GAZETA DO POVO - PR - 28/02
A visão dos analistas internacionais e das agências de classificação de risco, especialmente para os países emergentes, muda ao longo do tempo. Desde 2003, quando o Goldman Sachs cunhou o acrônimo Brics (grupo de países formado por Brasil, Rússia, Índia e China, que seriam os responsáveis por liderar o processo de crescimento econômico mundial), a situação mudou radicalmente.
Recentemente, o banco de investimento Morgan Stanley incluiu o Brasil num grupo nada seleto, o dos “cinco frágeis”. O grupo é formado também por Turquia, Indonésia, Índia e África do Sul. Na análise do banco, são os cinco países emergentes mais frágeis às alterações que devem ocorrer no cenário internacional de mudança da política monetária dos EUA. Elevados déficits no saldo em transações correntes e alta inflação ao consumidor são os elementos comuns desses países. A questão tomou uma proporção mais séria quando o relatório semestral de política monetária do Federal Reserve (FED), o banco central dos EUA, sustentou que o Brasil é a segunda economia emergente mais vulnerável às alterações recentes do cenário internacional, à frente apenas da Turquia.
O Brasil faz parte de um seleto grupo que irá liderar o crescimento mundial ou é um dos emergentes mais frágeis? É difícil responder a questão, mas o que se pode afirmar é que, a partir do momento em que o “mercado” e instituições relevantes como o FED estabelecem certo grau de consenso sobre a situação econômica de um país, parte dos investidores internacionais passa a guiar suas decisões – especialmente sua alocação de portfólio – a partir destes consensos.
É inútil o governo brasileiro se esforçar em desqualificar a visão dos agentes envolvidos. A apresentação no plenário do Senado de voto de censura para a avaliação do FED pela senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), ainda que bem- -intencionada, será absolutamente inócua. O que o governo brasileiro precisa fazer, ainda que não seja necessariamente suficiente, é demonstrar que está empenhado em alterar a situação. A receita não é indolor: promover um corte de gastos do governo superior ao anunciado, demonstrando que se pretende restabelecer o compromisso com o equilíbrio fiscal; elevar as taxas de juros domésticas até o ponto em que a inflação dê sinais reais de convergência para o centro da meta, ou seja, é preciso restabelecer o compromisso com o regime de metas de inflação; promover urgentemente um programa de ajuste das contas externas brasileiras (que não passe, evidentemente, pela inócua “reinvenção” do protecionismo dos anos 50, mas que também não acredite que o país pode manter uma situação externa favorável “apenas” com a exportação de commodities), e nesse sentido políticas de inovação científica e tecnológica e de promoção de exportações são muito bem-vindas; e, finalmente, acabar com o populismo das tarifas de energia e dos preços de combustíveis – uma realidade tarifária é bem-vinda, ainda que sua implantação precise ser gradual, em função dos efeitos sobre a inflação.
Mudanças na visão dos agentes sempre ocorrem. No caso atual, o governo não pode dizer que não contribuiu para esta alteração. Os erros na condução da política econômica foram significativos. Argumentar que essas avaliações são muitas vezes incorretas e imaginar que por isso podem ser desconsideradas é o pior que um país pode fazer. Brigar com o mercado ou desqualificar esses argumentos dizendo que “eles não sabem de nada” é, na melhor das hipóteses, inócuo.
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