A morte do candidato do PSB tem o aspecto grave, entre outros, de representar uma perda séria no processo de renovação geracional na política brasileira
A morte de Eduardo Campos, num desastre aéreo em Santos, passa a constar das grandes tragédias ocorridas na política brasileira, em que líderes desapareceram de maneira traumática.
Entre elas, há o suicídio de Getúlio Vargas — também em agosto, mês de má fama na crônica da política nacional —, o desastre automobilístico de que Juscelino Kubistchek foi vítima, o desaparecimento no mar de Ulysses Guimarães e Severo Gomes, além do drama da morte de Tancredo Neves, eleito numa eleição indireta, mas com apoio popular, e que não conseguiu subir a rampa do Planalto.
O desaparecimento de Eduardo Campos tem, entre outros, o aspecto grave de representar uma perda séria no processo de renovação geracional da política brasileira. Com 49 anos, neto de Miguel Arraes, histórico político pernambucano, Campos se firmava como uma liderança que permaneceria no cenário nacional, mesmo se não saísse vitorioso nas urnas de outubro, ainda que sequer fosse ao segundo turno.
Não há dúvida que a campanha de 2014 projetaria o candidato, ex-governador de Pernambuco, presidente do PSB, para além das fronteiras do seu estado e do Nordeste.
A perda de um político jovem, com capacidade de liderança — independentemente de partido e ideologia —, tem característica negativa especial num país que passou 21 anos numa ditadura militar (1964-1985), sem portanto formar quadros num ambiente institucional de liberdades.
Por este motivo, a política brasileira retomou a atividade na democracia ainda com lideranças das décadas de 1950 e 60. O apagão causado pela ditadura na prática impediu a formação de quase uma geração de políticos.
Os sobreviventes do regime militar desenvolveram virtudes, mas também deformações, cultivadas na resistência ao arbítrio. Eduardo Campos já se formou em outra atmosfera, com menos intolerâncias, uma virtude.
A aliança que lhe propôs Marina Silva, depois de não conseguir registrar seu partido Rede, foi prontamente aceita. O ato abriu-lhe novos espaços, os quais ele ocupava com habilidade, aparando arestas criadas pelas dificuldades previsíveis na articulação de propostas do PSB com a plataforma ambientalista da Rede, com a qual Marina atraiu dissidentes do Partido Verde, entre outros.
Enquanto se diluirá o trauma do desaparecimento do candidato à Presidência, seguirão os ritos legais para sua substituição na chapa do PSB, provavelmente pela vice Marina.
Neste caso, haverá todo um debate sobre qual agenda preponderará, se a do PSB ou da Rede. Mas pode ser que Marina e Campos já houvessem consolidado um campo comum de propostas, a serem reafirmadas por pessedebistas e marineiros. Resta esperar.
O certo é que as eleições de 2014 já entraram para a História. Infelizmente, com uma tragédia.
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