Tomada pelo governo do PT como refém para atender a seus interesses políticos, a Petrobrás foi ainda obrigada a aceitar uma imposição eleitoral do ex-presidente Lula pela qual paga um preço elevado. Trata-se da exigência de conteúdo local nos equipamentos que ela adquirir para o desenvolvimento das áreas obtidas nas licitações realizadas em 2005. Tardiamente, alguns de seus executivos tentam reduzir esse ônus adicional.
Como mostrou reportagem do Estado (8/8), a empresa negocia com a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), encarregada de fiscalizar o cumprimento das regras de conteúdo local, a redução da exigência na compra de equipamentos e serviços para o afretamento de sondas. Sem a concordância da ANP, a empresa ficará sujeita a multas pesadas caso descumpra as regras. Mas, para cumpri-las, a Petrobrás teria de retardar todos os seus planos de investimentos em prospecção e exploração, pois, como a experiência tem mostrado, a indústria nacional não está capacitada a fornecer os equipamentos no ritmo necessário para atender aos projetos da estatal.
Pelas regras em vigor, neste ano a Petrobrás deveria alcançar o índice de 55% a 65% de conteúdo local nos equipamentos que utilizar nas áreas adquiridas em 2005. No entanto, como reconheceu o gerente de Conteúdo Local da empresa, Edival Dan Júnior, só tem sido possível comprar no País 15% desses equipamentos e serviços. E grande parte se refere à contratação de pessoal.
Quanto mais a estatal comprar equipamentos no País, melhor para a economia brasileira. Seu Plano de Negócios e Gestão 2014-2018 prevê investimentos de US$ 220,6 bilhões, dos quais US$ 153,9 bilhões em exploração e produção. Se a exigência de conteúdo local fosse inteiramente cumprida, cerca de US$ 80 bilhões engordariam o faturamento das empresas brasileiras até 2018.
Acossada pelos interesses políticos do PT - que a levou a fazer negócios ruinosos, como a compra da Refinaria de Pasadena, no Texas, que sua diretoria não consegue nem pode explicar -, a Petrobrás perdeu eficiência e vem perdendo também a confiança dos investidores e da população.
Não investiu o necessário na manutenção das refinarias em operação e na construção de novas para atender à demanda interna crescente. Mergulhou no ambicioso plano de exploração do pré-sal, que exige recursos que mal consegue reunir. E acumula resultados frustrantes, como a redução de 25% no lucro do primeiro semestre.
Além desses problemas, sua presidente, Graça Foster, tem de enfrentar o criado por sua participação, como integrante da diretoria anterior, em decisões relativas à refinaria texana. Nesse quadro, arrostar o nacionalismo eleitoreiro do PT parece o menor dos males.
A própria presidente havia dito, no início do ano, que a prioridade de sua gestão é o aumento da produção e da eficiência da empresa, não a contratação de equipamentos no País. Isso parece estar tendo resultados práticos. Tendo sido multada pela ANP em 2011 por compras externas consideradas excessivas, a estatal quer autorização prévia para fazer mais encomendas no exterior.
Não será fácil obter a concordância da ANP. Se mudanças houver nas regras, será para torná-las mais rigorosas, disse a diretora-geral da agência, Magda Chambriard. "Ajustes poderão vir para reforçar a política. Cabe às empresas desenvolver sua cadeia de fornecedores."
Na teoria, bastaria à Petrobrás procurar novos fornecedores locais. Mas eles não existem ou não têm capacidade para atender à demanda. Embora tenha crescido, a indústria naval brasileira ainda não consegue suprir as necessidades da petroleira. O presidente do sindicato nacional do setor naval, Sérgio Leal, diz que há apenas problemas pontuais. Mas, ao mencionar dificuldades do setor, como a baixa escolaridade da mão de obra e a consequente baixa produtividade dos estaleiros, reconhece seus problemas estruturais, que dificultam o fornecimento no prazo, nas condições e nas especificações requeridos pelo programa da Petrobrás.
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