FOLHA DE SP - 11/03
A PETROBRAS foi ontem à praça do mercado mundial pedir emprestados uns US$ 8,5 bilhões. Os donos do dinheiro ofereceram mais, uns US$ 22 bilhões, segundo a agência de notícias financeiras Thomson Reuters. Em tese, menos mau.
Além do mais, dado que o clima não está muito bom, as taxas de juros até que foram razoáveis. Ainda que a petroleira esteja endividada além do limite tido como razoável, parece que a empresa vai usar boa parte do dinheiro apenas para rolar sua dívida, sem se enforcar mais.
Além do mais, a "captação", a tomada de empréstimo, era esperada. Assim, o povo do mercado avaliava que o efeito do novo papagaio sobre o preço das ações seria neutro.
Bem, o efeito foi neutro sem no fim das contas ter sido. O preço das ações da Petrobras rolou ontem pelas tabelas (-2,32%), abraçado ao da sua prima gigante, a Vale (-2,65%). Ambas saíram mais arranhadas do que a média da Bovespa, que caiu 1,54%.
Em tese, para variar, o motivo alegado para a fuga da Bovespa e das grandes irmãs de recursos naturais foi mais um tropeço da economia chinesa, ou assim a coisa pareceu para quem tem muito dinheiro no mundo. Pelo sim ou não, o fato é que estamos sem para-brisas: o vento ruim entra.
E daí que a Bolsa caiu ontem? É verdade, não dá para levar em conta faniquitos cotidianos menores das Bolsas. O problema é que a Bolsa brasileira vem rolando a ladeira faz muito tempo.
O Ibovespa caiu 15,5% em 2013; em 2014, já perdeu quase 12%. Em termos reais, os papéis da Petrobras estão com preços de século passado. Isso tem relevância? Alguma. Além do mais, é sintoma relevante.
A derrubada do Ibovespa quer dizer que os donos do dinheiro não estão, bidu, acreditando no crescimento da economia brasileira. Quer dizer em parte que os investidores temem desvalorizações do real. Que estão desconfiados do que pode acontecer com preços e lucros das empresas, pois o governo tenta tabelá-los ou contê-los, mais ou menos indiretamente.
O governo tentou fazer tal coisa com o lucro dos bancos (um pouco no grito, um pouco com concorrência da banca estatal). Fez isso com empresas do setor elétrico, que além do mais estão à espera de uma grana do governo para compensar perdas com a explosão do preço da eletricidade. O governo, enfim, degrada a Petrobras, que não faz caixa e fica relativamente mais endividada porque é obrigada pelo governo a subsidiar o preço dos combustíveis, como bem se sabe.
Com o preço das suas ações no chão, ou mesmo enterrados, em alguns casos, é fácil perceber que as empresas não vão se animar a investir (considere-se a hipótese, teórica e amalucada, nesse ambiente, de uma empresa tomar dinheiro via venda de ações novas: estaria praticamente entregando de mão beijada uma parte do seu negócio).
Obviamente, a Bolsa não determina o que vai ser do investimento (novos negócios, fábricas, instalações etc.) no Brasil. Mas é um termômetro da má fase, entre outros: a confiança do consumidor está em nível do ano ruim de 2009, as expectativas de crescimento do PIB estão em baixa, as de inflação rondam os 6%, dissemina-se o temor, realista ou não, de falta de eletricidade.
Certo, certo, não é desastre. É pântano.
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