O GLOBO - 02/08
Recebi telefonemas do cardeal Dom Orani Tempesta e da ministra da Cultura, Marta Suplicy, ambos negando a notícia que dei aqui ontem de que o governo havia ameaçado retirar da Igreja Católica a guarda da imagem do Cristo Redentor devido à polêmica proibição do uso da imagem no filme de José Padilha sobre o Rio, que afinal foi revogada.
Pelo relato dos dois, como a Batalha de Itararé, a guerra que não aconteceu, também não houve o embate que noticiei. Como confirmei a informação, antes de publicar, com duas pessoas, disse a eles que manteria minha versão.
A única explicação que tenho, já que mentir é pecado, é que houve um tremendo mal-entendido nos momentos mais tensos da negociação para a liberação do filme.
O fato de o diretor José Padilha ter escrito um artigo em que questionava a autorização para que a Igreja Católica controle a imagem do Cristo - "Será que faz sentido a lei permitir que uma organização religiosa controle a imagem de um monumento que se situa em um local proeminente na paisagem do Rio de Janeiro e que é considerado um símbolo da cidade?" - acendeu o sinal de alerta na Cúria Metropolitana.
Assim como a intervenção do prefeito Eduardo Paes, defendendo a importância do uso da imagem para a propaganda da cidade do Rio de Janeiro. Nas muitas reuniões que aconteceram sobre o assunto, o artigo de Padilha e declarações de outros artistas foram citados como sinais de uma campanha contra a Igreja, a tal ponto que alguém chegou a sugerir que fosse comprada uma montanha e para lá se transferisse o monumento do Corcovado, que fica no Parque da Tijuca, sob jurisdição federal.
Citei esse fato a Dom Orani como prova de que o tema fora abordado nas reuniões, e ele, rindo muito, admitiu que "nessas reuniões, às vezes tensas, dizem-se coisas que não valem a pena levar a sério". É claro que a sugestão era inviável, mas retrata bem como a ameaça de retaliação governamental estava no ar.
Dom Orani acha que não há razão para uma retaliação do governo, e lembra que é a Igreja que cuida do monumento, e já o restaurou por duas vezes nos últimos anos, tendo conseguido patrocínio privado para tanto. "Nenhum dinheiro do bondinho e de outras atividades vai para a Igreja, fica tudo com o Parque (da Tijuca)".
A ministra Marta Suplicy propôs que ela e Dom Orani dessem uma nota conjunta, mas o cardeal do Rio preferiu conversar comigo. O relato dos dois coincide, tanto no tom de amabilidade com que ocorreu a conversa, quanto nos detalhes, pois ambos se recordam de que a ministra se disse preocupada com a repercussão internacional da crise.
Como responsável também pelo turismo, havia trabalhado para que a imagem do Cristo fosse eleita uma das modernas Sete Maravilhas do Mundo, e essa crise com o filme poderia gerar noticiário negativo.
Perguntei então a Dom Orani se ele ou algum assessor havia recebido, mesmo de maneira indireta, ameaça de perder o controle da imagem do Cristo, e ele negou, embora admitisse que "com tantas críticas, tantas pressões, sempre há um receio de que alguma coisa possa acontecer". E acrescentou: "Se em Brasília há algum movimento nesse sentido, nós não sabemos".
Por sua vez, a ministra da Cultura se disse preocupada com a situação, pois surgira na notícia no papel de adversária da Igreja Católica, quando nada havia acontecido.
Ela negou peremptoriamente que exista um decreto presidencial retirando da Igreja o controle da imagem.
Com outra pessoa do jornal, Marta foi mais longe, afirmando que "estamos numa disputa política", que "deveriam existir limites", e que "isso foi feito para pôr toda a Igreja Católica contra o governo". Que seu nome fora usado sob medida por conta das suas posições.
Não tenho a menor ideia se as posições da ministra deram ares de verdade a uma suposta ameaça nem se seu papel de representante oficial da Cultura serviu para reforçar a imagem de que estaria apoiando o movimento dos artistas em protesto contra o que foi considerado por muitos, inclusive eu, uma censura artística.
