FOLHA DE SP - 08/01
A grande vantagem do calendário é que ele, psicologicamente, define um período ao qual damos significação. Temos a sensação de que 31 de dezembro encerra um período. Em 1º de janeiro inicia-se outro, novinho, como se houvesse uma descontinuidade física no tempo vivido.
Tudo se passa como se os fogos do Ano-Novo tivessem consumido consigo as alegrias e decepções, os erros e acertos de 2013. As contas são fechadas de forma inexorável e definitiva. É inútil ficar triste. É inútil blasfemar. É inútil arrepender-se. É inútil recorrer a contrafactuais que eram então oportunidades mas foram perdidas. O tempo terminou: 2013 foi o que nossas escolhas (do governo e do setor privado) fizeram dele! O que está feito está feito. Não pode ser não feito! Talvez possa ser refeito!
O problema é que a realidade física do mundo de janeiro é a mesma de dezembro à qual insistimos dar nomes diferentes na busca de novas esperanças que não se concretizarão se não houver convergência mais rápida do entendimento da realidade (e das limitações que ela impõe) por parte do governo e do setor privado. Três anos de desconfianças, suspeitas e incompreensões do setor privado e de um longo aprendizado do governo no tempo contínuo de 1.095 dias produziram um resultado pobre: 1) taxa de crescimento do PIB de 6%; 2) taxa de inflação de 19% e 3) deficit em conta corrente de US$ 187 bilhões.
Pobre, mas em relação a que? Àquilo que era razoável esperar, descontado o efeito da menor expansão mundial: 1) crescimento de 3% ao ano (ou 9% no período) contra os 6% (2/3 do esperado); 2) uma taxa de inflação declinante, a partir dos 5,9% de 2010, de 0,5% ao ano, para entregar a "meta de 4,5%" em 2013. Algo como 16% contra os 19% verificados (20% acima do esperado) e 3) um deficit em c/c de 2,7% do PIB, contra 1,8% do triênio anterior, o que o aumentou de US$ 127 bi para US$ 187 bi (47% acima do que ocorreu no triênio anterior cujo PIB cresceu 13% contra os 6% atuais!).
Não adianta sofisticar os diagnósticos e as receitas que eles sugerem. Com a enorme desconfiança recíproca entre o governo e o setor privado empresarial, existente até há pouco, não havia política econômica que funcionasse. Felizmente "caiu a ficha": a Casa Civil e os ministérios da Fazenda e dos Transportes, que "escutavam, mas não ouviam", passaram a "ouvir". E o setor privado, por sua vez, entendeu que "modicidade tarifária" não era "socialismo". Os primeiros resultados são visíveis: os sucessos dos leilões de infraestrutura mostram que o diálogo está restabelecendo a confiança. Com ela virão os investimentos!
Talvez essa seja mesmo uma descontinuidade temporal que fará um 2014 melhor do que a média do triênio 2011-13.
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