FOLHA DE SP - 02/08
BRASÍLIA - Votar nulo é uma opção defendida por vários grupos de protesto que emergiram desde junho de 2013. Cartazes com a inscrição "não me representa" sintetizam esse desejo difuso de muitos brasileiros.
Durante a ditadura militar, algumas tendências trotskistas recomendavam votar nulo. Rejeitavam as duas únicas legendas legalizadas à época --a Arena (governista) e o MDB (oposição emasculada e consentida).
Quem opta pelo voto nulo certamente dá um recado aos políticos. Mas suspeito que alguns não conheçam o impacto completo desse ato.
Para começar, nem protestar de verdade é mais possível. Na era do papel, muita gente votou no rinoceronte Cacareco, no macaco Tião ou simplesmente escreveu um palavrão.
Agora, com a urna eletrônica, a única saída é digitar um número que não esteja atribuído a nenhum candidato e confirmar o voto --que resulta nulo. Uma ação mais rápida e com efeito idêntico é o voto em branco, para o qual há uma tecla específica.
Mas quem se beneficia, de fato, dos votos brancos ou nulos? Simples: os candidatos que estão à frente nas preferências do eleitor e próximos de vencer no primeiro turno.
Para facilitar, considere um eleitorado de 100 milhões. Ganha a Presidência quem tiver, pelo menos, 50 milhões mais um dos votos. Só que, se 20 milhões forem brancos ou nulos, a soma dos votos válidos cai para 80 milhões ""e vencerá no primeiro turno o político que receber, pelo menos, 40 milhões mais um dos apoios.
Ou seja, quanto mais votos nulos, menos apoios são necessários para alguém vencer no primeiro turno.
Hoje, quem se beneficia do voto nulo é Dilma Rousseff (PT) na corrida presidencial. Em São Paulo, na disputa de governador, ganha Geraldo Alckmin (PSDB). A petista e o tucano lideram as pesquisas eleitorais.
Tudo considerado, ao votar nulo o eleitor pode, de maneira inadvertida, sem querer, eleger um político contra o qual talvez desejasse protestar.
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