O GLOBO - 15/07
Não se pode depender de remendos num evento com 15 mil atletas, de 204 países, que disputarão competições em 28 modalidades de esportes. A improvisação será fatal
As avaliações de praxe de um evento da dimensão da Copa do Mundo têm, para o Brasil, uma aplicação prática, por se estar a dois anos das Olimpíadas do Rio. O exercício, portanto, de balanço da Copa precisa ser feito voltado para o projeto dos Jogos de 2016. E as primeiras impressões não são animadoras.
Há diferenças importantes entre Copa e Olimpíadas. Uma se espalha por estados, enquanto os Jogos se concentram numa cidade — embora, no futebol, estejam previstas partidas também em São Paulo e Belo Horizonte, por exemplo, o que não será problema, pelo que se viu na Copa.
A centralização do evento em uma cidade, porém, dá ao prefeito e comissão organizadora uma enorme responsabilidade. Não se pode baixar a guarda. Neste sentido, portanto, devido à concentração dos riscos e à grande diversidade, os Jogos são mais complexos até que a Copa.
Entre os predicados do Rio para 2016, demonstrados nas últimas semanas, estão a hospitalidade do carioca e a cidade em si. O sucesso das Fifa Fan Fests inspirou Eduardo Paes a promover algo semelhante, daqui a dois anos, no Porto, já sem a Perimetral, e no Parque Madureira, revelou o prefeito ao GLOBO. Copacabana, onde fervilhou a Fan Fest do futebol, será ocupada por competições, mas não deveria sair dos planos da prefeitura, pela facilidade de acesso por parte dos turistas.
A Copa comprovou que uma palavra-chave é mobilidade. Com todas as precariedades ainda existentes, no Rio e em São Paulo, foi o transporte sobre trilhos — metrô e trens — que tornou aceitável o acesso ao Maracanã e Itaquerão.
Ou seja, a conclusão da Linha 4 do Metrô, para a Barra — na verdade, um “puxadão” da Linha 1 —, é crucial para não haver maiores transtornos na chegada e saída do Parque Olímpico, com a ajuda dos BRTs.
Então, a entrega da linha a tempo é estratégica para o êxito dos Jogos. E não apenas isso, mas também a sua operação de forma a que não ocorra superlotação, temida pelo fato de a linha ser uma extensão de outra. Não haveria maiores temores se fosse a original Linha 4, da Barra ao Centro, via Gávea.
Mais uma vez deu-se um “jeitinho”, tão usado na Copa. Preocupa a possibilidade, bastante palpável, de atrasos em obras — uma característica do país, também observada na falta de boa parte do legado da Copa do Mundo, toda ela de projetos de mobilidade não concluídos, alguns até sequer iniciados.
O cenário atual do Parque Olímpico é de um enorme canteiro de obras no início, algo muito preocupante. A situação é até pior no Complexo Esportivo de Deodoro, em que os trabalhos começaram na semana passada. Não se pode depender de remendos e meias soluções num evento com 15 mil atletas de 204 países, que disputarão competições em 28 modalidades esportivas. A improvisação será fatal.
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