FOLHA DE SP - 28/02
Além de entregar três anos de baixo crescimento, governo Dilma amplia a lista de problemas extras que o país precisará resolver
O desempenho melhor do que o esperado da economia no último trimestre foi o aspecto de maior relevo nas primeiras análises do PIB de 2013, divulgado ontem, com um crescimento de 2,3%.
O resultado positivo deve atenuar o pessimismo crescente neste início de 2014, mas o ritmo do final do ano tem escassa relevância para a análise da recente trajetória brasileira e da perspectiva até meados da próxima gestão.
Ressaltar que os três primeiros anos de Dilma Rousseff (PT) na Presidência apresentaram a menor taxa média desde o triênio encerrado em 2003 tampouco é grande contribuição para o debate. Com frequência se exagera o poder de governos de influenciar o avanço do PIB no curto prazo.
O Brasil de fato se viu afetado por crises externas. Além do mais, ao tomar posse, Dilma teria de dirigir uma economia prejudicada por excessos do segundo mandato de Lula --como inflação, gastos públicos e endividamento em alta--, para nada dizer dos notórios empecilhos ao desenvolvimento.
É bem provável que mesmo um bom governo não entregasse uma expansão muito maior do que a registrada até aqui. Uma administração dada à prudência financeira e atenta às necessárias modificações estruturais, que a princípio sempre causam perturbações, talvez colhesse apenas o ônus de curto prazo de uma gestão reformista.
O que mais se lamenta acerca dos resultados atuais é a indesejável combinação de baixo crescimento com um passivo de problemas extras a resolver.
Há inflação represada por controles de preços, artifícios que de resto causam várias outras distorções na economia. Os juros permanecerão altos por anos ainda, minando o ritmo econômico.
A penúria financeira do governo federal limitará o investimento público. Os desarranjos causados no mercado, a desconfiança que inúmeras intervenções causaram e o descaso com as normas que dão segurança ao empreendedor solapam o ânimo de expansão das empresas.
A presidente Dilma Rousseff iniciou seu governo como se não houvesse obstáculos a um crescimento de mais de 4% ao ano, como alardeava em sua posse. Agiu de acordo, como se tudo dependesse apenas da vontade do Estado, com o que acabou de danificar ainda mais a máquina avariada da economia brasileira.
Este é seu legado, e não o triênio --ou mesmo a quadra-- pouco significativo: o desperdício dos anos de seu governo, e talvez os do início da próxima gestão, tempo que poderia ter sido empregado para preparar o país para um crescimento acelerado.
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