FOLHA DE SP - 21/02
SYDNEY - Como a Austrália é um caso raro, quase o único, de país que mantém crescimento constante há 22 anos, o secretário do Tesouro australiano, Joe Hockey, pode se dar ao luxo de advertir os países emergentes. E advertiu.
Em discurso e num encontro fechado com nove jornalistas estrangeiros, entre dezenas que estão em Sydney, Hockey --que preside o G20 financeiro-- destacou que o pior da crise dos países ricos já passou e que os emergentes precisam, digamos, botar as barbas de molho.
Ao defender ajustes e a conclusão de reformas que fortaleçam e protejam os países de solavancos, fez uma advertência e uma sugestão.
Advertência: ajustes e reformas nunca são fáceis e suaves, mas se tornam ainda mais difíceis e ásperos em tempos de eleições (ou de reeleições). Em vez de contenção, gastança; em vez das reformas necessárias, anúncios populistas.
Ele não especificou, mas o alvo foram os "cinco frágeis", que eram, mas não são mais, os queridinhos mundiais: Brasil, Índia, África do Sul, Indonésia e Turquia. Todos têm eleição neste ano.
Sugestão: que os governos saibam informar e explicar as decisões e os porquês de ajustes, "enfrentando o desafio de fazer a comunidade entender e, finalmente, aceitar".
Bom conselho, nesses tempos em que as pessoas dos mais diferentes países se mobilizam pela internet e estão nas ruas protestando. Ou assimilam que tal decisão, apesar de dura, é necessária para o bem geral, ou simplesmente põem pra quebrar --às vezes, literalmente.
Hockey é uma voz a mais no consenso de que, sem rigor fiscal, controle da inflação, capital privado e liberdade comercial, não há desenvolvimento e, sem desenvolvimento, não há bem-estar sustentável.
Se a Austrália cresce sem parar há 22 anos, o Brasil patina há dois e pode perder a condição de Brics (possíveis líderes mundiais em 2050). Convenhamos, isso é até o de menos.
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