Simplificando, para facilitar, se poderia dizer que Campos era o lado ‘amigável ao mercado’; Marina, o social
Há pesquisas eleitorais já prontas para divulgação, outras em campo. Não servem para mais nada. Marina Silva no lugar de Eduardo Campos muda o jogo na política e nas perspectivas econômicas.
Confirmada candidata a presidente, Marina pode obter entre 15% e 20% logo na primeira pesquisa. Com isso, chega nos calcanhares de Aécio Neves e torna praticamente inevitável o segundo turno.
O sentido da candidatura também muda. Sim, havia uma aliança, um acordo entre Campos e Marina, mas o candidato era o ex-governador de Pernambuco, com seu perfil: de esquerda e “amigável aos negócios”, como dizem os economistas para os líderes que se propõem a buscar justiça social no quadro do regime capitalista.
O papel de Marina, no essencial, era atrair os votos das pessoas que foram às ruas em junho do ano passado e que, apontavam as pesquisas, não se identificavam com os políticos tradicionais. Ao contrário, manifestavam uma bronca geral com a política. Marina estava fora disso. As pesquisas também indicaram que, entre os políticos conhecidos, era a única aprovada pelos manifestantes.
Aquelas manifestações não tinham uma agenda política determinada. Talvez por isso mesmo tenham sido tão amplas. O pessoal estava de bronca com a política, com a corrupção, com a inflação, com os serviços públicos, especialmente saúde e escolas, e com tudo o mais.
A chapa Campos/Marina era uma boa ideia por isso: uma tentativa de atrair esse pessoal, ou seja, os votos de Marina, para uma posição institucional, organizada, com metas e programa, representada pelo ex-governador de Pernambuco. Eis a terceira linha. Poderia ou não convencer o eleitor, mas fazia sentido.
Marina é certamente de esquerda, com o forte lado do ambientalismo. Há empresários e economistas ortodoxos ou próximos disso no seu time, mas ela está à esquerda deles. Nos meios econômicos, nos quais Eduardo Campos estava ganhando espaço, a restrição à chapa era justamente a presença de Marina.
Simplificando, para facilitar, se poderia dizer que Campos era o lado “amigável ao mercado”; Marina, o social. Ainda nos meios econômicos, era crescente a admiração pela administração de Campos em Pernambuco, sobretudo pela introdução de métodos de gestão privada inclusive nas áreas de educação e saúde.
De outro lado, ia por aí mesmo a bronca de muitos militantes da Rede Sustentabilidade, o verdadeiro partido de Marina Silva. Reclamavam da falta de maior compromisso do time de Campos com o social e a sustentabilidade.
O que reduzia essas tensões era a atuação pessoal dos dois líderes.
Resumindo: confirmada candidata, Marina Silva deve aparecer com talvez o dobro das intenções de voto obtidas até aqui por Campos. Deve atrair votos de eleitores de Dilma arrependidos. Mas terá de mostrar muita habilidade política para manter a aliança original.
De todo modo, ela deve garantir um segundo turno. Alcançará Aécio? Só se conseguir juntar os votos dela com todos aqueles dos eleitores de Campos e mais um pouco do centrão.
Aécio fica sozinho no centro, naquela região em que se quer mudar a política econômica num sentido mais conservador, mais pró-negócios. Deve herdar os eleitores de Campos que se aproximavam desse lado.
Isso no lado da oposição. Dilma deve ficar onde está — ou perder um tanto se Marina for mais para a esquerda. Ou seja, o jogo mudou. Aqui estão as primeiras especulações, mas vai começar de novo.
PERDA
Recebi este e-mail de Cristiane, ouvinte da CBN: “Eu ainda estava conhecendo Eduardo Campos e, apesar de pretender votar em outro candidato, ficava esperançosa de que a política no Brasil estava mudando a cada vez que o ouvia falar. Inclusive ontem (terça-feira), pois, apesar de não ter resposta para as perguntas espinhosas do Bonner, usou nelas a lógica de um estadista.”
Esse foi o tamanho da perda. Eduardo Campos não era um político comum. Era uma novidade na política brasileira — e uma grande novidade. Os que o conheciam, os que trabalharam com ele, os que de algum modo se relacionaram com suas administrações, todos sabiam como combinava habilidade política com moderna capacidade de gestão.
Foi ousado, mas consistente, ao propor a terceira via.
Era esse político e gestor que Cristiane estava conhecendo. E tanta gente mais.
Tancredo Neves morreu quando ia finalizar sua obra política. Eduardo Campos morreu quando tentava começar a parte maior.
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