O GLOBO - 31/03
Simonsen pedira demissão em 1979 convencido da impropriedade de uma política econômica expansionista durante a crise do petróleo
Aconteceu no último governo do regime militar, de João Figueiredo. A escalada inflacionária prosseguia em direção aos três dígitos anuais. A culpa seria atribuída ao segundo choque do petróleo, mas na verdade estávamos vulneráveis nos fronts externo e interno. O ritmo acelerado de endividamento externo no governo Geisel deixara mais frágeis as contas externas.
Enquanto isso, prosseguia a excessiva expansão do crédito interno. O ministro da Agricultura, Delfim Netto, parecia ter pretensões políticas. "Plante que o João Garante": essa era a senha para a conta sem limites aberta para o crédito agrícola no orçamento monetário.
O ministro do Planejamento, Mário Henrique Simonsen, pedira demissão em 1979 convencido da impropriedade de uma política expansionista durante a crise do petróleo. As pressões de custos se propagaram em uma economia indexada, repassadas automaticamente aos preços em meio ao descontrole monetário.
Simonsen se convencera da insanidade desse esforço "desenvolvimentista", dessa tentativa de reedição do "milagre econômico", que atribuía ao plantio de Roberto Campos e Octávio Bulhões, e não à colheita de Delfim.
"Nunca pensei que Delfim acreditasse nessa história de derrubar a inflação através do preço da comida, em meio ao descontrole monetário", dizia Simonsen. E divertia-se contando a piada do grupo de ópera ambulante que se exibia em pequenas cidades italianas. "A cada apresentação, o tenor encerrava o ato vaiado estrepitosamente.
Mas retirava-se às gargalhadas, para ainda maior irritação da plateia. Perguntado a respeito, fulminava em novo ataque de risos: "Se não gostaram do tenor, esperem o barítono"." Parecia-me obviamente inadequada a política macroeconômica: correções monetária e cambial prefixadas, e irrealistas ante políticas monetária e fiscal frouxas.
Eu criticava ferozmente o governo em jornais e televisões. Fui chamado a Brasília para uma conversa com Delfim. Ao final, pediu-me que fosse falar com o presidente do Banco Central, que me disse então: "Simonsen simulou uma gripe e indicou você para a palestra que daria. Suas críticas foram gravadas e entregues ao Delfim. Há uma diretoria vaga no Banco Central. Delfim te chamou pensando em você para essa vaga." Para minha surpresa, completou: "Quer que você afunde conosco." A primeira vez, a gente nunca esquece.
Enquanto isso, prosseguia a excessiva expansão do crédito interno. O ministro da Agricultura, Delfim Netto, parecia ter pretensões políticas. "Plante que o João Garante": essa era a senha para a conta sem limites aberta para o crédito agrícola no orçamento monetário.
O ministro do Planejamento, Mário Henrique Simonsen, pedira demissão em 1979 convencido da impropriedade de uma política expansionista durante a crise do petróleo. As pressões de custos se propagaram em uma economia indexada, repassadas automaticamente aos preços em meio ao descontrole monetário.
Simonsen se convencera da insanidade desse esforço "desenvolvimentista", dessa tentativa de reedição do "milagre econômico", que atribuía ao plantio de Roberto Campos e Octávio Bulhões, e não à colheita de Delfim.
"Nunca pensei que Delfim acreditasse nessa história de derrubar a inflação através do preço da comida, em meio ao descontrole monetário", dizia Simonsen. E divertia-se contando a piada do grupo de ópera ambulante que se exibia em pequenas cidades italianas. "A cada apresentação, o tenor encerrava o ato vaiado estrepitosamente.
Mas retirava-se às gargalhadas, para ainda maior irritação da plateia. Perguntado a respeito, fulminava em novo ataque de risos: "Se não gostaram do tenor, esperem o barítono"." Parecia-me obviamente inadequada a política macroeconômica: correções monetária e cambial prefixadas, e irrealistas ante políticas monetária e fiscal frouxas.
Eu criticava ferozmente o governo em jornais e televisões. Fui chamado a Brasília para uma conversa com Delfim. Ao final, pediu-me que fosse falar com o presidente do Banco Central, que me disse então: "Simonsen simulou uma gripe e indicou você para a palestra que daria. Suas críticas foram gravadas e entregues ao Delfim. Há uma diretoria vaga no Banco Central. Delfim te chamou pensando em você para essa vaga." Para minha surpresa, completou: "Quer que você afunde conosco." A primeira vez, a gente nunca esquece.
Nenhum comentário:
Postar um comentário