CORREIO BRAZILIENSE - 31/03
O Brasil é país governado pela indústria automobilística. As ambições e desatinos desse conluio empresarial degradam a nação. Seus interesses pecuniários sobrepõem-se aos princípios básicos da democracia, controlando grande parte do aparelho do Estado. A ditadura do automóvel tomou conta não apenas das ruas, praças e avenidas, mas também de câmaras legislativas, do Congresso Nacional e do Poder Executivo.
Prova maior do aparelhamento automobilístico do Estado brasileiro é a recente tentativa de mudança do projeto urbano da capital da República, produto do talento nacional, reconhecido no seu valor artístico, arquitetônico, histórico, tombado como Patrimônio Cultural da Humanidade.
Indiferentes aos princípios que norteiam a cidadania, deputados da Câmara Legislativa aprovaram intervenção na obra que transformou o cerrado em sede monumental da Capital da Esperança. Pretendem desfazer a beleza e a dimensão da Esplanada dos Ministérios. Querem invadir seu subsolo com vagas para 10 mil veículos. Falam em nome de benefícios para o povo brasiliense. Praticam, no entanto, vergonhosa submissão às estratégias impositivas da indústria de automotivos.
A Esplanada dos Ministérios é monumento da República. Tem de ser entendida como intocável. Se não há espaço para estacionar carros dos servidores que ali trabalham, ou do público que para lá se dirige, a solução não é violar recantos e estruturas de Brasília, infestando-os com as metástases do pior câncer tecnológico que tomou conta do organismo das cidades.
A tirania da indústria de automóveis precisa ser desmascarada. A capital da República deveria estar na vanguarda da mobilidade urbana representada pela rede de metrô, tão eficientemente implantada nos países que respeitam os direitos do cidadão. O subsolo não pode ser transformado em pátio de montadoras. Deve ser reservado às linhas de metrô, a serem espalhadas por todo o Plano Piloto e cidades do DF para garantir deslocamento rápido, seguro, de baixo custo, capaz de devolver à população os pontos urbanos hoje ocupados pelas viaturas. Essa modalidade de transporte público não se instala há décadas no país porque as empresas que produzem e vendem carros detêm o controle das instâncias decisórias de todos os governos.
A arrogância legislativa que pretende estacionar automóveis no subsolo da Esplanada dos Ministérios, engarrafando ainda mais o coração do patrimônio cultural da humanidade, deve ser rejeitada pela sociedade. Se algum dia for entendida válida qualquer mudança no terreno da praça central de Brasília, que ali sejam construídas creches de qualidade para acomodar a população infantil, filha de grande número de mães que trabalham nas estruturas de cada um dos abundantes ministérios. Por que carro, não criança? A resposta é fácil. Carro é política e financeiramente rentável. Criança não vota, é desprezada pela classe dominante.
Na cidade de Melbourne, Austrália, há uma linha de metrô de superfície que circula o dia inteiro à volta do grande centro urbano. Tem qualidade, pontualidade, segurança e é gratuita. Grande número de pessoas usa aquele meio de transporte. Se algo comparável fosse desenvolvido na Esplanada dos Ministérios e Praça dos Três Poderes, a demanda de vagas de estacionamento desapareceria imediatamente. No entanto, como a desova diária de carros não pode ser interrompida, as referências históricas e monumentais de todos os municípios brasileiros encontram-se ameaçadas, se não já destruídas e transformadas em garagens. Na França, cabe às montadoras custear boa parte das vias de circulação de carros. No Brasil, o sistema viário é custeado unicamente pelo Estado, logo, pelos cidadãos.
Os fabricantes de automóveis comandam o poder no país. Determinam redução de juros e facilitação de crédito para garantir venda de veículos. Forçam a manutenção do preço de combustíveis abaixo do valor requerido pelo equilíbrio da economia. Enganam, iludem e engodam os brasileiros por meio de propaganda desonesta. Só mostram imagens de veículos em paraísos da natureza, embelezados por mulheres lindas e atraentes, jamais nas filas de congestionamento em que passarão a circular, se adquiridos.
