O Estado de S.Paulo - 11/03
Dilma Rousseff disse recentemente, quase em tom de queixume, que não consegue nem ir à praia de vez em quando porque tem de ser presidente "24 horas por dia". Se isso fosse verdade, o País, hoje apenas mal administrado, provavelmente estaria desgovernado. O fato é que a única coisa que Dilma tem feito em tempo integral, desde que assumiu o poder, não é presidir o Brasil, e sim preparar-se para a próxima eleição.
Não há nada em sua agenda, em suas decisões ou em seus pronunciamentos que não tenha o objetivo de mantê-la no palanque. Foi o que aconteceu no último dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher.
A título de "celebrar a força e a coragem das mulheres", Dilma mandou convocar uma rede nacional de rádio e de TV para um discurso à Nação. Trata-se de um despropósito. O Decreto 84.181, que regulamenta a rede nacional, deixa bem claro que essa convocação só pode ser feita em caráter excepcional, visando à "divulgação de assuntos de relevante importância". Parece indiscutível que fazer um pronunciamento acerca daquela data passa longe de ter a relevância determinada pela legislação.
Para quem já disse que, em eleição, se pode "fazer o diabo", não deveria surpreender que Dilma se utilize de recursos públicos para tocar essa campanha fora de hora. O tal pronunciamento em homenagem às mulheres não foi nem mesmo embalado em alguma forma de utilidade pública para tapear os incautos.
Todo o discurso, da primeira à última linha, serviu apenas para dar ênfase às supostas realizações da presidente, e nada mais.
Preparada por seus marqueteiros para dizer cada sílaba conforme sofisticadas técnicas de propaganda, Dilma usou as mulheres como mero pretexto. Depois de dizer que "as mulheres são a maior força emergente no mundo" e que "o Brasil está contribuindo, de forma decisiva, para que essa força se amplie e se torne cada vez mais presente", a presidente afirmou que se abrem mais oportunidades "quando a força da mulher encontra apoio nas políticas do governo".
Dilma citou então a criação de "novas linhas de crédito para as mulheres", como o Crescer. O problema é que não há nenhum programa de crédito específico para mulheres, como disse a presidente. O Crescer, mencionado por ela, é voltado para os clientes do programa Brasil Sem Miséria - homens e mulheres, indistintamente.
Mais adiante, Dilma citou o programa Mulher, Viver Sem Violência, que visa a proteger as mulheres vítimas de agressões. Já aprovado pelo Congresso, com dotação de R$ 305 milhões e tido como prioritário pela presidente, o tal programa, como quase tudo neste governo, ainda não saiu do papel, conforme mostrou o Estado. A Secretaria de Políticas para as Mulheres informou que "o processo é demorado". Para Dilma, porém, parece não haver problema em explorar, em rede nacional, algo que não existe.
Desprovida de freios éticos, Dilma fechou o discurso atribuindo-se a "legitimidade da presidenta (sic) que ampliou as oportunidades para as mulheres" e sugerindo que deve ser reeleita porque "é preciso fazer muito mais".
Não é de hoje que Dilma e outros petistas exploram a rede nacional de rádio e de TV para fazer campanha eleitoral - até o Natal já foi pretexto. Em janeiro, o então ministro da Saúde, Alexandre Padilha, usou essa ampla exposição na mídia para anunciar uma campanha de vacinação que só ocorreria mais de um mês depois. Do pronunciamento de Padilha, feito às vésperas de deixar o cargo para começar sua campanha ao governo do Estado de São Paulo, mais da metade serviu apenas para elogiar sua gestão.
A Justiça Eleitoral, tão zelosa quando se trata de proibir páginas no Facebook que fazem campanha para este ou aquele candidato, deveria empenhar-se em impedir que o governo do PT continue cinicamente a se esbaldar com o dinheiro público e a abusar de prerrogativas oficiais com o objetivo de ampliar a já enorme visibilidade de Dilma.
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