CORREIO BRAZILIENSE - 07/02
Muito mais do que amadorismo e improvisação, a escolha do novo comando da Petrobras, vago desde quarta-feira com a renúncia de Graça Foster, expôs a inépcia do governo Dilma Rousseff para administrar crises e entender o tamanho e a gravidade da situação em que se encontra a maior empresa do país.
A escolha de Aldemir Bendine, presidente do Banco do Brasil, é quase tudo o que o bom senso não recomenda. Afinal, não se trata de nomear o chefe de uma repartição qualquer. A missão do novo presidente da estatal do petróleo não é apenas a de evitar que a casa fique sem alguém para assinar papéis importantes. É muito mais. É a de retirar um gigante de profundo atoleiro de dívidas, corrupção e perda de credibilidade.
O que a escolha não poderia deixar de levar em conta é que a Petrobras não chegou a ponto de não poder nem sequer publicar balanço auditado por obra do acaso. Pelo contrário. É mais do que sabido e alardeado por especialistas que a empresa foi vítima do acionista controlador, o governo, que, nos últimos anos, vem fazendo dela instrumento político.
Desde o início da administração Lula da Silva, a empresa foi obrigada a cometer o suicídio comercial de comprar gasolina cara no exterior para vendê-la mais barata no mercado interno. Assim, ajudou a criar controle artificial da inflação. Por pressão do ex-presidente, a Petrobras gastou dinheiro sem volta em projetos de refinarias economicamente inviáveis no Ceará e no Maranhão.
A sangria foi grande com a compra da refinaria em Pasadena (EUA) por preço muito superior ao que o vendedor tinha pago por ela. Ainda pior foram os golpes perpetrados por dirigentes da empresa, nomeados ou mantidos por influência política, na construção da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco. De lá, bilhões foram desviados pela via do superfaturamento e de serviços pagos e não executados.
Esse é um dos focos da Operação Lava-Jato, que vêm revelando a ação de corruptos que, ao longo de pelo menos uma década, transformaram a Petrobras numa coleção de escândalos. Consequência do enorme desarranjo, a empresa vem perdendo rapidamente valor de mercado, aqui e nos Estados Unidos, onde tem papéis cotados, a ponto de levar grupos de investidores a pedirem investigação às autoridades do mercado de capitais norte-americano.
Sobram, portanto, razões para que o novo executivo da Petrobras fosse alguém independente das más orientações da presidente e do antecessor, além de ser alguém absolutamente livre de suspeita de desvios de conduta. Funcionário de carreira na instituição financeira estatal, Bendine é ligado ao ex-presidente Lula, a quem deve a nomeação para a presidência do BB em 2009.
Ele não tem currículo de quem já salvou qualquer empresa e muito menos que tenha trabalhado numa exploradora de petróleo e derivados. Pior: já começa tendo de esclarecer a suspeita de favorecimento à amiga e apresentadora de TV Val Marchiori com empréstimo de R$ 2,7 milhões, tendo como garantia a pensão alimentícia que recebe por dois filhos menores.
Não foi sem motivo, portanto, que as ações da Petrobras despencaram mais de 7% depois do anúncio do nome de Bendine. A queda refletiu a frustração com o descaso com o qual a presidente conduziu a questão e a certeza de que ela não pretende abrir mão de continuar impondo suas equivocadas decisões à Petrobras.
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