FOLHA DE SP - 04/10
CINGAPURA - Em tradução livre, a explicação de Lula e Dilma para os protestos de junho foi que, quanto mais o povo tem, mais quer.
Faz sentido e é justamente uma das grandes preocupações em Cingapura, que tem tanto dinheiro que o desperdiça em extravagâncias.
Tão pequenino, o país nem tem voos domésticos, mas exibe um aeroporto com capacidade para 66 milhões de passageiros/ano. Os habitantes são só 5,4 milhões...
Os três terminais, acarpetados, têm shopping center, supermercado, piscina, tobogã, chuveiros e cinemas grátis para passageiros em conexão. Os jardins são imensos e há até um viveiro de borboletas!
Com dinheiro aos borbotões e alta qualidade de vida, como será o futuro? A economia tem bases sólidas, mas a pressão migratória é forte e há indagações de ordem política.
Uma delas é o que vai acontecer quando saírem de cena o grande líder Lee Kuan Yew, 90, e seu filho mais velho, Lee Hsien Loong, 61, atual primeiro-ministro. O regime, muito particular, funciona com eles. E sem eles? Para os governistas, a palavra-chave é planejamento e todas as estratégias para 10, 20 e até 40 anos já estão traçadas e em execução. Ninguém teria como interrompê-las. Mas nunca se sabe.
Há também a tensão de um país rico, com indústria forte, tecnologia e ambição, mas enclausurado no seu próprio território, sem ter para onde correr, ou crescer. De aterro em aterro, já ganhou uns 10% de área, mas esse recurso artificial tem limite.
Se Cingapura tem dinheiro, e não terra, é cercado de países com terra, mas sem dinheiro. Aventuras bélicas estão fora de cogitação, apesar de cerca de 7% do PIB ir para a defesa, do serviço militar obrigatório de dois anos e da frota de jatos americanos. Mas as formas modernas de cooptação e ocupação silenciosa são outras, via bondades, programas e investimentos.
O "soft power" de Cingapura na Ásia ainda é sutil, mas tende a crescer.
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