O fato é que a possibilidade de o governo tomar uma atitude no sentido de retirar ou mesmo reduzir os poderes da Igreja Católica sobre a imagem do Cristo foi discutida diversas vezes na Cúria Metropolitana nos dias do impasse sobre o filme de José Padilha.
A única explicação que tenho, já que mentir é pecado, é que houve um tremendo mal-entendido nos momentos mais tensos da negociação para a liberação do filme.
O fato de o diretor José Padilha ter escrito um artigo em que questionava a autorização para que a Igreja Católica controle a imagem do Cristo - "Será que faz sentido a lei permitir que uma organização religiosa controle a imagem de um monumento que se situa em um local proeminente na paisagem do Rio de Janeiro e que é considerado um símbolo da cidade?" - acendeu o sinal de alerta na Cúria Metropolitana.
Assim como a intervenção do prefeito Eduardo Paes, defendendo a importância do uso da imagem para a propaganda da cidade do Rio de Janeiro. Nas muitas reuniões que aconteceram sobre o assunto, o artigo de Padilha e declarações de outros artistas foram citados como sinais de uma campanha contra a Igreja, a tal ponto que alguém chegou a sugerir que fosse comprada uma montanha e para lá se transferisse o monumento do Corcovado, que fica no Parque da Tijuca, sob jurisdição federal.
Citei esse fato a Dom Orani como prova de que o tema fora abordado nas reuniões, e ele, rindo muito, admitiu que "nessas reuniões, às vezes tensas, dizem-se coisas que não valem a pena levar a sério". É claro que a sugestão era inviável, mas retrata bem como a ameaça de retaliação governamental estava no ar.
Dom Orani acha que não há razão para uma retaliação do governo, e lembra que é a Igreja que cuida do monumento, e já o restaurou por duas vezes nos últimos anos, tendo conseguido patrocínio privado para tanto. "Nenhum dinheiro do bondinho e de outras atividades vai para a Igreja, fica tudo com o Parque (da Tijuca)".
A ministra Marta Suplicy propôs que ela e Dom Orani dessem uma nota conjunta, mas o cardeal do Rio preferiu conversar comigo. O relato dos dois coincide, tanto no tom de amabilidade com que ocorreu a conversa, quanto nos detalhes, pois ambos se recordam de que a ministra se disse preocupada com a repercussão internacional da crise.
Como responsável também pelo turismo, havia trabalhado para que a imagem do Cristo fosse eleita uma das modernas Sete Maravilhas do Mundo, e essa crise com o filme poderia gerar noticiário negativo.
Perguntei então a Dom Orani se ele ou algum assessor havia recebido, mesmo de maneira indireta, ameaça de perder o controle da imagem do Cristo, e ele negou, embora admitisse que "com tantas críticas, tantas pressões, sempre há um receio de que alguma coisa possa acontecer". E acrescentou: "Se em Brasília há algum movimento nesse sentido, nós não sabemos".
Por sua vez, a ministra da Cultura se disse preocupada com a situação, pois surgira na notícia no papel de adversária da Igreja Católica, quando nada havia acontecido.
Ela negou peremptoriamente que exista um decreto presidencial retirando da Igreja o controle da imagem.
Com outra pessoa do jornal, Marta foi mais longe, afirmando que "estamos numa disputa política", que "deveriam existir limites", e que "isso foi feito para pôr toda a Igreja Católica contra o governo". Que seu nome fora usado sob medida por conta das suas posições.
Não tenho a menor ideia se as posições da ministra deram ares de verdade a uma suposta ameaça nem se seu papel de representante oficial da Cultura serviu para reforçar a imagem de que estaria apoiando o movimento dos artistas em protesto contra o que foi considerado por muitos, inclusive eu, uma censura artística.
O fato é que a possibilidade de o governo tomar uma atitude no sentido de retirar ou mesmo reduzir os poderes da Igreja Católica sobre a imagem do Cristo foi discutida diversas vezes na Cúria Metropolitana nos dias do impasse sobre o filme de José Padilha.
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