O Estado de S.Paulo - 08/01
Com todas as críticas que se possa fazer à entidade, fato é que a Fifa não pediu que a Copa de 2014 fosse no Brasil. Foi o governo brasileiro que resolveu se candidatar e se empenhar para o País ser o anfitrião. Deu garantias de que sairia tudo ao tempo e à hora firmados no contrato, cujas cláusulas foram aceitas.
Para não falar da infraestrutura, que nem atende as necessidades do cotidiano dos cidadãos locais, o que dirá para receber multidões de hóspedes, nada saiu conforme o combinado em relação à entrega dos estádios.
Por um motivo que o presidente da Fifa, Joseph Blatter, expôs com clareza meridiana: o Brasil teve sete anos para se preparar e não o fez. Mal e mal usou os últimos três. O governo foi exímio nas comemorações em 2007, mas só começou a pegar (mais ou menos) no pesado em 2010.
Tal a cigarra da fábula: cantou durante o verão ao pé do formigueiro que providenciava suas provisões para o inverno e, quando veio mau tempo, viu-se desprotegida no frio a mendigar abrigo às formigas.
De onde não há razão para ninguém se revoltar com as críticas. Notadamente porque elas são a expressão da verdade. A Copa vai acontecer? Sem dúvida. Tudo pode dar certo? Pode.
Mas as coisas poderiam ser feitas com planejamento e não na base do improviso que de alguma forma surge com uma ponta de orgulho nas declarações ufanistas.
A cada alerta, a presidente Dilma Rousseff reage como se houvesse ouvido uma ofensa à pátria amada e promete a realização da "melhor Copa de todos os tempos". Com base em quais dados objetivos não é possível enxergar a olho nu.
O ministro do Esporte, Aldo Rebelo, reforça esse comportamento. Inesquecível aquela comparação com as noivas que sempre atrasam, mas nem por isso deixam de se casar.
Metáfora descabida, como que enaltecedora da capacidade de fazer as coisas em cima da hora, de maneira atabalhoada, a custos muito mais altos que os previstos e ainda considerar o método exemplar. Uma lição a ser aprendida pelos apressados.
A Alemanha entregou 100% de seus estádios no prazo? A França tinha 80% prontos cinco meses antes da Copa, conforme atesta levantamento feito pela Folha de S. Paulo? Ora, mais aqui é o Brasil, tudo se resolve assim mesmo e, no fim, o que vale é o rebolado, parecem dizer nossas autoridades.
Um jeitinho brejeiro que põe o País sob o desnecessário risco de vir a ter de pedir desculpas pelo mau jeito.
Soma zero. Ainda que a substituição de ministros prevista para este início de ano não tivesse como critério a entrega dos cargos em busca do tempo de televisão dos partidos contemplados, a providência não poderia ser chamada de reforma.
Por definição reformar significa fazer mudanças com o objetivo de se aprimorar algo para a obtenção de melhores resultados.
Tal conceituação não faz parte de nenhuma conversa, no governo nem entre os partidos, sobre a troca de guarda na equipe presidencial. Não se fala em eficiência, não se apresentam os nomes dos possíveis ministros tendo como referência a capacidade específica para gerir essa ou aquela pasta, muito menos se discute o desempenho passado, presente ou futuro do ministério como um todo ou dos que ficarão vagos.
A Integração Nacional é um exemplo. PMDB, PTB e PP reivindicam o posto, os três interessados naquilo que o ministério pode fazer por eles e nenhum deles cobrados a dizer o que podem fazer pelo bom andamento da pasta, responsável pelo interminável projeto de transposição das águas do Rio São Francisco.
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