Há muitas explicações para a queda da indústria, mas há uma única abrangente: o governo errou na política industrial, porque, em vez de remover os obstáculos ao aumento da produtividade, distribuiu incentivos fiscais, subsídios, e aumentou barreiras às importações. Quando se faz política industrial, pode-se escolher setores ou escolher a economia. O governo optou pelo caminho errado.
Os dados de ontem mostram o fracasso da estratégia usada para incentivar o crescimento. Escolher setores e empresas para serem os campeões nacionais deu errado no governo militar e fracassa novamente agora. O que tinha que se buscar era o aumento geral dos fatores de produtividade, a remoção de obstáculos logísticos, burocráticos e de impostos, de forma mais eficiente.
A estratégia já vinha mostrando falhas, mas os dados são impressionantes. Foi a quarta retração seguida da indústria, com perda de 3,4% no período. No semestre, a queda é de 2,6%, e, em 12 meses, de 0,6%. Os números são negativos no curto prazo e na série mais longa.
O segmento de bens de consumo durável teve a maior queda da série histórica, em junho, com uma redução de 24,9% sobre o mês anterior. Em quatro meses, a perda chega a 33%. Os bens de capital, sinônimo de investimentos, caem 17% no mesmo período.
A paralisação da Copa é uma razão pontual. Os feriados foram muitos em junho e provocaram paradas na indústria e no comércio. O mesmo efeito deve se repetir nos números de julho. Mas as dificuldades são anteriores a isso, a produção está 5,4% abaixo de setembro de 2008, período pré-crise, como mostra o gráfico, feito pela economista Mariana Hauer, do Banco ABC Brasil.
Os economistas vêm alertando há anos sobre dificuldades estruturais do país. Os impostos já chegam a 38% do PIB e só alguns setores recebem benefícios. A infraestrutura continua reduzindo a competitividade, mesmo após os PACs. A taxa de investimento caiu para 17,7% do PIB e a taxa de poupança despencou para 12,7% no primeiro trimestre.
Os custos da energia elétrica, que foram reduzidos em 2013, dispararam em 2014 e a projeção é de uma escalada nos próximos anos. A energia virou a principal fonte de incertezas dos empresários.
A Fazenda defendeu a desvalorização do real para incentivar a exportação, mas hoje o câmbio está defasado para evitar uma alta maior da inflação. A distribuição de crédito barato via BNDES foi garantida pelo Tesouro e beneficiou desigualmente as empresas. Barreiras comerciais prejudicam até quem exporta, pelo encarecimento de componentes importados.
A estratégia do governo chegou a uma beco sem saída, como sempre acontece com esse tipo de política industrial. O país precisa enfrentar uma lista de tarefas que tornarão o ambiente de negócios mais favorável às empresas. E, num ambiente assim, quem for bom se estabelece; sem apadrinhamentos, sem escolhas arbitrárias, sem excesso de intervencionismo.
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