O Estado de S.Paulo - 20/04
Os dirigentes do Banco Central (BC) estão se sentindo na obrigação de explicar que não promovem uma inútil dança da chuva para acabar com a inflação. É que depois de 12 meses de alta seguida dos juros básicos, num total de 3,75 pontos porcentuais, para a altura dos 11% ao ano, a escalada continua.
"A política monetária não funciona", provocam os céticos de dentro e de fora do governo Dilma. "Funciona, sim, mas está sendo atrapalhada pelo governo", proclama o outro lado.
Quando a presidente Dilma ou as autoridades do Ministério da Fazenda insistem em que a inflação braba não é culpa do governo, mas de choques de oferta provocados pela seca, também passam o recado ao BC de que não adianta insistir com os juros. A oferta de tomate ou de batata só vai se normalizar, argumentam, quando as culturas se recuperarem da seca.
Quarta-feira, o diretor de Política Econômica do BC, Carlos Hamilton Araújo, veio a público para repetir que a política monetária é, sim, eficaz. Mas reconheceu que outras políticas do próprio governo trabalham contra.
No Brasil, o sistema de metas de inflação ainda enfrenta renitentes objeções ideológicas. Até economistas de renome entendem que os juros poderiam ser derrubados aos níveis internacionais, sem que nada de grave ocorresse com a inflação. Outros insistem em que juro alto é resultado de conspiração de interesses, entre banqueiros, rentistas e capital internacional, com o objetivo de ganhar dinheiro fácil à custa da dívida pública brasileira. Muitos empresários concordam com isso e a cada reunião do Copom já têm previamente redigidas declarações de que a nova alta de juros é absurda porque só eleva os custos das empresas e não atua no combate à inflação.
A política monetária é um mecanismo que regula o volume de dinheiro na economia. Se a inflação está forte demais, o BC retira moeda (aumenta os juros) e, com isso, reduz combustível no motor. Se a inflação está mais fraca, pode voltar a injetar dinheiro e o maior volume de combustível concorre para aumentar a atividade econômica.
Hamilton reconhece que algumas correias de transmissão desse mecanismo estão emperradas e, por isso, a "taxa neutra de juros", isto é, aquele nível dos juros que não produzem nem derrubam a inflação pode ter subido muito no Brasil.
É que, se o governo gasta demais como agora, o dinheiro retirado pelo BC é reinjetado pelo Tesouro, por meio de pagamento de despesas públicas. Ou então, se o governo exige que determinado volume de recursos dos bancos vá obrigatoriamente para o financiamento da agricultura ou da casa própria; ou se o BNDES está sempre disposto a irrigar com crédito a juros subsidiados empresas que nem precisariam dessas bondades, é combustível adicional para essas atividades. Se, além disso, o governo define que certas tarifas, como as de energia elétrica, dos combustíveis ou dos transportes urbanos, fiquem congeladas, também para esses setores, não adianta elevar ou reduzir os juros, porque os preços ficam onde estão. Ou seja, só aí, mais de 25% dos preços (preços administrados) não são atingidos pelos juros.
Mas, se a política monetária é entendida como dança da chuva e se o BC está sendo obrigado a defender sua razão de ser, como é que pode seguir comandando as expectativas, uma de suas principais funções na defesa da moeda?
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