O GLOBO - 02/09
Professores públicos do Rio voltaram a paralisar as atividades em sala de aula durante boa parte do mês passado, numa greve pautada, mais uma vez, por reivindicações salariais — ainda que outras questões, não econômicas, mas adjacentes à Educação, tenham, como sempre, encorpado a pauta de “lutas” da categoria. Mobilizar-se por melhoria de vencimentos está entre os direitos assegurados a todos os trabalhadores. Mas a constância com que o magistério recorre a greves para pressionar o poder público a abrir o cofre leva à inescapável conclusão de que algo está fora de ordem em movimentos que, pontualmente, tomam os alunos como reféns das paralisações, restringindo-lhes o direito — a eles assegurado como aos mestres o de brigar por remunerações mais altas — à educação.
Disso decorre que os professores precisam reavaliar, com a consciência que se deve esperar de responsáveis pela formação educacional de crianças e jovens, a recorrente opção unilateral de fechar escolas como forma de pressionar os governos. Greves desse tipo levam a uma dinâmica de enxugar gelo: obtêm-se ganhos eventuais e, decorrido algum tempo, volta-se a parar as escolas por novas reivindicações econômicas. É um movimento que não desfaz os verdadeiros nós da Educação.
Os problemas do ensino público são mais abrangentes. Superá-los implica esforços e sacrifícios de duas das três pontas diretamente envolvidas na questão, professores e governo. Nisso, o magistério tem de avançar além da pauta econômica.
Não tem sido assim. Uma vez resolvidas as pendências econômicas, esquecem-se as questões adjacentes. Pior: quando confrontadas com iniciativas públicas ligadas à formação profissional, pré-condição para a melhoria do ensino, as reações das entidades representativas do magistério costumam ser desanimadoras. O caso mais evidente de uma rejeição que vai ao boicote relaciona-se com a meritocracia. Apesar de beneficiar professores (por lhes estimular o empenho na própria formação e na produtividade) e alunos (por decorrência do maior comprometimento dos mestres com o ensino), esse instituto é objeto de críticas oriundas de conhecidos bolsões corporativistas.
Em sistemas nos quais a meritocracia (cumprimento de metas como um dos critérios para conquistas salariais) foi adotada os resultados são visíveis. Escolas de Minas, Pernambuco e mesmo do município do Rio apresentaram mudanças positivas na qualidade do ensino — em paralelo com o aumento dos ganhos salariais de seus professores. Em Washington, ações similares estão diretamente relacionadas à descoberta de grupos de excelência nas salas de aula.
Questões como essas fazem parte de uma discussão sobre o ensino público que deve ser mais abrangente. Lutar, na prática, por melhorias salariais epidérmicas empobrece a a agenda do magistério, cujo compromisso com a Educação precisa avançar além do horizonte raso dos interesses corporativos.
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