FOLHA DE SP - 27/11
SÃO PAULO - Em 2009, o MEC reformulou o Enem, introduzindo uma nova metodologia para elaborá-lo - a TRI - e passou a utilizá-lo como um vestibular nacional para as universidades federais.
Foram mudanças importantes. A TRI, acrônimo para Teoria da Resposta ao Item, trouxe um pouco de ciência para as avaliações. Seus modelos matemáticos permitem comparar alunos submetidos a provas diferentes e o desempenho de um mesmo estudante ao longo do tempo. A unificação do processo seletivo, com o advento do Sisu, um leilão eletrônico para alocar vagas segundo o desempenho de cada candidato, permite um aproveitamento muito melhor da rede de instituições federais.
Temo, porém, que o MEC tenha ido com muita sede ao pote e tenha empurrado para o Enem mais funções do que o exame é capaz de suportar. Além do mencionado, a prova vem sendo usada para certificar a conclusão do ensino médio (a antiga madureza), para alocar bolsas do ProUni, para avaliar escolas públicas e privadas e até para decidir quem vai passar uma temporada no exterior no Ciência sem Fronteiras.
É difícil pôr no mesmo teste aquilo que é necessário para desempatar dois candidatos ultrapreparados que disputam uma vaga no curso de medicina, por exemplo, e os conhecimentos básicos que se exigem do sujeito que só quer o diploma do ensino médio. O resultado são provas ultralongas que prejudicam os estudantes pelo cansaço a que os submetem.
Pior ainda quando o mesmo exame é usado também para avaliar instituições. Aí as incompatibilidades não são apenas de nível como de filosofia. Uma coisa é medir as competências do aluno e outra muito diferente aferir a qualidade da escola, objetivo que fica ainda mais difícil quando se considera que só fazem o teste os alunos que o desejam.
Ao contrário da palha de aço, devemos desconfiar de uma prova que proclame ter 1001 utilidades.
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