FOLHA DE SP - 11/07
SÃO PAULO - Se o objetivo do esporte é entreter o espectador e fazê-lo escapar, ainda que por instantes, das asperezas da vida ordinária, então a derrota do Brasil pelo dilatado placar de 7 a 1 superou em muito uma hipotética vitória. Pelo menos para mim, o festival de piadas que inundou a internet logo após a partida foi muito mais divertido do que teria sido a conquista do hexa.
Deixo para os especialistas as explicações para o fiasco da seleção e volto minhas baterias para o humor. Por que rimos de desastres, tragédias e troçamos dos infelizes? Em que recônditos da alma humana se funda aquele humor que transita entre o negro, o cínico e o de mau gosto? Recorro aqui ao trabalho do neurocientista Scott Weems, ao qual já aludi antes.
Esse tipo de piada costuma surgir de forma clandestina. Pelo menos num primeiro instante, as pessoas se sentem incomodadas em rir de desgraças. A partir de um certo instante, porém, a névoa de vergonha se dissipa e passa a ser socialmente aceitável fazer chiste com o assunto.
Podemos até medir a magnitude da hecatombe pelo intervalo entre o fato e o surgimento do ciclo de piadas. Na explosão da nave Challenger, o período de latência nos EUA foi de 17 dias. Na morte da princesa Diana o hiato foi menor, e o 11 de Setembro exigiu afastamento maior. O interessante no caso do futebol é que, como não há mortos e feridos de verdade, o movimento pôde ser instantâneo.
O ponto central é que, por maior que seja a tragédia, o humor em algum momento acaba reaparecendo. Segundo Weems, isso ocorre porque, quando algo grave acontece, experimentamos múltiplas reações, como tristeza, desespero, pena e alívio (por não sermos as vítimas). O humor é simplesmente a forma como nossos cérebros lidam com a complexidade e conciliam tantos sentimentos contraditórios. Mais do que isso, desgraças só se tornam risíveis quando desencadeiam essa cascata coletiva de emoções ambíguas.
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