CORREIO BRAZILIENSE - 31/03
O Relatório Trimestral de Inflação (RTI) não é um papelucho qualquer. Não se trata de um libelo raivoso de oposicionistas empenhados em denegrir a gestão da economia pelo governo federal. Tampouco é um texto produzido por profissionais do mercado financeiro destinado a orientar a clientela de investidores sobre os perigos ou vantagens da conjuntura. É muito mais do que isso.
Previsto nas regras que instituíram no país o controle severo e transparente da inflação, o RTI é preparado pelo Banco Central (BC) e é tão importante quanto a fixação de metas anuais a serem cumpridas pela autoridade monetária, ou a agenda previamente divulgada de reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) para deliberar sobre as taxas básicas de juros.
No relatório, a autoridade é obrigada a expor dados e suas opiniões sobre como tem se comportado a economia, de modo geral, e a evolução da inflação em particular. A ideia é transmitir ao mercado e à sociedade que cenário o órgão responsável pelo cumprimento das metas de inflação fixadas com dois anos de antecedência pelo Conselho Monetário Nacional traça para a economia do país neste e no próximo ano.
Por tudo isso, o RTI do primeiro trimestre de 2014, divulgado na semana passada, não pode deixar de ser levado em conta pelos agentes do mercado financeiro - normalmente atentos - e até mesmo por todo o governo. Mais do que nos relatórios anteriores, no de março o BC realça sua condição de autoridade monetária (que deveria ser até mais independente do que lhe permite o Planalto).
Sem promessas vãs e sem cenários róseos orientados pelo marketing político, o relatório chama a atenção para as pedras que a gestão da política fiscal (gastos crescentes do governo) tem colocado em seu caminho. E, com precisão técnica, destaca uma das faces da "criatividade contábil" utilizada para melhorar a foto das contas públicas: o represamento de preços administrados.
É o caso dos combustíveis, sabidamente defasados em relação ao custo da importação pela Petrobras, com o equivocado propósito de "segurar" a inflação. Como uma inflamação tratada a analgésicos, essa postergação apenas deu mais tempo para agravar o problema. No campo fiscal, o ano começou com a varrição das despesas para cobrir as trapalhadas no setor de energia elétrica, afetado por medidas que pretendiam baixar as tarifas ao consumidor, para debaixo do tapete de 2015.
Foi por essas e por outras dificuldades fora de seu controle que o relatório do BC elevou a expectativa de inflação de 5,5% para 6,1% este ano e para 5,5% em 2015. Pior: revelou discreto, mas incontido pessimismo em suas previsões de crescimento da economia, baixando a estimativa de 2,3% para 2%. Essas projeções, vindas de onde vieram, revelam a certeza do BC de que ficará mais uma vez sozinho no combate à inflação e sugerem a necessidade de mudanças urgentes na orientação da economia.
Por ora, corremos o risco de ficarmos de fora daquilo que o ministro Guido Mantega, da Fazenda, anunciou na sexta-feira a estudantes da Fundação Getulio Vargas: "Estamos nas vésperas de um novo ciclo de crescimento". Ele se referia à economia mundial.
Previsto nas regras que instituíram no país o controle severo e transparente da inflação, o RTI é preparado pelo Banco Central (BC) e é tão importante quanto a fixação de metas anuais a serem cumpridas pela autoridade monetária, ou a agenda previamente divulgada de reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) para deliberar sobre as taxas básicas de juros.
No relatório, a autoridade é obrigada a expor dados e suas opiniões sobre como tem se comportado a economia, de modo geral, e a evolução da inflação em particular. A ideia é transmitir ao mercado e à sociedade que cenário o órgão responsável pelo cumprimento das metas de inflação fixadas com dois anos de antecedência pelo Conselho Monetário Nacional traça para a economia do país neste e no próximo ano.
Por tudo isso, o RTI do primeiro trimestre de 2014, divulgado na semana passada, não pode deixar de ser levado em conta pelos agentes do mercado financeiro - normalmente atentos - e até mesmo por todo o governo. Mais do que nos relatórios anteriores, no de março o BC realça sua condição de autoridade monetária (que deveria ser até mais independente do que lhe permite o Planalto).
Sem promessas vãs e sem cenários róseos orientados pelo marketing político, o relatório chama a atenção para as pedras que a gestão da política fiscal (gastos crescentes do governo) tem colocado em seu caminho. E, com precisão técnica, destaca uma das faces da "criatividade contábil" utilizada para melhorar a foto das contas públicas: o represamento de preços administrados.
É o caso dos combustíveis, sabidamente defasados em relação ao custo da importação pela Petrobras, com o equivocado propósito de "segurar" a inflação. Como uma inflamação tratada a analgésicos, essa postergação apenas deu mais tempo para agravar o problema. No campo fiscal, o ano começou com a varrição das despesas para cobrir as trapalhadas no setor de energia elétrica, afetado por medidas que pretendiam baixar as tarifas ao consumidor, para debaixo do tapete de 2015.
Foi por essas e por outras dificuldades fora de seu controle que o relatório do BC elevou a expectativa de inflação de 5,5% para 6,1% este ano e para 5,5% em 2015. Pior: revelou discreto, mas incontido pessimismo em suas previsões de crescimento da economia, baixando a estimativa de 2,3% para 2%. Essas projeções, vindas de onde vieram, revelam a certeza do BC de que ficará mais uma vez sozinho no combate à inflação e sugerem a necessidade de mudanças urgentes na orientação da economia.
Por ora, corremos o risco de ficarmos de fora daquilo que o ministro Guido Mantega, da Fazenda, anunciou na sexta-feira a estudantes da Fundação Getulio Vargas: "Estamos nas vésperas de um novo ciclo de crescimento". Ele se referia à economia mundial.
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