O GLOBO - 22/10
À sombra dos bancos centrais, a colombiana InterBolsa, com sucursal no Brasil, construiu pontes para o narcotráfico mexicano no mercado de capitais
Com discrição, na quinta-feira 10 de outubro o Banco Central comunicou ao governo da Colômbia o cancelamento do registro da corretora brasileira do grupo colombiano InterBolsa, responsável pela gestão de US$ 5 bilhões em investimentos de 40 mil clientes em nove países — sete mil no Brasil e três mil nos Estados Unidos.
O governo brasileiro agiu dez meses depois do colapso da matriz em Bogotá, na esteira de fraudes com ações e lavagem de dinheiro. O governo colombiano liquidou o grupo no início deste ano, interveio em 30 empresas e socorreu outras 28 com dinheiro público — “para evitar risco sistêmico”, justificou o presidente Juan Manuel Santos.
InterBolsa era a joia do conglomerado construído por três famílias (Jaramillo, Ortiz e Leyton) influentes na praça colombiana. Seus interesses se espraiavam pela agricultura, indústria, aviação e chegavam ao futebol (Millionarios F. C.).
Jaramillo, Ortiz e Leyton faziam parte da elite do mercado financeiro brasileiro desde 2010, quando adquiriram uma das maiores corretoras nacionais (Finabank). Montaram sede na Avenida Faria Lima, em São Paulo, receberam várias certificações da BM&F/Bovespa (Qualificação Operacional, Execution Broker, Agro Broker e Home Broker etc.) e fizeram acordos com o Banco do Brasil para negociar ações brasileiras no exterior.
O império ruiu em novembro de 2012 quando foi percebida a manipulação nos preços de ações da têxtil Fabricato, vendida por US$ 45 milhões a um grupo brasileiro. Elas subiram 350% no espaço de 18 meses. A onda de choque foi amplificada com a descoberta de negócios em “pirâmide” — modalidade de golpe formulada por Carlo Ponzi na Nova York de 1919 e ali renovada oito décadas depois por Bernard Madoff (Ponzi morreu como indigente no Rio e Madoff cumpre 150 anos de prisão por detonar a crise bancária mundial de 2008).
O caso de Jaramillo, Ortiz e Leyton vai além, segundo investigações da Receita dos Estados Unidos (IRS, na sigla em inglês) e da Procuradoria da Colômbia. Eles construíram pontes no mercado de capitais do continente para a lavagem de dinheiro do Cartel de Sinaloa, facção dominante no narcotráfico mexicano. As provas foram coletadas pelo agente do IRS Kurt Evan Hartwell e corroboradas pelo procurador colombiano Eduardo Montealegre, com a colaboração de Carlos Eduardo Leyton, sócio da InterBolsa.
O cartel controla a distribuição de drogas em 78 cidades americanas. É comandado por Joaquín “Chapo” Guzmán, de 56 anos. Desde a morte de Osama bin Laden, ele se destaca no topo da lista de procurados pelo FBI. EUA e México oferecem US$ 35 milhões por sua cabeça.
Ainda não se conhece a extensão das tenebrosas transações com o dinheiro de El Chapo em bolsas de valores do continente. É certo que ocorreram a despeito da celebrada vigilância dos bancos centrais, inclusive do Brasil. Também é certo que essa leniência costuma ter um custo político alto para os governos — como já percebeu o presidente colombiano Juan Manuel dos Santos em sua campanha pela reeleição no ano que vem.
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