FOLHA DE SP - 22/01
Um voo rápido sobre as notícias que encerraram 2013 revela uma curiosa dicotomia. Aparentemente, nossos analistas não se distinguem pela objetividade, mas pelas crenças que cultivam e que insistem em apresentar como resultado de "suas ciências". Grosseiramente podemos reduzi-los a dois grupos.
De um lado, os que se consideram "certinhos" e que se creem neoliberais. No fundo, acreditam que há uma ordem "natural" na organização econômica da sociedade através de "mercados". Ela pode ser "revelada" pela análise da ação dos agentes em resposta aos incentivos que aqueles lhe proporcionam.
Caberia ao Estado apenas garantir o desimpedido funcionamento dos mercados (propriedade privada) e providenciar o fornecimento de bens públicos (segurança, justiça, valor da moeda etc.) que não podem ser eficientemente produzidos por ele. A combinação (de mercados com Estado) levaria à utilização "ótima" dos fatores de produção e à satisfação máxima dos agentes. E, naturalmente, ao nível "natural" do desemprego. A intervenção do Estado é, portanto, dispensável e, no limite, perturbadora do equilíbrio "natural".
Do outro lado, a fauna é mais interessante e se crê heterodoxa. Inclui toda sorte de contestadores da existência daquela "ordem": keynesianos e marxistas em todos os seus infinitos matizes, neodesenvolvimentistas, ecologistas, politicólogos, historiadores, geógrafos, niilistas, anarquistas e "tutti quanti". Cada um deles com seu próprio diagnóstico dos problemas e, obviamente, com receita infalível para resolvê-los desde que lhes seja dado ilimitado "poder" para implementá-la. Felizmente eles não o têm. Quando o tiveram, produziram os desastres do século 20.
Se, de um lado, é evidente que não existe ordem "natural" no universo econômico, do outro é também evidente que não é possível superar impossibilidades físicas (como distribuir o que não foi produzido) com medidas que pareçam "politicamente corretas". O fracasso do "poder" é sempre justificado pela falta de "mais poder", até atingir o "poder absoluto".
O caminho mais custoso para enfrentar problemas é o de ruptura com o sistema vigente e de entrega a um ente "sobrenatural", portador da santíssima trindade: a onipotência, a onipresença e a onisciência do partido incontestável, como sugerem nas entrelinhas alguns dos nossos contestadores...
Um exemplo da divisão é o respeito sacrossanto do primeiro grupo e o desprezo do segundo pela opinião das agências de "ratings". Nem uma coisa nem outra, mas é inútil ignorá-las, porque o "mercado" não as ignora...
Como insistiu o grande J. K. Galbraith, "a política não é a arte do possível. É a escolha entre o desagradável e o desastre".
Um comentário:
Será que alguém ainda vai na onda do Delfim Neto. Acredito que o tal está morto e esqueceram de enterrá-lo. O Saney deveria dar-lhe um cargo no Maranhão, talvez assim, quem sabe, teria a chance de mostrar o que sabe. Fica ai a sugestão.
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