O Estado de S.Paulo - 21/02
A classe média está no radar de todas as campanhas presidenciais. Mais do que sempre esteve, porque agora inclui público muito maior que tem mostrado nas pesquisas qualitativas seus anseios com gosto de quero mais.
Depois da estabilidade da economia que marcou a eleição de Fernando Henrique Cardoso; dos ganhos sociais que levaram Luiz Inácio da Silva aos píncaros da popularidade e da continuidade que elegeu Dilma Rousseff, o eleitor desta vez quer ouvir falar em melhoria de vida. Não de mera sobrevivência.
Exige condições decentes, não se conforma com o básico, almeja bem-estar, reciprocidade por parte do Estado a quem paga parcela substancial de seus salários em impostos, e está bem mais escolado na defesa contra promessas vãs.
É nesse cenário que os aliados dos três candidatos, a presidente e seus dois adversários, Aécio Neves e Eduardo Campos, analisam com franqueza protegida pelo anonimato que a disputa não está fácil para ninguém.
O favoritismo de Dilma apontado nas pesquisas só é analisado com o otimismo de vitória no primeiro turno na conta matemática de manchete de jornal.
Com 43,5% de avaliação positiva, oscilação negativa de avaliação de governo e críticas generalizadas em setores que até pouco tempo elogiavam ou prestavam silêncio reverencial, no dizer dos correligionários não configuram um ambiente confortável.
Os oposicionistas tampouco soltam foguetes. Reconhecem que não capitalizaram esse descontentamento. Esperam fazê-lo mais à frente quando o jogo efetivamente começar.
Mas, o patamar de 17% para Aécio e 9% para Eduardo Campos não autorizam os festejos dessa mesma época em 2010 quando José Serra navegava em índices de 40%.
A canoa virou, argumentam. E pode virar de novo, a favor deles. É verdade, mas quem sabe o que vem por aí na economia e na Copa? Ninguém. Quando se procura saber o que os oposicionistas pensam em fazer diante dos possíveis protestos a resposta é: preferencialmente nada.
Tirar proveito de possíveis tragédias ou de manifestações contra todos os políticos e que atingem também governadores de Estados onde haverá jogos pode ser um risco. Melhor não correr.
Conclusão: diante da constatação que dá início à nossa conversa, por ora preferem todos ficar na muda, preparando seus discursos de acordo com o que as pesquisas mostram que o eleitor quer ouvir e esperando o vendaval (para o bem ou para o mal) da Copa passar para, então, se apresentarem.
Até lá, é tudo aperitivo.
Faz sentido. No fim do ano passado num encontro de representantes de um grande banco de investimentos americano em Foz do Iguaçu na América Latina era grande a preocupação com a simpatia do governo brasileiro pelos países ditos bolivarianos.
O ex-presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, estava na plateia. Na ocasião soou algo estranha sua indagação sobre a possibilidade de o Brasil como líder da região seguir o rumo da Venezuela.
Para quem vive aqui a resposta é óbvia: zero. Mas, pensando bem, para quem acompanha o panorama a distância, agora ouve o silêncio do Brasil ante a convulsão venezuelana e não conhece a fundo a capacidade de resistência das instituições nacionais, é uma inquietação pertinente.
Em movimento. Está praticamente fechada a escolha do vice na chapa ao candidato do PMDB ao governo do Rio, Luiz Fernando Pezão. Será Ronaldo Cézar Coelho, ex-tucano agora filiado ao PSD de Gilberto Kassab.
O ex-prefeito é candidato ao governo de São Paulo com dois objetivos: mostrar ao seu eleitorado de perfil conservador que seu apoio a Dilma Rousseff é tático, não significa que tenha virado petista e ajudar a impedir a reeleição do governador Geraldo Alckmin.
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