Brasília merece respeito. É orgulho do povo brasileiro. É patrimônio histórico e cultural da humanidade. Não pode ser desvirtuada de sua vocação por medidas irresponsáveis e devastadoras. Se atingida, de fato, pelo projeto legislativo que quer desfigurá-la, deixará de ter uma Esplanada dos Ministérios. Despontará a Esplanada das Montadoras.
Prova maior do aparelhamento automobilístico do Estado brasileiro é a recente tentativa de mudança do projeto urbano da capital da República, produto do talento nacional, reconhecido no seu valor artístico, arquitetônico, histórico, tombado como Patrimônio Cultural da Humanidade.
Indiferentes aos princípios que norteiam a cidadania, deputados da Câmara Legislativa aprovaram intervenção na obra que transformou o cerrado em sede monumental da Capital da Esperança. Pretendem desfazer a beleza e a dimensão da Esplanada dos Ministérios. Querem invadir seu subsolo com vagas para 10 mil veículos. Falam em nome de benefícios para o povo brasiliense. Praticam, no entanto, vergonhosa submissão às estratégias impositivas da indústria de automotivos.
A Esplanada dos Ministérios é monumento da República. Tem de ser entendida como intocável. Se não há espaço para estacionar carros dos servidores que ali trabalham, ou do público que para lá se dirige, a solução não é violar recantos e estruturas de Brasília, infestando-os com as metástases do pior câncer tecnológico que tomou conta do organismo das cidades.
A tirania da indústria de automóveis precisa ser desmascarada. A capital da República deveria estar na vanguarda da mobilidade urbana representada pela rede de metrô, tão eficientemente implantada nos países que respeitam os direitos do cidadão. O subsolo não pode ser transformado em pátio de montadoras. Deve ser reservado às linhas de metrô, a serem espalhadas por todo o Plano Piloto e cidades do DF para garantir deslocamento rápido, seguro, de baixo custo, capaz de devolver à população os pontos urbanos hoje ocupados pelas viaturas. Essa modalidade de transporte público não se instala há décadas no país porque as empresas que produzem e vendem carros detêm o controle das instâncias decisórias de todos os governos.
A arrogância legislativa que pretende estacionar automóveis no subsolo da Esplanada dos Ministérios, engarrafando ainda mais o coração do patrimônio cultural da humanidade, deve ser rejeitada pela sociedade. Se algum dia for entendida válida qualquer mudança no terreno da praça central de Brasília, que ali sejam construídas creches de qualidade para acomodar a população infantil, filha de grande número de mães que trabalham nas estruturas de cada um dos abundantes ministérios. Por que carro, não criança? A resposta é fácil. Carro é política e financeiramente rentável. Criança não vota, é desprezada pela classe dominante.
Na cidade de Melbourne, Austrália, há uma linha de metrô de superfície que circula o dia inteiro à volta do grande centro urbano. Tem qualidade, pontualidade, segurança e é gratuita. Grande número de pessoas usa aquele meio de transporte. Se algo comparável fosse desenvolvido na Esplanada dos Ministérios e Praça dos Três Poderes, a demanda de vagas de estacionamento desapareceria imediatamente. No entanto, como a desova diária de carros não pode ser interrompida, as referências históricas e monumentais de todos os municípios brasileiros encontram-se ameaçadas, se não já destruídas e transformadas em garagens. Na França, cabe às montadoras custear boa parte das vias de circulação de carros. No Brasil, o sistema viário é custeado unicamente pelo Estado, logo, pelos cidadãos.
Os fabricantes de automóveis comandam o poder no país. Determinam redução de juros e facilitação de crédito para garantir venda de veículos. Forçam a manutenção do preço de combustíveis abaixo do valor requerido pelo equilíbrio da economia. Enganam, iludem e engodam os brasileiros por meio de propaganda desonesta. Só mostram imagens de veículos em paraísos da natureza, embelezados por mulheres lindas e atraentes, jamais nas filas de congestionamento em que passarão a circular, se adquiridos.
Brasília merece respeito. É orgulho do povo brasileiro. É patrimônio histórico e cultural da humanidade. Não pode ser desvirtuada de sua vocação por medidas irresponsáveis e devastadoras. Se atingida, de fato, pelo projeto legislativo que quer desfigurá-la, deixará de ter uma Esplanada dos Ministérios. Despontará a Esplanada das Montadoras.
Nenhum comentário:
Postar um comentário