ZERO HORA - 10/04
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a inspirar manchetes da imprensa com declarações dadas nesta semana, em meio a um cenário especialmente conturbado para o governo. É natural que ex-ocupantes de cargos públicos se manifestem sobre questões políticas controversas, desde que estejam dispostos a submeter suas afirmações também a discordâncias. No caso das recentes declarações do petista, em entrevista a blogueiros simpáticos ao governo, mereceu destaque a referência direta à imprensa. Disse o entrevistado que “os meios de comunicação no Brasil pioraram muito do ponto de vista da neutralidade”.
Afirmou ainda o ex-presidente, numa referência às notícias sobre indícios de irregularidades na Petrobras, que “a gente não pode permitir que, por omissão nossa, as mentiras continuem prevalecendo”. Há uma evidente preocupação com a divulgação de fatos desfavoráveis ao Executivo e que colocam em xeque as exaltadas virtudes de gestora de sua sucessora. Ao se referir a inverdades, o ex-presidente tem como alvo fatos que já vêm sendo investigados por Polícia Federal, Ministério Público e Tribunal de Contas da União e serão objeto de sindicância de CPI no Senado.
Observe-se que, ao contrário do que defende, o ex-presidente sentou-se à mesa com pessoas que não têm como oferecer a neutralidade reclamada. Seus ouvintes eram responsáveis por blogs assumidamente governistas, muitos dos quais sustentados por verbas oficiais. A manifestação reproduz o comportamento de líderes políticos que, ao orientar a reação de seguidores a acusações, desqualificam o trabalho dos jornalistas. O ex-presidente seria mais efetivo se contribuisse para que a presidente da República esclarecesse por que, quando chefiava o conselho de administração da estatal, teve informações sonegadas pelos que conduziam as tratativas para aquisição da refinaria. Esta é uma das verdades que não podem ser sonegadas.
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