O GLOBO - 22/01
Três empresários entrevistados pela coluna não tiveram dúvidas ao responder o que é pior: juros altos ou inflação? Todos acham que, para o setor produtivo, o que mais atrapalha é a inflação, que aumenta o custo das empresas. Por isso, entendem a necessidade de o Banco Central subir a Selic. O problema, dizem, é que também é preciso que o governo corte gastos e faça reformas. Isso não tem acontecido.
Há algumas diferenças entre a visão do empresariado e a do sistema financeiro sobre a economia brasileira. O pessimismo ficou maior nos bancos e nas consultorias; já o empresário, embora reconheça um cenário mais difícil, tenta manter a expectativa de que o futuro vai ser melhor e cita as baixas taxas de desemprego e o consumo forte.
— O Brasil não estava nem tão bem quanto muitos achavam em 2010 nem está tão mal agora. Nosso faturamento continua crescendo a taxas de dois dígitos. O natal veio abaixo do esperado, mas houve o black friday pouco tempo antes e as liquidações de janeiro foram boas — avalia o presidente da Positivo Informática, Hélio Bruck Rotenberg.
— Para a nossa indústria, 2013 não foi um desastre. Não foi um ano excelente, mas foi um bom ano, lançamos 180 produtos novos, o plano de investimentos foi mantido e o Brasil continua sendo o segundo maior mercado da nossa empresa no mundo — disse João Carlos Brega, CEO da Whrilpool Latin America.
Quem destoa desse cenário é o diretor-secretário da Abimaq, Carlos Pastoriza. Ele explica que a alta dos investimentos medida pelo IBGE — 9,6% de janeiro a novembro — não reflete a situação do setor de máquinas porque é a produção de caminhões que tem puxado o indicador para cima. Ele explica que o segmento de máquinas-ferramenta acumula queda de 50% em cinco anos, e que apenas as máquinas agrícolas estão com
vendas aquecidas.
— Nosso setor teve qu 3,4% em 2012 e de 5% em 2013. Esperamos nova retração em 2014. Há um processo silencioso de desindustrialização no Brasil. As empresas estão virando importadoras e maquiladoras. O déficit comercial do setor de máquinas chegou a US$ 20 bi em 2013.
Pastoriza é cético em relação ao baixo desemprego. Acha que o país tem gerado muitas vagas de baixa qualificação, e isso explica porque há tanta gente trabalhando e ainda assim o PIB continua fraco.
— Não temos criado vagas em setores importantes, que têm efeito multiplicador e geram valor agregado para a economia. São milhares de empregos em call centers, por exemplo, setores ligados a serviços que exigem baixa capacitação — disse.
De qualquer maneira, o número forte de empregados mantém o comércio aquecido e isso favorece empresas ligadas ao consumo. O que realmente tem incomodado o empresário, de qualquer segmento, é a inflação alta e o aumento dos juros. Ainda assim, tendo que escolher, os empresários ouvidos acham que é melhor subir os juros para combater a alta dos preços.
— Sempre vamos reclamar da Selic, que encarece o custo do capital. Mas, com a inflação crescendo, não há outro jeito. O ideal seria subir juros, no curto prazo, e fazer reformas e cortar gastos públicos. Com inflação de 6%, 7%, há aumento de salário que chega a 10%. A produtividade não acompanha — disse Rotenberg.
Sem saber o que havia dito Rotenberg, a resposta de João Carlos Brega foi semelhante:
— A inflação preocupa, principalmente a indexada, que está mais ligada aos salários, como o mínimo. Aumento de produtividade de 7% em um ano não existe, e há salários crescendo nessa magnitude — afirmou.
O dólar alto, como já dissemos aqui, tem sempre duas faces. Se ele ajuda as empresas ligadas à Abimaq, fazem mal à Positivo e a Whirlpool, que trabalham com componentes eletrônicos de preços internacionais, mesmo se foram fabricados no Brasil.
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