FOLHA DE SP - 02/08
SÃO PAULO - Nós nos acostumamos a pensar a demografia em termos de janelas e projeções. No mais trivial dos exemplos, o IBGE estima que a população brasileira crescerá até o ano de 2040, atingindo o pico de 219 milhões de habitantes, e, a partir daí, passará a declinar.
Essa forma de expor as tendências é fundamental para que os planejadores possam preparar-se, mas frequentemente nos faz esquecer de que a demografia não lida só com o futuro, mas também com o presente. As transformações que etiquetamos com rótulos solenes como "transição demográfica" em datas longínquas já estão ocorrendo aqui e agora.
Dois hospitais particulares de São Paulo, o Santa Catarina, no centro da capital, e o Stella Maris, em Guarulhos, ilustram bem esse fenômeno ao anunciar que estão fechando suas maternidades. Ambas as instituições pretendem dedicar-se a especialidades com maior demanda e rentabilidade, como oncologia, neurologia, cardiologia e ortopedia --não por acaso, áreas que tendem a ganhar espaço com o paulatino envelhecimento da população.
E não é apenas na saúde que isso está acontecendo. A redução da população mais jovem também já está produzindo efeitos na educação (se não cortarem as verbas, haverá cada vez mais dinheiro a ser gasto por aluno) e na Previdência (cuja situação tende a complicar-se).
É importante que as autoridades usem as informações reunidas pelos demógrafos para evitar que as soluções de mercado nos coloquem em maus lençóis. Se muitos hospitais privados fecharem suas maternidades, caberá ao setor público suprir a demanda que ainda existirá.
A nota inquietante aqui é que estamos vendo nossa era de bonança demográfica (a maior fatia de pessoas no mercado de trabalho) estreitar-se sem que o país tenha aproveitado esse período para aumentar de forma consistente sua riqueza. Fazê-lo a partir de 2040 será bem mais difícil.
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