O GLOBO - 14/08
A vontade de entender o que está acontecendo no país desde as passeatas de junho tem se manifestado através de artigos e ensaios, mas também por meio de palestras e mesas-redondas. Só esta semana houve dois encontros: um na segunda-feira à noite como parte do projeto OsteRio e outro ontem de manhã na Casa do Saber. Como tenho mais perguntas do que respostas sobre o momento político, assisti ao que teve como principal tema a Mídia Ninja, e participei do que tratou da mobilização jovem. No primeiro, debateu-se o papel desse coletivo de jornalistas que se destacou transmitindo ao vivo as manifestações de rua de dentro dos acontecimentos e com exclusividade, já que os repórteres da imprensa tradicional foram hostilizados e impedidos de trabalhar.
Como não disponho de espaço para resumir as muitas horas de discussões, limito-me a fornecer minhas conclusões a partir do que ouvi. A principal é que entusiastas da Ninja (Narrativas Independentes, Jornalismo e Ação) saúdam o fenômeno como um “novo jornalismo”, ou melhor, “pós-jornalismo”, dando a impressão de que a imprensa acaba de ser inventada. No entanto, o “mídia ativismo” que reivindicam, ou seja, o direito à parcialidade e ao engajamento já era moda quando comecei na profissão nos anos 50. Deixaram de ser, e isso a meu ver foi um avanço. Também não acredito em isenção — como já dizia Goddard, a câmera ou é de direita ou de esquerda —, mas nossa obrigação é persegui-la. Não sinto saudades do tempo em que era comum o jornal pertencer a um partido, assim como não concordo que o papel da mídia seja “ativar desejo” (na terra do Ancelmo, o que ativa desejo é... deixa pra lá).
No debate de ontem, em que a maioria era formada por jovens, muitos da periferia, pude corrigir algumas impressões da véspera. Graças a uma plateia incrivelmente bem informada e aos esclarecimentos de uma garota Ninja articuladíssima na mesa, pude constatar que, para além da má vontade de parte a parte, da Ninja em relação à mídia tradicional e vice-versa, vale a pena considerar que essas práticas são ou devem ser complementares, são tecnologias convergentes e não antagônicas. Os Ninjas não inventaram o jornalismo e também não vão acabar com ele. A seu favor, porém, o fato de que, apesar dos possíveis equívocos e da inocente presunção, eles tiveram o mérito de fazer com a imprensa o que as manifestações fizeram com a política: refletir sobre si mesma.
Um pouco como esses novos atores da cena nacional fizeram ontem com este velho jornalista — ou “pós-jornalista”?
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