contradições que tomam conta da vida política brasileira.
O PT também nem sempre sabe de que lado está. Nem sempre sabe se é governo ou se é oposição. Diz que é governo, mas só para o que gosta e para aquilo com que concorda. Quando chega a hora da distribuição de sacrifícios, como a conjuntura exige, age como se estivesse na oposição.
A presidente Dilma contribui para essa situação esquizofrênica. Até agora, não foi capaz de admitir que a condução da política econômica ao longo do seu primeiro mandato foi desastrada. A única ocasião em que chegou perto da autocrítica foi quando declarou que mudou, sim, mas mudou porque a realidade mudou.
A realidade não mudou. A economia afundou porque a política esteve errada ao longo dos últimos quatro anos. Mesmo quando se acumulavam as evidências de desarrumação e da trombada iminente, a presidente alardeou que tudo ia bem, que as metas de crescimento do PIB e de inflação estavam sendo rigorosamente cumpridas e que não havia nada de especialmente errado na indústria. Bastaria que os empresários liberassem seu espírito animal para afugentar o desânimo. Não parava de dizer que os investimentos caminhavam de vento em popa, que nada menos que 28 sondas e plataformas tomariam o rumo dos campos do pré-sal... e tudo o mais.
De repente, o arrocho, com tarifaço e tudo mais, desabou sobre a cabeça de todos. Quando mais se precisa da política anticíclica, ela não pode ser colocada em marcha, porque o Tesouro é um pneu careca, sem condições de rodagem.
Pior que tudo, não há explicações, não há reconhecimento de que foi preciso mudar. Não que a realidade tenha mudado. A casa caiu, porque seus fundamentos já vinham sendo solapados antes por escolhas desastradas.
A autocrítica é essencial porque a sociedade continua programada para outro jogo. Os consumidores foram induzidos a levantar empréstimos bancários, a comprar casa própria, veículos e aparelhos domésticos, a comer e a dançar à luz do luar. Agora, que estão endividados e com o emprego ameaçado, não podem compreender como estão sendo punidos por terem atendido aos apelos de antes.
Para que possam ser mobilizados na direção correta, precisam de uma condução adequada das expectativas e, portanto, de um diagnóstico convincente do que está acontecendo e do que precisa ser feito para enfrentar os novos tempos. Sem esse reconhecimento, quando mais precisa de apoio para a correção de rumo, a presidente Dilma mais enfrentará o fogo amigo que se junta ao do inimigo.
Por falar nisso, nos anos 90, o senador baiano Antonio Carlos Magalhães, falecido em 2007, dizia que político bom é o que sabe identificar com rapidez o inimigo da hora e é eficiente em contra-atacá-lo. É qualidade que faz falta agora à presidente Dilma.
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