domingo, julho 06, 2014

Ânimo em perspectiva - EDITORIAL FOLHA DE SP

FOLHA DE SP - 06/07

Diversão do futebol parece apenas ter podado excesso de insegurança econômica e desaprovação ao governo, que seguem em níveis altos


Os dias festivos e as amenidades da Copa desanuviaram o ambiente de desesperança e irritação exacerbados em que vivia o país ainda na semana que precedeu o início dos jogos, sugere pesquisa Datafolha publicada na quinta-feira.

Mas a diversão do futebol e o refluxo dos protestos de rua por ora parecem somente ter podado os excessos de insegurança econômica e desaprovação ao governo federal, que permanecem em níveis historicamente altos.

A expectativa de que a inflação vai aumentar, por exemplo, retrocedeu para 58% dos entrevistados, ante 64% há um mês. Esse indicador tem flutuado acima de 58% desde pelo menos novembro de 2013. A baixa verificada agora, portanto, é relativa a um nível extremo de preocupação.

Extremo, sim. O temor de elevação de preços está num dos patamares mais altos em quase duas décadas. A opinião de que haveria carestia era compartilhada por cerca de 60% dos entrevistados só em momentos de choques, como os observados entre 1999 e 2002.

Foi nesses anos que ocorreu a grande desvalorização do real, com a subsequente escalada da inflação, que voltou a acelerar em meados de 2000. De 2001 a 2002, o país viveu o impacto do racionamento de energia, de mais disparada de preços e dos problemas criados pelo quase pânico financeiro devido à disputa presidencial, vencida por Luiz Inácio Lula da Silva.

Também chamou a atenção na pesquisa divulgada na quinta-feira o fato de 30% dos entrevistados apostarem que a situação econômica do país vai melhorar, superando os 26% de maio. Trata-se, contudo, de nível baixo de otimismo.

Quando o Brasil vivia a recessão de 2009, 31% dos entrevistados achavam que a economia do país melhoraria. No grande colapso recente da confiança, entre março e junho de 2013, a expectativa de melhora caiu de 51% para 31%.

O sentimento de insegurança quanto ao futuro da economia evidencia-se em outras pesquisas de confiança, que registraram surtos de mau humor de abril a maio, com algum arrefecimento em junho.

Pode até ser que se esteja assistindo ao começo do fim de um ciclo de insatisfação extremada, no qual o tumulto político e social contagiou os ânimos econômicos.

No entanto, no segundo trimestre, o esfriamento da atividade produtiva foi intenso e mais veloz do que se estimava. O humor dos brasileiros terá de lidar cada vez mais com o fato de que o desarranjo na economia começa a provocar efeitos palpáveis na vida cotidiana.

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