FOLHA DE SP - 11/11
SÃO PAULO - Está em curso na capital paulista uma série de audiências públicas em torno da nova edição do Plano Diretor, o código que deveria orientar o desenvolvimento urbano ao longo dos próximos anos. Deveria. O noticiário dá reiteradas mostras de que, na prática, uma interação caótica de ilegalidades e lobbies econômicos continuará usurpando o papel do plano.
Ilegalidades miúdas brotam a todo momento, na relação que muitos paulistanos de todas as classes de renda estabelecem com o espaço. Agem como desbravadores da terra virgem. Nesse bandeirantismo do asfalto, edificam o que lhes dá na telha, apropriam-se de áreas públicas, estrangulam e enchem de obstáculos os passeios dos pedestres.
A selvageria ganha volume e amplia seu impacto quando se trata de grandes construtores. Eles têm acesso direto a vereadores e a autoridades do Executivo, financiam campanhas, influenciam soberbamente a feitura das legislações que lhes interessem. Sabem que a via da corrupção está aberta em caso de necessidade. Aberta e incentivada pelo mesmo círculo de relações no poder.
Fraudes milionárias descobertas com facilidade pela corregedoria da gestão Fernando Haddad (PT) indicam o grau de acomodação e acobertamento mútuo que prevalecia entre corruptores e autoridades --algumas eleitas; outras, servidores de carreira, alçadas a postos de confiança por meio de indicações políticas.
O prefeito terá interesse de puxar todos os caranguejos desse saco? Sairão os mais graúdos, as carapaças coruscantes que, na vereança, na prefeitura e em empresas, há décadas imprimem o urbanismo de fato na capital? A iniciativa irá até o ponto de enfrentar lobbies como o que torpedeia a limitação de vagas de garagem em edifícios providos de boa infraestrutura de transporte público?
A percepção de um recuo nesse flanco seria deletéria para um prefeito já precocemente desgastado.
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