O GLOBO - 28/02
O investimento, os serviços e a agropecuária permitiram que o Brasil tivesse um crescimento de 2,3% em 2013, o que não é muito, mas teve um sabor melhor porque o último trimestre foi mais forte do que todas as previsões do mercado e do Banco Central. O crescimento do investimento foi ofuscado pela retração da taxa de poupança, que caiu para 13,9% do PIB.
O grande destaque do ano foi a alta de 6,3% da Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), sinônimo de investimento, que recuperou o tombo de 4% de 2012. Ainda assim, a taxa de poupança como proporção do PIB teve uma alta modesta, de 18,2% para 18,4%, ainda muito abaixo do patamar que o país precisa para se equiparar a outros emergentes.
Esse número veio acompanhado pela terceira retração seguida da taxa de poupança que, desde de 2010, recuou de 17,5% para 13,9% do PIB. O país está sem poupança interna para investir e o forte déficit em conta corrente mostra que tomar empréstimos no exterior dá sinais de esgotamento.
As novas plataformas da Petrobras não entraram na conta de investimento, porque tiveram que entrar nas estatísticas da exportação. Em relação ao mesmo período de 2012, o investimento subiu em todos os trimestres e foi, segundo a especialista do IBGE em Contas Nacionais, Rebeca Palis, uma das razões de um resultado positivo no ano. Porém, as plataformas, que foram uma parte relevante do investimento da Petrobras, tiveram que entrar na contabilidade das exportações, apesar de não terem saído do Brasil.
- Elas entram nas contas da produção porque foram feitas no Brasil e entraram em exportação porque passaram para as mãos de não residente - disse.
Na verdade, o não residente é a própria Petrobras, no exterior. Ela vende para uma subsidiária e aluga. Entra na exportação sem ter saído do Brasil e não é calculado em investimento. É uma forma de pagar menos imposto, mas cria um contorcionismo nas contas nacionais. Já uma grande parte que engordou a FBCF foi a renovação da frota de caminhões e ônibus com os novos motores.
O que provocou o erro generalizado nas previsões foi a dificuldade de institutos, consultorias e bancos de calcular o setor de serviços.
- O setor de serviços é grande, pulverizado, e só o IBGE é o IBGE; capaz de saber cada um dos deflatores usados e tendo agora a Pesquisa Mensal de Serviços - disse Silvia Matos, da FGV.
A FGV tinha previsto 0,8% de alta no último trimestre, mas depois passou a reduzir a previsão e estava com 0,1%. No mercado, as estimativas iam de -0,2% até 0,5%. O Banco Central registrou um trimestre negativo de 0,17% no IBC-Br. E o número oficial do IBGE foi 0,7% de crescimento no último trimestre do ano, acima da previsão mais otimista.
- É difícil replicar o que nós fazemos aqui. Quando introduzimos a Pesquisa Mensal de Serviços passamos a ter dados mais precisos. Para os serviços às famílias, usamos o IPCA de deflator, mas para as empresas existem vários deflatores e nós ainda usamos outras medidas da cadeia produtiva para confirmar os cálculos. O setor de serviços é grande demais e, portanto, um número positivo dele altera o resultado - explicou Palis.
O país cresceu mais do que se esperava no último trimestre e teve um resultado para 2013 maior do que o magro 1% de 2012. A previsão para 2014 é menor. Quem realmente cresceu foi a agropecuária, que teve o melhor resultado desde 1996, na atual série do PIB. Mas ela tem um impacto direto de apenas 5,3% no PIB.
- A agropecuária cresceu muito, de fato, mas não gera tanta renda, apesar de movimentar outros setores. No mundo inteiro a agricultura representa um pedaço pequeno do Produto Interno Bruto - diz Rebeca.
No fim da apresentação, o IBGE fez uma seleção de 13 países que já soltaram os resultados do último trimestre e registrou que o Brasil foi o terceiro país que mais cresceu. A lista não é extensiva, não pega todos os países que já têm dados finais, mas foi usada para alegrar algumas manchetes.
O fato concreto é que o país cresceu pouco. Foi melhor do que os países da Europa, o que não é difícil. Cresceu mais do que o México, o que é interessante porque o México tem sido muito elogiado no mercado internacional. Mas o desempenho do Brasil nos últimos anos tem sido muito menor do que poderíamos ter crescido se o país removesse os obstáculos ao crescimento.
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