FOLHA DE SP - 06/07
Presidente sofre, bate, apanha e passa de fase, mas mau humor continua em nível alto no país
DILMA ROUSSEFF e seu governo chegam às quartas-de-final da eleição como o time do Brasil: jogando mal, quase empatando, batendo e apanhando, mas ainda vencendo. Apesar dos infortúnios, críticas, campanhas negativas contra seu governo e incompetências também de seu governo, Dilma ainda pode vencer sem mesmo ir para a final, o segundo turno.
Isto posto, parece equivocado dar muita relevância ao fato de que os dias de alienação voluntária da Copa favoreceram a popularidade dilmiana e amenizaram a insegurança com a economia, como indicou a pesquisa Datafolha realizada na semana passada. A cada semana, cai lenha na fogueira que tem fervido os humores do eleitorado, ao menos no que diz respeito à economia.
Antes, tumultos e iras sociais influenciavam o sentimento de confiança econômica.
Daqui em diante, mais e mais a degradação da economia vai determinar o desconforto político.
A popularidade do governo de Dilma melhorou, mas está no mesmo nível recorde de baixa de junho 2013, um ou outro ponto para cima ou para baixo, o imponderável de almeida das estatísticas. O mesmo se pode dizer de indicadores como o de expectativa de aumenta de preços, ainda medido pelo Datafolha.
O grau de difusão do temor de que os preços venham a aumentar assemelha-se ao dos dias piores do governo FHC, de colapsos econômicos como a grande e desordenada desvalorização do real (1999), apagão (2000), quebra com romaria ao FMI e espasmos feios de inflação e desemprego alto e variável.
Note-se de passagem que, a julgar pelo histórico das pesquisas Datafolha, as respostas a essa pergunta sobre a expectativa de inflação (maior, menor, na mesma) nem sempre estão associadas à variação de fato de preços, mas a um sentimento geral de insegurança econômica.
O aumento recente desse sentimento de insegurança econômica coincidiu com o colapso da popularidade de Dilma, mas, pelo menos entre meados do ano passado e deste 2014, é difícil dizer que a piora econômica provocou a piora da avaliação do governo. Se o fez, foi em pequena medida. Até agora.
Os protestos de junho não eram de natureza "econômica". A irritação com a inflação vinha fervendo aos poucos, mas até junho não era uma ebulição. No que diz respeito à vida cotidiana, emprego e renda, os indicadores começaram a se tornar mais problemáticos a partir de março, por aí. O efeito significativo da inegável deterioração macroeconômica não havia chegado ao dia-a-dia do grosso da população.
Mas o mau humor disseminado ajudou a acelerar a degradação das condições econômicas.
Apesar da Copa, acrescente-se e ressalte-se, o grosso desse mau humor não passou. Agora, a piora da economia começa a desaguar "nas ruas": demissões, ainda poucas, mas "simbólicas", como as da grande indústria; a seca no mercado de trabalho, ao menos nas grandes metrópoles; a seca no crédito etc.
Não se trata de sangria desatada nem de um quadro predominante em todo Brasil (a crise afeta mais as metrópoles do Centro-Sul); pioras econômicas nem sempre transparecem sem mais na política ou na eleição.
Mas há motivos para estimar que o clima no país vá melhorar.
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