O GLOBO - 07/02
A crise exige uma mudança de 180 graus na condução dos negócios da estatal, mas a escolha de Dilma mostra que a presidente vai interferir ainda muito na empresa
O mundo do petróleo tem particularidades que limitam a entrada de altos executivos procedentes de outras áreas. Desde os anos 1990, o setor passou por muitas fusões e incorporações, que redesenharam internacionalmente o mapa das grandes corporações. Mas nesse processo não houve uma significativa renovação de executivos. No Brasil mesmo as companhias que estrearam depois da abertura do mercado foram basicamente alicerçadas na contratação de ex-funcionários da Petrobras, e não por executivos oriundos de segmentos sem relação direta com o setor. Nas telecomunicações, por exemplo, após a privatização as antigas estatais não ficaram restritas a ex-dirigentes da Telebrás.
Companhias estatais nacionais do petróleo são um pouco exceção à regra, devido às nomeações políticas em seus quadros dirigentes. Nos governos do PT, até que Graça Forster assumisse a companhia, a presidência da Petrobras teve esse caráter político, pois desde que Lula tomou posse ficou claro que a companhia passaria a ser um instrumento voltado para o atendimento dos propósitos do grupo que passou a ocupar o poder, e deseja mantê-lo a qualquer custo, como se vê.
Tal estratégia empurrou a Petrobras para a mais grave crise da sua história, e sem paralelo em qualquer outra grande empresa brasileira. Tirar a companhia dessa situação de calamidade exigiria uma mudança de 180 graus na condução dos negócios da estatal.
Daí a reação negativa do mercado de ações (com uma queda que chegou a 7% nas cotações dos papéis da estatal) ao anúncio do nome de Aldemir Bendine para a presidência da Petrobras. Respondendo até agora pelo Banco do Brasil, Bendine tem uma ligação com o Palácio do Planalto que torna improvável o fim da forte ingerência da presidente Dilma nos rumos e no cotidiano da Petrobras. A solução encontrada para a substituição de Graça Foster parece ser mais do mesmo, ainda que Bendine transite pelo mundo das finanças, o que, neste momento, é necessário para que a Petrobras consiga superar impasses que podem paralisar parte de seus atividades e inviabilizar investimentos.
Por esse vínculo com o Planalto e mais alguns episódios que protagonizou no Banco do Brasil, Aldemir Bendine chegará à Petrobras já tendo que dar muitas explicações, perdendo um tempo que seria precioso para a recuperação da companhia.
Não está claro se será uma interinidade ou se, com sua escolha, a presidente Dilma quis afirmar que houve substituição de nomes, mas não da essência dos planos que o governo tem para a Petrobras. Pela importância que a empresa tem para o país, espera-se que, internamente ou não, os novos gestores sejam bem-sucedidos em sua missão, e que a opção feita por Dilma não sirva para agravar ainda mais a crise da companhia. Mas não há um clima de otimismo.
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