domingo, outubro 27, 2013

Pergunte ao candidato - VINICIUS TORRES FREIRE

FOLHA DE SP - 27/10

Presidenciáveis se arriscam a dizer generalidades sobre economia: convém apertá-los sobre o tema


FAZ DUAS SEMANAS, os pré-candidatos a presidente desandaram a dizer generalidades inócuas sobre política econômica. Como a nossa lista de problemas cabeludos é comprida e a escolha dos candidatos está a menos de nove meses, conviria ajudá-los a parir umas respostas.

"Responsabilidade fiscal" e "privatização" foram expressões que fervilharam em conversas dos pré-candidatos como o caso dos Beagles e do casamento de Grazi e Cauã nas redes insociáveis.

Pois bem. Um caso de estatização com pouca responsabilidade fiscal é o do crédito nos governos do PT: o crescimento dos empréstimos dos bancos públicos. De quebra, o assunto diz respeito às finanças das maiores empresas do país, que tomam empréstimos baratinhos dos bancos estatais.

O que os pré-candidatos farão a respeito? Fechariam a torneira de dinheiro para os bancos públicos (alimentada a dívida pública cara, que vira empréstimo barato, daí a sangria fiscal, do dinheiro do governo)?

Lula 2 e Dilma Rousseff estatizaram parcela grande do crédito bancário, do total dos empréstimos na economia. Trocando em miúdos, o governo tomou dinheiro emprestado e o colocou nos bancos públicos, que assim puderam emprestar mais a empresas e pessoas físicas. "Colocou", entenda-se, em vez de "emprestou", pois não se sabe quando, se e como esse dinheiro voltará.

Em 2008, pouco antes do estouro da crise, os bancos públicos tinham quase 34% do total dos empréstimos. A fim de atenuar o tumulto de 2008, o governo decidiu, então de modo razoável, vitaminar os estatais. Mas o que era medida de emergência acabou virando "neodesenvolvimentismo": a fatia dos estatais chegou a 42%, ao fim de Lula 2.

Como a economia andava lerda e Dilma Rousseff queria dar um traulitada nos bancos privados e nos juros altos, o governo deu mais vitamina aos bancos estatais. Em junho, os estatais passavam a ter mais de 50% no crédito. É mais ou menos como se o governo tivesse comprado um banco do tamanho de Itaú ou Bradesco.

Os juros caíram um pouco, as margens dos bancos privados ficaram apertadas e eles tiveram de enxugar custos para manter a rentabilidade. A economia deve ter crescido um tico mais por causa disso. O problema é o custo. Valeu?

O governo de FHC (1995-2002), do PSDB, privatizara parte do crédito, que era 57% público quando estreou o Plano Real (1994). Federalizou e privatizou bancos estaduais escandalosamente quebrados. Fez dívida também para arrumar essa bagunça e a de bancos como o Banco do Brasil.

Privatizações e cabrestos nos estatais levaram a participação dos bancos públicos no crédito a 37% no final de 2002. Mal ou bem, foi um feito da era FHC, colocar ordem nas contas dos Estados.

Vitaminar bancos públicos custa caro. Submetê-los a dieta vai, a princípio, encarecer e limitar o crédito, obrigando o governo a inventar soluções espertas e difíceis para o financiamento via mercado, o que exige mais aperto na despesa pública, ora no limite.

Os pré-candidatos, porém, dizem que vão dar mais dinheiro para Estados e municípios, críticos que são da "centralização" de poder e recursos na União. É outra conta que não fecha. Mas essa história fica para outro dia.

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